segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Conflitos de gerações

Alguns pais e mães de nosso tempo possuem princípios e valores que muitas vezes conflitam com os que são apresentados aos filhos pela mídia, pelos colegas e até mesmo pela escola. Porém, sentem-se impotentes para lutar contra a corrente, e então acabam por abandonar essas convicções. Pior ainda, muitas vezes traem a própria consciência para evitar conflitos e para não perder a amizade que julgam ter com os filhos. Mas será que eles de verdade esperam isso dos pais?
Penso que somente conseguiremos formular uma resposta cabal a essa indagação se partirmos da constatação de que nem tudo é relativo. Há verdades absolutas e imutáveis em relação ao ser humano, ao sentido da vida, à família, ao matrimônio etc., que não são fruto do mero consenso, mas decorrem da própria natureza humana. Assim, quando surgem os conflitos, decorrentes de pontos de vista diferentes entre pais e filhos, é necessário saber distinguir aquilo que, em consciência, não se pode ceder, daquilo que é simplesmente opinável e não comporta uma única resposta nem tampouco há uma verdade absoluta.
Por exemplo, muitos conflitos inúteis poderiam ser evitados com relação ao uso dos brincos e dos cabelos longos nos homens, as tatuagens, o piercing etc. São costumes que variam de acordo com o tempo, com a sociedade e com o contexto histórico. Por outro lado, os pais que encontraram um sentido profundo para suas vidas e, por consequência, possuem convicções sólidas sobre a inviolabilidade da vida humana desde a concepção, a natureza perene do matrimônio ou a importância da família para a criação e educação dos filhos, não têm que abandonar essas convicções simplesmente por não estarem mais “na moda”.
Muitas das rebeldias dos jovens e adolescentes, que os levam a contestar os nossos valores, não visam fazer com que mudemos o nosso modo de pensar, mas simplesmente estão a testar a profundidade de nossas convicções, bem como a coerência delas em nossas vidas, para que estejam seguros da sua veracidade, e então possam também abraçá-las em suas próprias vidas.
Soube de uma divergência que surgiu entre um pai e o seu filho, que se encontrava no primeiro ano do curso universitário. O filho pensava em morar com a namorada que conhecera havia cerca de três semanas. O pai lhe expôs o que pensava sobre o casamento, dizendo que é uma doação que se faz da própria pessoa ao outro e que abarca a totalidade da vida dos cônjuges. Nesse sentido – sustentava o pai – a decisão de formar um lar é, de certo modo, o ponto culminante do namoro e não o seu ponto de partida. O filho ouviu e respondeu: “Bem, pai, isso é assim para você. Eu penso diferente...”. Mas o pai não se deu por vencido e disse:

“Respeito a sua opinião, ainda que não me tenha dado um argumento sólido, além do simples desejo de ‘curtir esse relacionamento’”. E depois prosseguiu: “Imaginemos um grande edifício. Ele é sustentado por umas bases de concreto lançadas no subsolo. Se os tijolos, as portas e as janelas se voltarem contra elas e disserem que a solidez do prédio não depende delas, estariam equivocados, por mais que digam o contrário. E isso não é relativo, nem depende do ponto de vista... Mas o pior é se as próprias bases passassem a pensar que o conjunto não depende delas e resolvessem abandonar o seu posto... O que aconteceria com a construção? Pois bem, filho, por mais que você discorde, não estou disposto a deixar o meu posto. Afinal, estou convencido de que a sua felicidade, a sobrevivência da nossa sociedade e da humanidade inteira depende, em grande medida, de que os pais e mães saibam desempenhar com valentia o papel que lhes cabe, ainda que nadem contra a corrente, ainda que o mundo todo pareça desabar sobre si”.

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