Alguns pais e mães de nosso tempo possuem princípios
e valores que muitas vezes conflitam com os que são apresentados aos filhos
pela mídia, pelos colegas e até mesmo pela escola. Porém, sentem-se impotentes
para lutar contra a corrente, e então acabam por abandonar essas convicções.
Pior ainda, muitas vezes traem a própria consciência para evitar conflitos e
para não perder a amizade que julgam ter com os filhos. Mas será que eles de
verdade esperam isso dos pais?
Penso que somente conseguiremos formular uma resposta
cabal a essa indagação se partirmos da constatação de que nem tudo é relativo.
Há verdades absolutas e imutáveis em relação ao ser humano, ao sentido da vida,
à família, ao matrimônio etc., que não são fruto do mero consenso, mas decorrem
da própria natureza humana. Assim, quando surgem os conflitos, decorrentes de
pontos de vista diferentes entre pais e filhos, é necessário saber distinguir
aquilo que, em consciência, não se pode ceder, daquilo que é simplesmente
opinável e não comporta uma única resposta nem tampouco há uma verdade
absoluta.
Por exemplo, muitos conflitos inúteis poderiam ser
evitados com relação ao uso dos brincos e dos cabelos longos nos homens, as
tatuagens, o piercing etc. São
costumes que variam de acordo com o tempo, com a sociedade e com o contexto
histórico. Por outro lado, os pais que encontraram um sentido profundo para
suas vidas e, por consequência, possuem convicções sólidas sobre a
inviolabilidade da vida humana desde a concepção, a natureza perene do
matrimônio ou a importância da família para a criação e educação dos filhos,
não têm que abandonar essas convicções simplesmente por não estarem mais “na
moda”.
Muitas das rebeldias dos jovens e adolescentes, que
os levam a contestar os nossos valores, não visam fazer com que mudemos o nosso
modo de pensar, mas simplesmente estão a testar a profundidade de nossas
convicções, bem como a coerência delas em nossas vidas, para que estejam
seguros da sua veracidade, e então possam também abraçá-las em suas próprias
vidas.
Soube de uma divergência que surgiu entre um pai e o
seu filho, que se encontrava no primeiro ano do curso universitário. O filho
pensava em morar com a namorada que conhecera havia cerca de três semanas. O
pai lhe expôs o que pensava sobre o casamento, dizendo que é uma doação que se
faz da própria pessoa ao outro e que abarca a totalidade da vida dos cônjuges.
Nesse sentido – sustentava o pai – a decisão de formar um lar é, de certo modo,
o ponto culminante do namoro e não o seu ponto de partida. O filho ouviu e
respondeu: “Bem, pai, isso é assim para você. Eu penso diferente...”. Mas o pai
não se deu por vencido e disse:
“Respeito a sua opinião, ainda que não me tenha dado
um argumento sólido, além do simples desejo de ‘curtir esse relacionamento’”. E
depois prosseguiu: “Imaginemos um grande edifício. Ele é sustentado por umas
bases de concreto lançadas no subsolo. Se os tijolos, as portas e as janelas se
voltarem contra elas e disserem que a solidez do prédio não depende delas, estariam
equivocados, por mais que digam o contrário. E isso não é relativo, nem depende
do ponto de vista... Mas o pior é se as próprias bases passassem a pensar que o
conjunto não depende delas e resolvessem abandonar o seu posto... O que
aconteceria com a construção? Pois bem, filho, por mais que você discorde, não
estou disposto a deixar o meu posto. Afinal, estou convencido de que a sua
felicidade, a sobrevivência da nossa sociedade e da humanidade inteira depende,
em grande medida, de que os pais e mães saibam desempenhar com valentia o papel
que lhes cabe, ainda que nadem contra a corrente, ainda que o mundo todo pareça
desabar sobre si”.
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