segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O irmão mais novo

Há algumas semanas comentamos, nesta coluna, os recentes resultados do censo divulgados pelo IBGE. E um dado que desperta a atenção é a drástica redução na taxa de fecundidade no Brasil, que está abaixo do índice de reposição populacional. A persistir essa tendência, a nossa população começará a diminuir e, como uma das consequências desse fenômeno, já está envelhecendo.
Cabe ao casal – e a mais ninguém – decidir sobre o número de filhos que terão. O Estado não pode jamais interferir nesta decisão, obstar ou dificultar seu exercício sem atentar contra esse direito inato dos pais e das famílias.
Mas uma decisão tão importante como essa para a família e para a sociedade deve estar embasada em critérios seguros, que promovam a dignidade da pessoa humana.
Quando se fala em paternidade responsável, quase que intuitivamente nos vem à mente o controle da natalidade, especialmente nas famílias de baixa renda. De fato, pode haver uma atitude irresponsável dos pais que têm filhos sem assegurar um mínimo de condições econômicas para lhes prover o sustento. Independentemente da renda, a irresponsabilidade pode manifestar-se numa falta de disposição efetiva de educá-los com esmero até atingirem a vida adulta. Mas, não será também uma irresponsabilidade dos pais abastados que optam por ter um único filho para entupi-los de presentes, eletrônicos e viagens como paliativos para suprir a sua ausência, substituindo a educação que deviam dar pelos cuidados de babás, berçários, colégios etc.?
São muitos os fatores que os pais têm de considerar ao tomar essa decisão. Mas não deveriam ignorar o que os próprios filhos pensam a respeito. Outro dia, organizando umas gavetas, encontrei uma antiga redação de um dos meus filhos que vale a pena ser lida e meditada:
O que é um irmão mais novo?
Inimigo que não consegue se separar de você e, ao mesmo tempo, amigo que não consegue ficar junto, um irmão mais novo é uma chatice quando você está com raiva, um tesouro quando você está solitário.
Ele pode até servir de saco de pancadas às vezes, mas é a melhor coisa do mundo.
Você pode o encontrar zombando de você, falando mal de você, de suas características..., mas sempre está comentando sobre o irmão mais velho.
Ajudá-lo na lição de casa, ensiná-lo truques para o jogo de futebol, são coisas típicas que você vai ter que fazer para ele; às vezes irrita, mas depois você se sente orgulhoso de ele tirar notas altas ou se dar bem no futebol, porque você o auxilia, depois da mãe ou do pai.
O irmão é um tesouro. Tem a disposição de brincar com você a hora que você quer (quando não estão brigados). Quando ele vai bater papo, pode dormir que a conversa nuca mais termina...
O irmão é a beleza fazendo xixi na cama, a verdade toda vez indo à diretoria, a sabedoria só te irritando. Mas quando termina a aula, você pensando que o vai matar, com aquela dor de cabeça de semana de provas, quatro palavras dele levam você do inferno ao céu: “E ai mano, beleza?”.
Ouvi certa vez umas simples e sábias palavras atribuídas à Madre Tereza de Calcutá: “Paternidade responsável é ter filhos e educá-los”. De fato, sem filhos, não há paternidade. E, se não são educados com esforço e dedicação, não há responsabilidade da parte dos pais.

Depois dessas considerações talvez possamos ainda nos questionar: mas qual é a medida para isso? Evidentemente não encontraremos a resposta em meros números: um, dois, cinco, dez... Talvez a encontremos, porém, em nossas convicções acerca da própria vida. Com efeito, se a encaramos como um tempo de que dispomos para desfrutar, para extrair dela o máximo de proveito que pudermos, os filhos serão, muitas vezes, obstáculos que nos impedem de “curtir a vida”. No entanto, se essa nossa breve existência for considerada como um imenso dom, a ser desfrutado sim, mas, sobretudo, a ser vivido em benefício dos outros, encontrando precisamente nisso a felicidade, então é natural que se queira compartilhar tão imensa alegria com outros seres, cuja existência depende da nossa generosidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário