Um dia desses, após tirar uma fotografia, minha filha
correu para ver como havia saído sua imagem. Enquanto ela analisava, pensei em
voz alta: “Filha, imagine se você tivesse de aguardar revelar a foto para ver
como saiu...”. Então ela quis saber o que significa revelar uma fotografia.
Para que ficasse mais clara a explicação, procurei alguns filmes antigos e
mostrei-lhe algumas fotografias antigas.
Sem que houvéssemos programado, aquilo se transformou
num momento de convívio familiar muito agradável. As recordações afloraram
muito vivas, num misto de saudade e felicidade. A certa altura, alguém pediu
que contasse um acontecimento engraçado de quando eram crianças. Sem pensar
muito, lembrei-me de um:
Eu e minha esposa fazíamos um curso de orientação
familiar e, dentre os temas tratados, aprendemos como fomentar as virtudes dos
filhos. Decidimos, então, que poderíamos ajudar o nosso segundo filho a crescer
na virtude da fortaleza. No dia seguinte já surgiu uma oportunidade. Enquanto
trocava a fralda do caçula, aproximou-se o nosso protagonista, dizendo:
- Papai, o que está fazendo?
- Estou trocando a fralda do seu irmãozinho, filho.
Por falar nisso, lembra-se da conversa que tivemos ontem?
- Lembro sim, papai.
- Então, quem é verdadeiramente forte? –
Perguntei-lhe.
- É quem faz o que é bom e o que é certo e não apenas
o que a gente gosta – disse ele com a resposta na ponta da língua.
- Muito bem! Então vamos ver se você consegue fazer
uma coisa. Por favor, leve essa fralda do seu irmão até o lixo.
É preciso dizer que na fralda não havia apenas xixi,
de modo que o cheiro não era nada agradável. Apesar da sua repugnância inicial,
tomou aquele plástico fechado e mal cheiroso e saiu decididamente. Passado
pouco tempo, voltou triunfante, com ar de vitória. Ao ver sua satisfação, não
contive o elogio:
- Muito bem! Agora sim mostrou que você é de verdade
muito forte.
Outro filho, o terceiro, que então contava com cerca
de três anos, assistiu toda a cena. Ele não resistiu à dúvida que o incomodava,
de modo que resolveu perguntar:
- Pai, cheirar cocô de nenê dá energia?
Foi uma gargalhada geral.
Ao fazer esse relato, estou certo de que muitos
leitores também se lembrarão de momentos entranháveis e felizes em suas vidas.
E é bom recordá-los algumas vezes.
Dizem que o que sustenta o casamento é a qualidade
dos momentos que se passam juntos. Mas a qualidade desses momentos não se mede
pelo fato de terem sido necessariamente alegres. Muitas vezes, fatos em si
ruins, como a perda de um ente querido, se foram compartilhados com amor, cada
um amparando o outro, será ocasião de unir o casal. De igual modo, fatos que poderiam
ser agradáveis, como uma viagem, pode ser ocasião de desunião, especialmente se
cada um a faz preocupado consigo mesmo, esquecendo-se de buscar o que agrada o
outro.
Dir-se-á – e com razão – que o casamento se sustenta
pela vontade firme e decidida de honrar o compromisso assumido reciprocamente.
É verdade. Mas a sinceridade desse compromisso se manifesta nos pequenos gestos
do dia-a-dia. Trata-se de procurar agradar o outro em pequenos detalhes, como
saber preparar um jantar que agrade o marido, ou surpreender a esposa com
pequenos presentes ou levando-a para fazer um passeio que lhe agrada.
A vida de família bem pode parecer a um desses baús em
que se guardam os álbuns de fotografias. Nele colocamos todos os acontecimentos
de nossas vidas. Sejam eles tristes ou alegres, se os vivemos com os olhos
postos em fazer o bem do outro, surgirão laços tão estreitos e fortes que nada
os poderá romper. Mais ainda, serão eles a rocha firme sobre a qual edificamos
a nossa felicidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário