segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Retratos de família

Um dia desses, após tirar uma fotografia, minha filha correu para ver como havia saído sua imagem. Enquanto ela analisava, pensei em voz alta: “Filha, imagine se você tivesse de aguardar revelar a foto para ver como saiu...”. Então ela quis saber o que significa revelar uma fotografia. Para que ficasse mais clara a explicação, procurei alguns filmes antigos e mostrei-lhe algumas fotografias antigas.
Sem que houvéssemos programado, aquilo se transformou num momento de convívio familiar muito agradável. As recordações afloraram muito vivas, num misto de saudade e felicidade. A certa altura, alguém pediu que contasse um acontecimento engraçado de quando eram crianças. Sem pensar muito, lembrei-me de um:
Eu e minha esposa fazíamos um curso de orientação familiar e, dentre os temas tratados, aprendemos como fomentar as virtudes dos filhos. Decidimos, então, que poderíamos ajudar o nosso segundo filho a crescer na virtude da fortaleza. No dia seguinte já surgiu uma oportunidade. Enquanto trocava a fralda do caçula, aproximou-se o nosso protagonista, dizendo:
- Papai, o que está fazendo?
- Estou trocando a fralda do seu irmãozinho, filho. Por falar nisso, lembra-se da conversa que tivemos ontem?
- Lembro sim, papai.
- Então, quem é verdadeiramente forte? – Perguntei-lhe.
- É quem faz o que é bom e o que é certo e não apenas o que a gente gosta – disse ele com a resposta na ponta da língua.
- Muito bem! Então vamos ver se você consegue fazer uma coisa. Por favor, leve essa fralda do seu irmão até o lixo.
É preciso dizer que na fralda não havia apenas xixi, de modo que o cheiro não era nada agradável. Apesar da sua repugnância inicial, tomou aquele plástico fechado e mal cheiroso e saiu decididamente. Passado pouco tempo, voltou triunfante, com ar de vitória. Ao ver sua satisfação, não contive o elogio:
- Muito bem! Agora sim mostrou que você é de verdade muito forte.
Outro filho, o terceiro, que então contava com cerca de três anos, assistiu toda a cena. Ele não resistiu à dúvida que o incomodava, de modo que resolveu perguntar:
- Pai, cheirar cocô de nenê dá energia?
Foi uma gargalhada geral.
Ao fazer esse relato, estou certo de que muitos leitores também se lembrarão de momentos entranháveis e felizes em suas vidas. E é bom recordá-los algumas vezes.
Dizem que o que sustenta o casamento é a qualidade dos momentos que se passam juntos. Mas a qualidade desses momentos não se mede pelo fato de terem sido necessariamente alegres. Muitas vezes, fatos em si ruins, como a perda de um ente querido, se foram compartilhados com amor, cada um amparando o outro, será ocasião de unir o casal. De igual modo, fatos que poderiam ser agradáveis, como uma viagem, pode ser ocasião de desunião, especialmente se cada um a faz preocupado consigo mesmo, esquecendo-se de buscar o que agrada o outro.
Dir-se-á – e com razão – que o casamento se sustenta pela vontade firme e decidida de honrar o compromisso assumido reciprocamente. É verdade. Mas a sinceridade desse compromisso se manifesta nos pequenos gestos do dia-a-dia. Trata-se de procurar agradar o outro em pequenos detalhes, como saber preparar um jantar que agrade o marido, ou surpreender a esposa com pequenos presentes ou levando-a para fazer um passeio que lhe agrada.

A vida de família bem pode parecer a um desses baús em que se guardam os álbuns de fotografias. Nele colocamos todos os acontecimentos de nossas vidas. Sejam eles tristes ou alegres, se os vivemos com os olhos postos em fazer o bem do outro, surgirão laços tão estreitos e fortes que nada os poderá romper. Mais ainda, serão eles a rocha firme sobre a qual edificamos a nossa felicidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário