Ontem
celebramos a Páscoa. Muitos de nós talvez nos perguntemos: qual é o sentido
dessa festa? Será uma oportunidade para nos deliciarmos com ovos de chocolate?
Ou, além disso, terá ela também um sentido cristão? Independentemente da religião,
haverá algo que podemos aprender com essa celebração?
Penso
que as celebrações são imprescindíveis para o ser humano. Nossa vida é um
ciclo. Nela se alternam dias e noites, inverno e verão, outono e primavera,
dias de sol e dias de chuva, momentos felizes e momentos tristes, dias normais
e dias festivos. Um dia de festa, nesse sentido, quebra a rotina para celebrarmos
algo. No fundo, o bom da celebração é a convivência com quem amamos e com quem
compartilhamos nossos projetos, sonhos, enfim, a nossa própria vida.
Há muito
que se pode fazer para fortalecer os vínculos familiares, tornando mais alegre
e amável a vida em família. Nisso se insere muito especialmente o saber
comemorar juntos. Lembro-me de uma festa de aniversário de um dos meus filhos.
Naquela época passávamos por um aperto econômico e decidimos não fazer festa
para os amigos. Apesar disso, minha esposa arrumou com imenso carinho o
apartamento e preparou um bolo. Ao chegarmos a casa, foi para o aniversariante
uma enorme e agradável surpresa. Somente os pais e os irmãos – que já não eram
poucos – participaram da festa. Num dado momento, em que todos brincavam
descontraidamente, ele me deu um caloroso abraço e me disse: “Papai, estou
muito feliz!”.
Uma
vez assistimos a um programa infantil, “Castelo Rá-Tim-Bum”. O episódio do dia
se chamava Gincana de Páscoa. Os ovos ficavam escondidos e o Nino, personagem
do seriado, teria de encontra-los num determinado tempo, pois do contrário os
perderia. Seguimos a ideia e, desde então, toda Páscoa tem de ter a “gincana”.
Parece uma bobagem, mas isso passa a fazer parte da vida das crianças e da
história da família. Reforça os laços e fomenta um convívio saudável e
amistoso. E, com o tempo, quantas boas lembranças...
Mas a
vida em família não se resume a festas e comemorações. A grande maioria do
nosso tempo se passa no ordinário, no comum de cada dia. Por isso é
especialmente importante saber construir também nesses momentos uma saudável
convivência. E o segredo para isso não está em realizar grandes façanhas, mas
no cuidado nos pequenos detalhes. Trata-se, por exemplo, de se esforçar por
trazer notícias agradáveis para comentar com a esposa, marido e filhos. Que a
família tenha ao menos uma refeição do dia com todos juntos, com a TV e o
computador desligados e, se possível, que os celulares também não desviem
nossas atenções... Sei de alguns pais que fizeram a experiência de manter
alguns minutos de descontraída conversa após o jantar. É fantástico notar como
isso propicia a construção de um lar verdadeiramente feliz.
Compartilho
com o leitor a grande alegria que o meu filho, de sete anos, nos proporcionou
outro dia. Enquanto estávamos numa igreja, quis ele escrever uma dessas
anotações de intenções que se depositam numa urna. E ele não se incomodou em mostrar
o seu pedido: “Senhor, que o meu irmãozinho que acaba de nascer traga muitas
alegrias para nossa família”. Penso que um grande segredo para aproveitarmos
bem cada momento de nossas vidas é aprender a fazê-lo com a simplicidade das
crianças.
Ontem,
hoje e ainda por vários dias comemoramos a Páscoa. A origem da palavra vem de
passagem, que também nos remete para um desejo de vida nova, libertando-nos de
tudo o que nos aprisiona e nos impede de sermos felizes. E muitas vezes os
grilhões que nos acorrentam são o nosso egoísmo, uma correria insana em busca
de satisfação pessoal, de modo que talvez nos esqueçamos da esposa, do marido,
dos filhos, dos pais, dos amigos e de todas as pessoas com quem convivemos. O
gesto de abrir um ovo e, com isso, compartilhar doces alegrias, pode ser um
símbolo do que deveríamos fazer, todos os dias, com o nosso coração: abri-lo
por amor aos demais.
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