Lembro-me de um acontecimento da
infância que me ficou bem marcado na memória. Por solicitação da professora de
ciências, realizamos um trabalho escolar, que consistia em plantar uma semente
de feijão num pedaço de algodão umedecido. Alguns dos meus colegas atenderam ao
pedido com maior prontidão, ao passo que eu o fiz depois de alguns dias. É
claro que o pé de feijão deles nasceu primeiro e, após alguns dias, estavam
maiores que o meu. Talvez desejando compensar o tempo perdido – ou por inveja
mesmo – dispus-me a tentar esticar o caule do meu experimento. Ao cabo de duas
ou três tentativas, a plantinha se rompeu. Com isso, a perda de tempo foi ainda
maior, pois tive de começar a experiência novamente.
Hoje parece absurda aquela ação.
No entanto, talvez seja o que muitas vezes os educadores tentam fazer com os
seus filhos ou alunos: propõem melhoras ou metas a serem atingidas e esperam
que todos correspondam num piscar de olhos. É preciso considerar, porém, que o
desenvolvimento das pessoas, sobretudo das virtudes humanas, precisam de um
tempo. E esse tempo não é uniforme em todos os seres humanos. Ou seja, cada um
tem o seu ritmo.
Por vezes lhes expomos
comportamentos que esperamos deles, como manter em ordem o quarto e o material
escolar, ou estudar e realizar as lições com ordem e constância. No entanto,
quando vemos que não correspondem imediatamente nos impacientamos, talvez com
críticas azedas do tipo “eu já falei mil vezes para...”.
Uma qualidade necessária no bom
lavrador é a paciência. É certo que necessita do zelo para escolher bem a
semente. Depois é necessária a laboriosidade para semear, adubar e cuidar da
frágil plantinha que brota da terra. É preciso, também, estar atento para as
possíveis pragas que matam a lavoura para aplicar o remédio necessário e no
tempo certo. Mas é fundamental saber esperar. A colheita virá no tempo certo. O
sucesso depende do trabalho, mas há inúmeros outros fatores em relação aos
quais não se tem total controle.
Algo de semelhante ocorre na
educação. Ou seja, os pais e professores podem semear boa semente, com palavras
e principalmente com o exemplo. Podem – e devem – cuidar para que cresçam com
saúde e com sólida formação nos valores. Também hão de estar atentos às
possíveis más influências das companhias (das drogas) que podem por tudo a
perder. Com isso, criam condições propícias para que também produzam bons
frutos. Mas não está ao alcance dos pais e dos educadores em geral a certeza do
sucesso nesse empreendimento, pois também aqui agem inúmeros outros fatores em
relação aos quais não se tem controle.
Toda analogia é imperfeita. Com
os avanços da tecnologia no chamado agronegócio os riscos do insucesso na
colheita reduziram enormemente. Na formação dos nossos filhos, porém, nunca
haverá “técnicas” infalíveis que nos assegurem o êxito. E isso porque todo ser
humano nasce com um atributo que lhe é indissociável: a liberdade.
No entanto, paciência não é
sinônimo de omissão. De fato, não está em nossas mãos o sucesso nesse
empreendimento maravilhoso que é a educação dos nossos filhos e alunos. Com
muita frequência escutamos pais mais experientes dizerem aos novatos: “Isso é
apenas uma fase, logo passa”. De fato, há alguns momentos mais difíceis na vida
dos nossos filhos, como ocorre na adolescência. E essas fases passam. Porém, se
empreendemos ações educativas oportunas e no tempo certo proporcionamos os
meios para que possam crescer e adquirir virtudes e não simplesmente “passar de
fase”, quiçá arraigando ainda mais os defeitos.
Temos de considerar, também, que
há sempre um risco na educação. E isso não é motivo para medo e aflição, mas
para formarmos em nós a fortaleza, a confiança e ..., a paciência. A propósito:
“Devemos dar o melhor de nós na educação, mas devemos estar convictos que não
fabricados a personalidade dos nossos filhos, apenas influenciamos. Quem não
quer correr riscos está inapto para educar” (CURY, Augusto. MARIA, A MAIOR EDUCADORA DA HISTÓRIA.
São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007. P. 16).