segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Um sonho

Tudo parecia muito estranho e confuso. O pai saiu desnorteado rumo à escola do filho. O curioso é que o garoto não o acompanhava no banco ao lado do carro. Chegando ao colégio, viu uma grande corrente humana. Era formada por pais e professores que, de mãos dadas, formavam um enorme círculo que dava uma volta abraçando todo o prédio. Seus rostos eram apreensivos e, cabisbaixos, pareciam cada um fazer uma prece com insistente súplica.
E eis que de repente se fez ouvir vozes de jovens entoando uma canção, cujo volume crescente denunciava que se aproximavam. Após alguns segundos já se podia entender:
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola...
Seus passos decididos, os brados fortes com que cantavam e os olhos fixos no porvir denunciavam que estavam muito resolutos a protestar com veemência contra algo, que talvez eles mesmos não soubessem o que fosse. Porém, ao ver seus pais e professores naquela postura o canto cessou e os seus passos se tornaram lentos e vacilantes.
Após uns minutos de silêncio o filho e o aluno passaram por sob os braços dos pais e professores, dirigiram-se ao pé do mastro da bandeira nacional e, em voz alta, começaram a falar em alta voz:
- Até que enfim resolveram se unir! Espero que não seja tarde! Bem se pode notar que precisam de ajuda... Sabe o que mais nos irrita? É vê-los tão medrosos! Por que têm medo de nós? Podemos sentir suas mãos trêmulas com a nossa aproximação, como se fôssemos umas feras que vocês não conseguem domar...
Depois de um breve olhar ao redor, como que querendo conhecer os ouvintes, prosseguiram:
- Sabem o motivo da nossa rebeldia? É que queríamos testar a profundidade e a consistência das suas convicções. Não queríamos que cedessem aos nossos caprichos. Pior, não queríamos tão vacilantes, tão adolescentes... Vocês não precisam imitar nossos trajes, nossa linguagem, nossa gíria para se aproximarem de nós. Queremos pais que sejam pais e professores que sejam professores. Só queríamos vê-los alegres e realizados. Como podem nos inspirar com caras feias, olhar cabisbaixo e ares de derrotados?!
Agora num tom mais sereno e penetrante, prosseguem:
- Em nome de um suposto respeito vocês querem nos ensinar que não há uma só verdade absoluta, que tudo depende do ponto de vista. “Tudo é tão relativo!”, discursam com frequência... Se tudo é relativo que razões absolutas nos mostram para sermos bons? E esse pudor que sentem ao falar de Deus! Também Deus é relativo e tem a cor e a forma que cada um queira Lhe dar? Por que não nos falam de sentido da vida, de amor, de vida eterna?!
Dito isso, entraram na escola. Os demais os acompanharam e tomaram seus lugares na sala de aula. Os professores nunca tiveram uma turma tão atenta. Aguardavam ansiosamente o que lhes diria. Após um suspiro, começou o mestre:
- Lembram-se de quando decidimos retirar o crucifixo aqui da sala? Vejam que suas marcas na pintura ainda permanecem na parede... As gerações que nos antecederam conviveram com os símbolos religiosos, porém, muitas vezes cederam à hipocrisia no relacionamento com Deus. Usavam o crucifixo, participavam de celebrações, deixavam a Bíblia exposta em locais visíveis, mas não viviam de maneira coerente com a sua fé. Nós, porém, em vez de combatermos a hipocrisia, tiramos Deus das suas vidas...
Todos olhavam com tristeza a parede vazia sobre a cabeça do mestre. É como se aquele vazio fosse reflexo do enorme vazio que cada um trazia em seu coração. Mas eis que uma luz se acendeu onde estava o Crucificado. E os que queriam, com um aceno, uma parte daquela luz se desprendia da parede e vinha brilhar o próprio peito. E, com ela, uma alegria inundava as pessoas e o ambiente.
Também os pais foram convidados a participar desse momento de júbilo. Entraram e viram o que havia perdido e que agora foi encontrado. Então selaram um pacto com os professores de não deixar apagar aquela luz, por amor a seus filhos, por respeito a seus alunos.

De repente soou o alarme. São 6:00 horas da manhã. Acordei confuso. E enquanto caminhava para o banheiro balbuciei: “Foi só um sonho!”.

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