segunda-feira, 15 de julho de 2013

A verdade arrancada

Quando os filhos vão crescendo e ganhando autonomia, uma dificuldade de muitos pais é admitir que eles tenham preservada a intimidade. Como consequência disso, há fatos, sentimentos e situações das suas vidas que não temos direito de saber, a menos que eles voluntariamente queiram nos contar.
E o direito de ter preservada a sua intimidade é tão importante que se aplica inclusive àquelas situações em que eles tenham incorrido em alguma conduta inadequada...
 Tomemos um exemplo. Uma mãe, desconfiada de que o filho tenha ingerido bebida alcoólica em excesso ou que esteja saindo com más companhias, passa a fazer um interminável interrogatório, ou mesmo a usar de chantagem emocional com o propósito de arrancar dele a verdade. Acontece que essa estratégia é ineficaz e, muitas vezes, excede o limite do que temos direito de saber.
Isso não quer dizer, evidentemente, que os pais possam descuidar da educação dos filhos, não se importando com o que fazem ou com quem andam. Bem ao contrário, devem estar atentos de modo a ajuda-los com conselhos oportunos.
Seria muito bom que as mães e os pais conquistassem a confiança das filhas e dos filhos, de modo que elas e eles se sentissem à vontade para lhes confidenciar aspectos importantes das suas vidas. No entanto, isso é algo que se busca para que possamos prestar-lhes ajuda e não simplesmente para termos a sensação de controle das suas vidas.
Assumir essa postura respeitosa para com a liberdade e a intimidade dos nossos filhos não é fácil. Por vezes exigirá das mães e dos pais um esforço enorme. É que “se não temos todos os fatos, como poderemos ajuda-los?” – pode-se argumentar. No entanto, se estamos atentos ao que se passa com eles e, principalmente, se nos mostramos disponíveis e prontos para ouvi-los em seus anseios e necessidades, cedo ou tarde encontrarão em nós um refúgio muito receptivo para abrir, com total liberdade, a sua intimidade.
Além disso, devemos considerar que educar envolve sempre um risco. E isso implica também estar dispostos a aceitar que os fatos necessários para bem exercer essa missão de educadores nos serão revelados no momento oportuno.
Soube de uma mãe que tinha uma fundada desconfiança de que a filha estava usando maconha. Diante dessa desconfiança, o seu desejo era contratar um detetive particular. Mal podia esperar por uma prova “contundente” para esfregá-la na cara da filha, com uma frase do tipo: “já sei de tudo!”.
Essa mãe, bem intencionada, mas com uma estratégia muito equivocada, teve uma luz de pensar em como se sentiria se ela própria fosse apanhada nalguma falta e alguém lhe atirasse na cara esse fato, talvez exibindo uma prova inquestionável do seu erro. Pôs-se a pensar em como gostaria de ser corrigida nessa situação: com carinho, no momento oportuno e, sobretudo, que se sentisse compreendida e estimulada a mudar. E então decidiu fazer o mesmo com a filha. Não tardou em que essa procurasse a mãe para lhe relatar o problema e buscar ajuda.
Isso não quer dizer, também, que os pais não devam punir os comportamentos inadequados dos filhos. Se, após tê-los ensinado e alertado, insistem em manter um mau comportamento, devem enfrentar as consequências, que haverão de ser buscadas com prudência. No entanto, isso não é o mais importante nem o mais eficaz na educação. É que ninguém será verdadeiramente bom se não se decidir a sê-lo livremente. Nesse contexto, o castigo pode ser algo necessário, porém, por si só não suscita no educando o desejo de ser melhor.
A consciência é um reduto inviolável do ser humano. Ninguém pode nela entrar sem a devida permissão. E, ao fazê-lo, deve considerar que entra num reduto sagrado. Isso se aplica também aos pais. Daí que vem o grande desafio de sermos amigos dos filhos, pois é com aqueles com quem temos verdadeira amizade que nos sentimos mais à vontade para nos abrirmos e nos deixarmos ajudar.

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