Todos passamos parte considerável do nosso tempo diante do computador. Mas será que estamos conscientes dos riscos disso? Mais ainda, sabemos educar nossos filhos e alunos para usar essa ferramenta com responsabilidade?
A questão é muito ampla e complexa. Por isso, gostaria de abordar hoje apenas o impacto do mundo virtual sobre dois direitos fundamentais da pessoa humana: a honra e a intimidade. E, noutra oportunidade, talvez nos dediquemos a outros aspectos da questão.
Comecemos pela honra. Trata-se de um atributo essencial da personalidade, pois envolve a nossa reputação, o conceito que os outros têm de nós, assim como o conceito que fazemos de nós próprios. Há muitas formas de se violar esse direito. Uma delas é a fofoca. É impressionante nota como essas notícias correm de boca em boca com uma rapidez destruidora. No mundo digital, porém, a velocidade com que se propaga é muitíssimo maior. Aquilo que demorava dias para se alastrar e atingia um limitado número de pessoa, hoje em um click ultrapassa a barreira de países, gerando consequências irreversíveis.
Tomemos outro exemplo: o e-mail. Trata-se de um instrumento fantástico de comunicação. Contudo, também pode se traduzir numa arma que fere gravemente. Anos atrás, se alguém recebesse uma notícia que lhe aborrecesse e resolvesse responder, enviando uma carta, teria o trabalho de redigir, colocar num envelope, selar e levar ao correio. Nesse itinerário todo, é possível que desistisse, ou tivesse tempo de refletir melhor. Atualmente, por vezes irritados, respondemos com palavras duras e ferinas. Mais ainda, facilmente enviamos com cópias a centenas de pessoas. E, com isso, temos de nos desculpar por termos magoado alguém com a nossa ira e precipitação.
Diante dessa constatação, penso que devemos estar atentos para utilizar e ensinar os nossos filhos e alunos a utilizarem com responsabilidade os recurso da informática. Um caçador que manuseia uma arma de pressão e outro que tem uma calibre 12 sabe exatamente a diferença de ambos. No entanto, quando estamos diante da tela do computador, muitas vezes não refletimos adequadamente no potencial que temos nas mãos.
Outro aspecto relevante é a intimidade. Também ela é um direito fundamental e um atributo da personalidade. Pode-se dizer que a mulher e o homem têm várias “camadas”. Quando andamos pela rua entre estranhos damos a conhecer apenas amais exterior. Os nossos amigos conhecem várias outros aspectos, mais íntimos, como os nossos gostos, o nosso modo de ser. Esse nível aumenta ainda com os nossos familiares e atinge a máxima expressão de abertura entre os cônjuges. Mas mesmo entre eles há aspectos não conhecidos no outro. É que todos temos um reduto onde podemos estar a sós com a nossa consciência, onde não desejamos que ninguém nos moleste.
E também a intimidade pode ser indevidamente violada. É o que ocorre quando confidenciamos algo a alguém que o divulga indevidamente. E também aqui o mundo digital possui ferramentas aptas a causar danos muito maiores que os meios tradicionais. É exemplo disso os casos em que fotografias ou filmes expondo aspectos íntimos da pessoa são postados em sites da INTERNET, ou mesmo são transmitidos via celular em poucos segundos a inúmeros outros usuários.
Atento a isso, os pais e professores devem alertar acerca das consequências do mau uso dos instrumentos eletrônicos. E a melhor maneira para isso é ensinar, desde cedo, mais com exemplos do que com palavras, o valor incomensurável do ser humano. Cada pessoa é dotada de uma dignidade imensa, por mais defeitos que possua, ou por mais antipatias que tenhamos por ela. Somente essa maneira de enxergar os demais é que nos permitirá agir com cautela para que a nossa língua ou os nossos dedos que deslizam agilmente sobre o computador o façam para promover a concórdia e a paz, e não para violar a honra e a dignidade dos nossos semelhantes.
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Para quem se interessar, ministrarei uma palestra dia 16/10 às 19h, no Colégio Rio Branco cujo tema é justamente "Responsabilidade Digital: impacto da tecnologia na educação".
Mais informações no site no Colégio.
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