segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Ditadura da Beleza

Durante a Semana da Moda de São Paulo (SPFW), Isabella Fiorentino, apresentadora do Esquadrão da Moda-SBT, lançou uma afirmação que gerou polêmica: “Modelos têm de ser magras, sim. Elas precisam ser ‘quase cabides’ para as roupas ficarem impecáveis. A gente não pode cair na ilusão de que a ditadura da magreza vai acabar”.

Penso que o esforço para estar em boa forma física, assim como procurar se vestir bem e adequadamente para cada situação são coisas boas, tanto para a mulher como para o homem. No entanto, antes de formarmos um conceito o assunto, penso que deveríamos nos indagar: o que é a beleza?

O mundo moderno nos apresenta um protótipo bem definido. A mulher deve ser jovem, magra e usar roupas provocativas, na exata medida para despertar atração. O homem, atlético e charmoso, deve transparecer no seu agir e vestir um vigor insaciável, sempre pronto a se lançar numa nova aventura... É como se a beleza estivesse limitada a uma determinada faixa etária e fosse propriedade exclusiva de um determinado porte físico.

Não acredito, porém, que seja assim. Lembro-me de uma senhora muito distinta da minha cidade natal, que já conta com quase cem anos. Apesar das muitas décadas de vida, precisamente porque soube assumir a sua idade e condição, é belíssima! E o digo com profundo respeito. Os cabelos branquinhos, o olhar sereno e o semblante de paz apagam todas as rugas. Ou melhor, as próprias rugas e as mãos trêmulas ganham o seu valor nos anos bem vividos, que então se harmonizam com o andar pausado e o falar manso.

Cada idade tem a sua cor e a sua beleza, assim como cada mulher e cada homem, sendo precisamente quem é – e não querendo ser outro ou diferente – podem ser verdadeiramente muito belos. E não me refiro à beleza interior, evidentemente muito mais importante, mas à beleza física mesmo.

O feio está precisamente em buscar parecer o que não se é. Quantas vezes nos deparamos com o ridículo que é um sessentão – ou mais velho ainda – se vestindo como um adolescente. Ou mesmo quão feios ficam também os jovens que se rendem à ditadura da moda e tentam usar trajes que nada tem que ver com o que são de verdade.

Mas a beleza está, também e muito especialmente, nos olhos de quem a contempla. Há poucos dias, um homem muito sábio – e também muito belo, em que pesem as suas oito décadas de vida – me aconselhava conversar olhando nos olhos. E dizia ele o motivo: “é que assim é mais fácil enxergar no outro uma pessoa”.

Já se definiu a beleza como o estado do ser que atinge a sua plenitude. Sem nos perdermos em divagações filosóficas, penso que essa consideração nos pode ser bastante útil. Nesse sentido, o que melhor podemos fazer por nós é sermos cada vez mais nós mesmos.

Com essa afirmação não nos referimos, evidentemente, aos nossos defeitos de caráter ou de comportamento. A plenitude a que aspiramos pressupõe uma luta constante contra esses defeitos, que nos leva a ser cada vez mais virtuosos. Pensemos em como é atraente uma pessoa serena, que não se zanga com facilidade, sempre pronta para compreender, para desculpar, para estimular, para aconselhar. Como é bom ter pessoas assim por perto! É como se as virtudes da alma se encarnassem dando ao próprio corpo um brilho e uma beleza inexplicáveis.
E é precisamente dessa beleza que o mundo moderno anda tão sedento. Criou-se um protótipo externo, impossível de ser alcançado para a maioria das pessoas, ou de ser mantido pelos anos de vida, mas se esqueceu do conteúdo do ser humano, muitas vezes vazio de sentido. Acontece que a beleza interior frequentemente transborda e dá uma forma bela ao ser como um todo, ao passo que a aparente beleza exterior, vazia e fugaz, traz consigo a tristeza e a desilusão, fontes de uma feiura da alma que muito rapidamente contamina também o corpo.

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