segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Por que brigam?

Há mais de quinze anos tentando solucionar litígios ainda me causa perplexidade notar o endurecimento das pessoas que as move a permanecer anos e anos com as relações rompidas. Isso é especialmente doloroso entre pessoas de uma mesma família ou que mantinham estreitos laços de amizade.

Cada conflito tem suas peculiaridades e as causas costumam ser complexas. Porém, há dois aspectos de fundamental importância que, se fossem bem cuidados, evitariam muitas brigas, ou ao menos levariam as pessoas a se reconciliar rapidamente. 

O primeiro consiste no “excesso de subjetivismo”, muitas vezes aguçado pela memória ou pela imaginação distorcidas. Tomemos um exemplo. Um marido não gosta que a esposa profira determinada frase em relação a ele. Certa vez, há dez anos atrás, notou que a mãe da esposa havia dito algo semelhante ao seu marido (sogro dele). Num determinado dia, ao falarem ao telefone, a esposa volta a dizer precisamente aquela frase. No caminho de volta a casa ele vem ruminando consigo: “ela está ficando igualzinha à mãe dela, com certeza ela só diz aquilo para me provocar...”. Quando esse marido chegar à casa, convencido de que esses juízos que fazia sobre a esposa são verdades absolutas, por certo as coisas não correrão bem...

Há pessoas absolutamente convencidas de possuírem pleno conhecimento de tudo. E assim, senhores da verdade e com a memória e a imaginação soltas, fazem juízos inamovíveis em relação aos outros que acabam sendo o estopim de muitos conflitos.


Mas há um segundo ponto, que é consequência do primeiro, e que é a causa mais de fundo do surgimento de conflitos e do endurecimento de coração que leva a manter o rancor por muito tempo, às vezes anos ou décadas. Refiro-me à incapacidade de se colocar no lugar do outro.

Analisemos o diálogo de um rapaz com o seu amigo. Aquele havia tido um sério desentendimento com o seu irmão e então desabafava: “Eu não aceito o que ele fez comigo! Nem perguntou nada e foi dizendo que eu cuidava do meu pai por interesse. Ele e aquela folgada da minha cunhada só visitam meu pai no domingo para filar o almoço. E agora vem me dizer pra prestar contas do dinheiro que saquei da aposentadoria do pai, como se eu fosse um ladrão?!... Não vou prestar contas coisíssima nenhuma...”.

“Mas por que ele resolveu te pedir isso?”, perguntou o amigo. “Com certeza foi a minha irmã que foi dizer a ele que eu estou reformando a minha casa com o dinheiro do pai...”. “Mas como ele te pediu isso?”, insistiu o bom amigo. “Ah! Veio com uma desculpa de que seria melhor pra mim prestar contas porque alguém poderia dizer no futuro que estou desviando o dinheiro. Desculpa furada. Na hora de exigir os direitos todo mundo quer, mas na hora de cuidar do pai, cada um sempre tem uma desculpa”.

Em seguida, o amigo disse: “Veja, cara, são duas coisas distintas. Se o teu irmão não está sendo um bom filho, você deve dizer isso a ele e alertar de que é necessário cuidar melhor do pai nessa situação para o próprio bem dele. Agora, quanto ao dinheiro, coloque-se no lugar dele. Se fosse ele quem administrasse o patrimônio, você não gostaria de que prestasse contas?”.

O rapaz ficou pensativo, principalmente porque não esperava ouvir isso. Havia contado a ele apenas esperando a sua aprovação e assim ter uma justificativa a mais para manter o conflito com o irmão. Porém, os bons amigos são aqueles que sabem dizer a verdade para ajudar, da forma e no momento certos, ainda que não seja precisamente o que o outro deseja ouvir.

Aproxima-se o final de mais um ano. Nesse tempo ficamos mais sensíveis e dispostos a refletir sobre os rumos que demos às nossas vidas e os rastros que deixamos por onde passamos. Diante desse cenário, considerar que não somos donos da verdade e saber-nos colocar no lugar do outro podem ser de grande valia para reconstruir o que foi destruído e recompor os laços que foram rompidos.

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