segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

"Rolezinhos"

Tem ganhado notoriedade os chamados “rolezinhos”, definidos pela mídia como uma grande concentração de jovens, agendada previamente nas chamadas redes sociais. No ano passado, nesta coluna, falamos sobre o medo que os jovens e adolescentes do nosso tempo suscitam em seus pais e educadores em geral. A mesma situação se repete agora. 



Recentemente, o Secretário da Promoção da Igualdade Racial de São Paulo, Netinho de Paula, numa entrevista, após afirmar que a Prefeitura de São Paulo está buscando a intermediação entre os integrantes dos movimentos e as associações de Shoppings Centers, proferiu a seguinte frase: “Eles [os jovens] não quiseram uma relação institucional. Eles não querem ir à Prefeitura. Querem que a gente os encontre no local em que eles determinarem”. É bem isso mesmo que estamos vivenciando: os garotos impõem a um Secretário Municipal o local em que querem ser atendidos e a autoridade pública se curva docilmente diante deles. 

Não estamos a sustentar que se devam promover reações violentas, nem que a solução esteja na repressão policial. Simplesmente constatamos um fato: temos medo dos nossos jovens. Para reverter essa situação, além do adequado exercício da autoridade, que mencionamos anteriormente noutro artigo (Medo dos Jovens), penso que devemos considerar outro aspecto: quais alternativas esses jovens possuem para preencher o seu tempo? 

O bom educador sempre sabe dizer o não sob a forma de um sim. Ou, dito de outro modo, ao se fechar uma porta, deve ao menos apontar para outras melhores. Quando os nossos filhos e alunos são ainda pequenos já podemos iniciar esse treino. Por exemplo, se a criança se aproxima para pegar uma faca, ou alguns outros objetos perigosos ou que podem se quebrar, muito mais eficaz que ficar repetindo a todo tempo “NÃO”, é melhor pegá-lo(a) no colo, fazer-lhe um carinho e propor um brinquedo interessante e não perigoso. 

Quando eles crescem, essa mesma atitude passa a ser muito mais desafiadora, mas não menos interessante. Assim, quando eles recebem um convite via Facebook para um “Rolezinho”, não basta dizer que isso é perigoso, que pode haver briga, tumulto ou que podem se machucar. Nesse momento, o educador deve ter a sabedoria de propor algo mais interessante do que participar de atividades propícias para causar mal para si mesmos e transtornos para os demais. 

Há poucos dias conversei com um garoto que havia participado de um desses acampamentos de férias por uma semana. Quando ele me contou a programação fiquei perplexo: acordavam por volta das 7:30, tomavam café-da-manhã, recebiam uma palestra de formação e, por volta das 9:30, iniciavam um trabalho social, que consistia em ajudar na reconstrução de uma capela e fazer visitas a famílias carentes de um bairro rural. O trabalho muito se assemelhava ao de assistente de pedreiro, de pintor etc. Retornavam por volta das 16:00, quando então tinham atividades de lazer: futebol, piscina, bate-papo após o jantar e, evidentemente, uma saudável bagunça noturna. Ao perguntar-lhe se havia gostado, respondeu simplesmente: “Gostei muito! Foi cansativo, mas ver o resultado do nosso trabalho foi muito legal!”. 
É isso. O trabalho enobrece e dignifica a pessoa em todas as idades. É claro que o jovem e o adolescente devem ter o estudo como principal atividade laboral, sem prejuízo do lazer, do esporte etc. Porém, saber se doar aos demais em tarefas que custam esforço estimula neles a generosidade, que por sua vez é fonte de intensa alegria e satisfação. E, depois, nada contra uns “roles” que façam com os amigos, com respeito aos demais e sentido de responsabilidade.

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