segunda-feira, 28 de abril de 2014

Divórcio e felicidade

As pesquisas mostram que uma das maiores causas de traumas nas pessoas é o divórcio. Em muitos casos a ruptura do relacionamento conjugal enseja um sofrimento mais intenso até do que a perda de uma pessoa querida. E isso tanto nos cônjuges com nos filhos. Naqueles porque um dia decidiram unir definitivamente suas vidas, de tal sorte e com tal intensidade que todo o seu presente e futuro é projetado, pensado e sonhado em função dessa união. E, quanto aos filhos, porque o amor que eles verdadeiramente apreciam é aquele que há – ou deveria haver – entre as pessoas que eles mais amam no mundo: a mãe e o pai.

Apesar disso, sabemos que há situações em que a ruptura da vida em comum aparece como inevitável. Nesse caso, marido e mulher terão atirado fora toda a possibilidade de alcançarem a tão almejada felicidade?

Claro que não. Talvez um aspecto mais difícil nessa situação seja mudar os projetos outrora comuns. Como canta em bela música o Renato Russo: “Dos nossos planos é que eu tenho mais saudade, quando olhávamos juntos na mesma direção”. De fato, tudo aquilo que se sonhava fazer com o(a) esposo(a), agora haverá de se contentar com fazer só ou apenas com um amigo ou com os filhos... Nesse cenário, talvez aflore um sentimento terrível: o ressentimento. Atribuímos ao outro a culpa de termos jogado tudo fora e então não se consegue afastar o rancor que aflora forte e intenso, com raízes profundas na alma.

Penso, portanto, que o primeiro passo é precisamente arrancar esse ódio do coração. E isso não é uma tarefa fácil. Exigirá esforço e tenacidade, mas é necessário, pois sem isso não se é possível superar. Alguém já fez uma analogia com um vaso repleto de sujeira encrostada e feia. É necessária uma faxina pesada para arrancar essa porcaria do recipiente, para só então cultivar nele belas flores. Porém, quando se consegue, que mudança! Algo de semelhante acontece no nosso coração. É preciso arrancar o ressentimento para cultivar nele as belas sementes do amor.

Outro passo importante – sobretudo quando se teve filhos em comum – é recuperar o respeito. Nesse intento, a imaginação e a memória podem prestar uma grande colaboração, como ademais são elas que podem estragar tudo. Toda pessoa, por pior que possa parecer, sempre possui virtudes. Também os relacionamentos fracassados tiveram bons momentos. Assim, para resgatar o apreço pelo ex-cônjuge por ser bastante útil recordar e pensar nos pontos positivos do outro. E uma dica importante: JAMAIS CRITICAR O OUTRO NA FRENTE DOS FILHOS.
Há situações dramáticas de separação, em que um dos cônjuges se perdeu em grandes vícios, ou praticou agressões inaceitáveis e não parece dar mostras de pretender mudar. Nesse caso, a melhor solução será mesmo romper por completo qualquer possibilidade de contato, inclusive para preservar a própria integridade e a dos filhos.

Mas afora essas situações extremas, talvez uma boa meta para o casal que se separou é voltar a ser um dia amigos, ou ao menos pessoas que conseguem conversar respeitosamente. Para isso, é bom considerar que os filhos não olham tanto para o resultado que se alcança nessa tentativa de reconciliação, mas principalmente para o esforço que se faz nessa direção, por amor a eles.

É perfeitamente possível construir a felicidade sobre bases sólidas após uma separação. Porém, o caminho é – paradoxalmente – o mesmo que se haveria de trilhar antes da ruptura da vida em comum: respeito, responsabilidade e renúncia. Ainda que jamais reatem a vida conjugal, podem manter um respeito crescente, agir com responsabilidade em relação ao outro e aos filhos, bem como saber renunciar a tudo aquilo que não condiz com um homem e com uma mulher que estão no mundo com uma missão, na qual cada um é insubstituível.

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