segunda-feira, 9 de junho de 2014

Até breve Dr. Barreto

“Mãezinha do Céu, eu não sei rezar, eu só sei dizer que quero te amar...” entoavam seus muitos filhos e netos ao redor do corpo desse grande homem nos últimos momentos de despedida. Já presenciei inúmeros velórios. Uns mais emotivos, outros menos, uns mais tristes, outros mais ... conformados. Mas a despedida do Dr. José Geraldo Barreto Fonseca foi simplesmente inigualável.

A dor da esposa, dos filhos, dos parentes, dos amigos e colegas era imensa. Apesar disso, no ambiente se respirava serenidade e alegria. Certa vez, ouvi dizer que é possível conciliar dor e alegria. Embora não tenha duvidado da afirmação, até porque foi dita por um grande santo, não a havia entendido em toda a sua profundidade. No entanto, naquele momento memorável todos puderam constatar o quanto é verdadeira.

Quem conviveu com o Dr. Barreto pode notar que era impossível estar triste ao seu lado. Era tão delicada e sincera a sua preocupação pelos outros, que se esquecia por completo de si. Além disso, o seu tom brincalhão e o seu contagiante bom humor faziam com que todos ficassem totalmente à vontade e descontraídos ao seu lado.

Quanto partiu o cortejo fúnebre, a sua esposa, de cujo amor fecundo onze seres humanos simplesmente adoráveis receberam o maravilhoso dom da vida, seus filhos e netos entoaram canções singelas e ardentes. Foram cantos de amor a Deus e à Sua Mãe que tanto agradavam o Dr. Barreto em vida. Não sei se ele ainda apreciaria aquelas cantigas, agora que um coro celeste lhe brindava com um canto novo... Mas por certo o encheria de ternura. Afinal, honrar os santos – e todos os que o conheceram estão certos de que ele o é em grau elevado – traz sempre alegria e bens espirituais. E quanto alegraria aquele coração enamorado ver que os seus entes queridos se beneficiam deles!

É certo que todos sofriam a imensa dor da separação. Donde então viria aquela alegria? Seria a maneira com que todos resolveram agradecer àquele grande homem por tê-la semeado tão abundantemente em seus corações durante a sua fecunda existência? Ou foi essa semeadura tão generosa que os frutos permaneceram e até aumentavam o seu vigor agora que o seu semeador já a desfrutava infinitamente na eternidade?

Penso que ambos contribuíram para forjar aquele ambiente impressionante. Mas não foi só. Ao invés de serem simplesmente consolados, os filhos esbanjavam sincera solicitude por todos que compareciam para lhes manifestar condolências. E eram eles que consolavam, acolhiam, recebiam e confortavam a todos que ali compareciam.

Uma menção especial merece a sua adorável esposa, fiel companheira de uma fantástica jornada. Talvez só no coração de Maria ao pé da Cruz encontraríamos dor maior, consequência inevitável do seu inigualável amor. A d. Estella encarnava naquele momento a serenidade de quem cultiva uma esperança que nada a faz abalar, a paz que uma vida de fé profunda soube construir sobre a rocha, e a alegria de um coração totalmente entregue a Deus e, por Ele, aos filhos, netos, parentes, amigos, conhecidos, enfim, todos que tiveram a fortuna de se aproximar daquele lar luminoso e alegre.

Mas eis que chega o momento doloroso em que os restos mortais são depositados no local da sua definitiva espera pela ressurreição. Chegaria então a tristeza ou desalento? Nada disso. Todos ali cultivavam a absoluta certeza de que o Dr. Barreto já desfrutava do convívio dAquele que com tanto amor serviu nesta vida. E então a melhor saudação é um simples “até breve!”, conquanto que também nós nos empenhemos por seguir os caminhos de amor que ele trilhou.
Talvez estejamos a nos questionar por que razão prestar homenagem apenas descrevendo o momento da sua despedida. Mas é que Deus cuida de glorificar os seus eleitos logo que os chama para Si. E isso nos anima a lutar para alcançar a mesma glória. E quanto à vida desse grande homem, cuja santidade a história se encarregará de confirmar, penso que bem merece uma biografia completa, que espero a grande realização de vê-la publicada um dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário