segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O dedo na ferida

O porta-voz do Ministério das Relações
Exteriores de Israel, Yigal Palmor
Em meio a uma crise diplomática que se instaurou entre o Brasil e Israel, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores deste último País, em resposta a uma crítica feita pelo governo brasileiro, fez uma comparação com a derrota do Brasil por 7 a 1 contra a Alemanha. Analisada a afirmação no contexto em que foi feita, penso que não é de todo ofensiva. Apesar disso, relembrar a derrota no futebol em comentário dirigido a brasileiros é sempre uma alfinetada, ainda que atenuada pelas circunstâncias.


Não é nosso propósito, porém, tecer comentários sobre a questão diplomática, nem mesmo sobre o conflito em si. A “espetada” do porta-voz, porém, pode nos ajudar a fazer algumas ponderações sobre alguns desvios na comunicação, em especial entre os cônjuges, que muitas vezes conduzem a crises sérias no relacionamento. Refiro-me a essa técnica, bastante frequente, de “colocar o dedo na ferida” do outro.

Após algum tempo de relacionamento, seja de amizade, seja conjugal, seja ainda entre pais, filhos e irmãos, é comum descobrirmos em que ponto se consegue ferir o outro. Há, por exemplo, aqueles complexados com a estatura, de modo que qualquer menção a isso facilmente provoca mágoa. Noutros será a calvície, a origem étnica etc. Pois bem, quando surge algum desentendimento, ou mesmo num debate sobre um tema qualquer, é comum se resvalar para o ataque pessoal com frases que se sabe que provocam a ira do outro.
O bom educador – e aqui me refiro especialmente aos pais e professores – deve saber identificar essa atitude ofensiva e intervir sempre em defesa daquele que é agredido. Deve-se cuidar para que todo debate esteja limitado a expor as ideias com clareza sobre o assunto em questão, sem permitir que se desvie para os ataques pessoais. E, evidentemente, não pode jamais ser o próprio educador quem aja assim.

Entre os cônjuges, porém, o problema costuma ser mais complexo. É comum que um deles ou ambos amarguem por anos pequenas alfinetadas em relação a algum defeito real ou imaginário do outro. Acontece que, com o passar do tempo, esses pequenos golpes acabam por abalar a estrutura do edifício, podendo até vir a ser a causa da morte do amor conjugal.

Penso que a solução para isso está em considerar cada ser humano como uma pessoa dotada de uma dignidade imensa e, por consequência, merecedora de um incondicional respeito, por muitos que sejam os seus defeitos e limitações. Isso nos levará a manter uma comunicação mais cordial, que sabe apontar os erros, inclusive com rigor e energia quando necessário, mas preservando sempre a pessoa que os comete.

Por consequência, devemos manter uma atitude de vigilância sobre as nossas ações, de modo a não permitir jamais que saiam da nossa boca palavras destinadas a ofender os demais. E, quando ocorrer, devemos ter a valentia e a humildade de saber pedir desculpas e de desagravar, se foram proferidas diante de outras pessoas.

Ao fazermos essas considerações, corremos o risco de tomar essas palavras como que desejando esfregá-las no rosto dos outros, com frases mais ou menos do tipo: “tá vendo, veja aqui o que você faz comigo”. Antes de reagirmos assim, porém, temos de nos questionar se também nós não fazemos isso com os outros. É claro que podemos reagir, com serenidade e respeito, expondo aos que nos ofendem que o seu comportamento é inadequado e que nos desagrada. No entanto, também nós devemos ter o firme propósito de não agir de mesmo modo.

Sendo brasileiro, e como tal apaixonado por futebol, confesso que não me agradou a comparação feita num debate diplomático. Mas que isso se traduza num propósito de não ferir os demais. Do contrário, nossas vidas se transformariam num eterno fogo cruzado, talvez semelhante em alguns aspectos ao que se observa há séculos no Oriente Médio.

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