segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Vida e Missão

Vivemos tempos conturbados. E isso não tanto pelos acontecimentos externos, mas, principalmente, pelo que se passa no interior dos seres humanos. Com efeito, vivemos uma verdadeira crise de sentido da vida. O peregrinar de muitas mulheres e de muitos homens do nosso tempo está repleto de ações que se sucedem com um dinamismo incrível, num cenário em que a comunicação assume um ritmo alucinante. No entanto, se nos perguntássemos, serenamente e com coragem, o porquê disso tudo, qual seria a nossa resposta?

Outro dia ouvi um relato de uma pessoa que vale a pena ser reproduzido: “Caminhava pela rua apressadamente, quando me lembrei de que deveria enviar um e-mail muito urgente. Segui andando e digitando a mensagem. Foi então que um andarilho se aproximou e me disse: ‘esse trequinho que você tem aí é um ladrão’. Notei que ele se referia ao meu smartphone. Tentei seguir adiante sem fazer caso do que dizia, mas ele soube despertar a curiosidade. Resolvi então olhar rapidamente para ele, que aproveitou a oportunidade e se explicou: “eu, como você, também corria de um lado para outro até que percebi que o maior tesouro que temos é o tempo. Desde então tenho guardado muito bem o meu para que ninguém me roube’. Parei de enviar a mensagem e segui perplexo, enquanto me indagava: o que estou fazendo com a minha vida?”.

Não sei se esse rapaz já encontrou a resposta, mas um grande passo já foi dado nesse sentido: ajudado por aquele homem que vivia nas ruas ele soube ao menos formular bem a pergunta. E deixar que essa indagação toque no fundo do nosso ser é um bom começo. Esses questionamentos sempre palpitam no coração humano. No entanto, modernamente, desenvolvemos técnicas muito engenhosas para fazer calar essa incômoda voz interior. A correria, o muito fazer e o constante falar – apesar do pouco comunicar – com várias pessoas ao mesmo tempo nas redes sociais são instrumentos muito eficazes para fazer silenciar essas dúvidas. Mas eis que, vez por outra, talvez até instados por um louco, deparamo-nos com essas perguntas existenciais de cuja resposta depende nada menos que encontrar o sentido para as nossas vidas.
Penso que os grandes personagens da história, que verdadeiramente fizeram a diferença e souberam apontar caminhos para dias melhores, foram aquelas e aqueles que descobriam que possuíam uma missão, e depois fizeram do seguimento dela a razão de ser das suas vidas. Só há dois caminhos a serem seguidos, ainda que cada qual possa ser trilhado de inúmeras maneiras. O primeiro é o daqueles que sabem que são chamados a construir algo de belo e duradouro durante a sua curta passagem nesta vida. O segundo é a triste saga dos que pensam ser seres lançados ao acaso, sem mais compromisso que fazer os gostos e desfrutar de momentos, sem pretensão de coerência ou de finalidade no que se faz, julgando-se senhores absolutos da sua própria história e destino.

Temos de reconhecer que parece ser sempre mais atraente e interessante seguir esse último, o único em que seríamos livres. Acontece que tão logo nos emprenhamos por suas sendas, notamos a enorme tragédia de uma liberdade aparente: não conseguimos fazer com que o mundo e os acontecimentos sejam exatamente como planejamos. E então, cedo ou tarde, vem a tristeza e o desalento. No primeiro caminho, ao contrário, parece inicialmente que seguir uma missão que nos é dada – e não totalmente por nós escolhida – vai nos tornar escravos desse Ser que nos confiou algo a seguir. Porém, com o tempo notamos que o nosso sim, pronunciado livremente, torna-se causa e efeito de uma enorme e profunda liberdade.

Eis o grande paradoxo da liberdade! Quando parecemos renunciar a ela para seguir uma missão é que de verdade a encontramos. E nesse caminho que nos é proposto vislumbra-se, no seu fim, a felicidade. Porém, já no início desse caminhar somos invadidos por uma alegria serena e duradoura, que nos assegura que seguimos na direção certa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário