segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Amigos de verdade

Vivemos num tempo em que se observa uma enorme crise de valores, com reflexos perigosos na vida das pessoas. Um exemplo e sintoma disso pode ser observado em nossas telenovelas. É frequente que o “herói” ou a “heroína” sejam pessoas inconstantes, que perambulam de um relacionamento a outro sem o menor escrúpulo e sem qualquer sentido de responsabilidade. No entanto, a “telinha” os exibe como simpáticos, alegres e caridosos. Mais ainda, vendem a falsa ideia de que se pode ser feliz desse jeito, sem construir algo de duradouro, em especial nas relações familiares.
Por outro lado, os personagens que eventualmente assumem uma postura crítica em relação a certos comportamentos – como a infidelidade conjugal, por exemplo – o fazem de forma azeda e mal-humorada, de modo a tirar peso do que dizem e pensam ou, pior ainda, reforçar a ideia falsa de que para ser feliz é necessário ter boa pinta e..., é claro, “pular a cerca” com muita frequência.
Esse verdadeiro bombardeio que se faz, todos os dias, contra a família e o casamento, como ademais contra muitos valores, como a fidelidade conjugal, a defesa da vida humana desde a sua concepção até o seu fim natural etc., acaba por ensejar uma séria confusão na vida de muitas pessoas, no mais das vezes vítimas de um relativismo moral perverso que permeia o nosso ambiente.
Pois bem. Nesse cenário, é muito comum que assumamos perante os nossos amigos, parentes e conhecidos uma autêntica postura do “politicamente correto”. Então, quando nos pedem conselhos, é frequente dizermos o que supomos que querem ouvir, sem ponderar se o que aconselhamos é verdadeiramente o melhor para aquela pessoa.
É o que acontece quando se depara, por exemplo, com um amigo que tem uma família constituída, com esposa e filhos e que ameaça iniciar um relacionamento “impróprio” (parafraseando um antigo presidente americano) com uma colega de trabalho. Não é incomum, apesar da amizade, manter-se o silêncio ou até estimular a que o amigo se lance nessa aventura, afinal, “hoje em dia isso é muito normal”. Mas será isso demonstração de uma amizade sincera?
Amigo de verdade é aquele que quer o bem do outro, desinteressadamente. Assim, saberá apoiar nas decisões difíceis, estar ao lado na dor e no sofrimento, bem como compartilhar as alegrias e bons momentos da vida. Mas saberá também contrariar e corrigir quando percebe que se está para se perder em caminhos que põem em risco a própria felicidade e a daqueles que convivem com ele.
Temos, hoje em dia, inúmeros conhecidos e pessoas com que nos relacionamos, centenas ou milhares de amigos no Facebook, mas quantos desses serão suficientemente sinceros para nos dizer: “não faça isso, pois está prestes a jogar no ralo a sua felicidade e a da sua família”.
É curioso notar, porém, que aqueles que nos aplaudem ou apoiam quando deitamos fora coisas grandes em nossas vidas, são precisamente os mesmos que voltam as costas quando “quebramos a cara”. Já aqueles que são sinceros, que nos aconselham de verdade, são os que nos apoiam e amparam quando retornamos arrependidos dos nossos erros e bobagens que praticamos.
É bem verdade que alguns desses amigos que nos aconselham, quando se torna evidente que tinham razão, talvez não resistam a uma censura do tipo: “não te falei?”. Mas afora uns poucos, que assim acabam por pisar num amigo ferido, é muito comum encontrar corações grandes – quando a amizade é sincera – que saberá acolher o amigo arrependido que, no passado, não quis ouvi-lo.
Nosso mundo está sedento de amigos de verdade, não de aduladores interesseiros. Amigos que nos compreendam e que nos repreendam, mas que saibam estar ao nosso lado, aconteça o que acontecer. Quem encontrou um amigo assim, que saiba dizer com o mesmo coração sincero que inspirou o Milton Nascimento: “Amigo é coisa pra se guardar, debaixo de sete chaves, dentro do coração...”.


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