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desculpando perante as leitoras pela omissão da semana passada. Isso porque o
dia das mães passou sem que lhes fosse prestada a devida homenagem. Sempre é
tempo, porém, de externar nosso amor e a nossa gratidão às nossas mães.
E penso que uma
boa maneira de fazê-lo é trazendo uma emocionante homenagem póstuma que uma
filha faz à sua mãe. A d. Zizi, como era carinhosamente chamada, faleceu aos
102 anos. Sua filha, Maria do Carmo, que a acompanhou na derradeira despedida,
descreve emocionada e agradecida esse momento tão sublime:
“Quando cheguei
a esta vida, estávamos Deus, mamãe e eu. Quando mamãe deu seu último suspiro
estávamos novamente, Deus, você e eu.
“Sou grata a
Deus por ter preparado para mim tal oportunidade, de participar do último
momento de vida da mamãe, que foi tão profundo, tão sublime, tão cheio de amor,
equilíbrio e paz. Foram minutinhos que se eternizaram em meu coração, na minha
mente, em minha vida. Senti que uma grande onda de amor me envolvia e percebi
como é bom sentir o amor do Pai por mim! Naquele momento duas interioridades de
amor incondicional para mim se encontraram para a eternidade.
“A terceira
filha de uma família de cinco filhos, que não era para nascer, nasceu pela
coragem e grande fé de uma mãe amorosa”.
Lembro-me agora
de muitos momentos entranháveis da infância e juventude... Aquela lancheira
carinhosamente preparada no primeiro dia de aula. Aquela acolhida carinhosa e
serena quando estávamos tristes ou zangados. Quantos momentos, como aquele dia
em que, nervoso e irritado porque não consegui, pela milésima vez, construir a
tão sonhada casa do Tarzan em cima da árvore e ela, com um abraço terno,
prometia ajuda na próxima tentativa. Eu sabia que ela tampouco conseguiria a
proeza, mas que importância isso tinha? Importava apenas o seu afeto sincero.
A nossa ilustre
leitora teve uma grande felicidade: amparar a sua mãe até o último instante.
Quantos filhos, por uma omissão culpável ou não, não tem esse privilégio. Com
efeito, absorvidos numa correria insana muitas vezes se esquecem daquela que
foi generosa com Deus na sublime missão de nos trazer à existência.
Mas se nos
falta, no mundo atual, filhos agradecidos e dedicados, também é importante que
as mulheres recebam um alento que as encorajem à maternidade. Isso porque, numa
sociedade que supervaloriza o sucesso profissional, o êxito econômico e o
prazer passageiro, muitas vezes se protela ou mesmo se renuncia a esse dom
precioso.
É certo que nem
todas as mulheres são chamadas à maternidade. Algumas renunciam a isso por uma
peculiar missão que lhes cabe. Nem por isso, porém, são infecundas. A história
é pródiga de exemplos disso e talvez um dos mais significativos em nosso tempo
foi o da madre Teresa de Calcutá. No entanto, o mais comum é que se opte por
ser mãe. E a essas cabe levar um alento para serem generosas. Por mais que a
sociedade hedonista e individualista em que vivemos diga o contrário, amor e
sacrifício são as mais fortes e perenes fontes de felicidade.
Não conheci a d.
Zizi. Provavelmente a missão que lhe foi confiada exigia servir e desaparecer,
num amor delicado e silencioso que enchia e dava sentido a uma vida longa e
fecunda. Mas é isso o que acontece com aqueles que amam de verdade. A vida não
lhes passa em vão. Deixam rastro que reluzem e arrastam os que ficam,
inspirando-nos a seguir o mesmo caminho de amor e generosidade.
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