segunda-feira, 18 de maio de 2015

Carta de uma filha

Inicio me desculpando perante as leitoras pela omissão da semana passada. Isso porque o dia das mães passou sem que lhes fosse prestada a devida homenagem. Sempre é tempo, porém, de externar nosso amor e a nossa gratidão às nossas mães.
E penso que uma boa maneira de fazê-lo é trazendo uma emocionante homenagem póstuma que uma filha faz à sua mãe. A d. Zizi, como era carinhosamente chamada, faleceu aos 102 anos. Sua filha, Maria do Carmo, que a acompanhou na derradeira despedida, descreve emocionada e agradecida esse momento tão sublime:
“Quando cheguei a esta vida, estávamos Deus, mamãe e eu. Quando mamãe deu seu último suspiro estávamos novamente, Deus, você e eu.
“Sou grata a Deus por ter preparado para mim tal oportunidade, de participar do último momento de vida da mamãe, que foi tão profundo, tão sublime, tão cheio de amor, equilíbrio e paz. Foram minutinhos que se eternizaram em meu coração, na minha mente, em minha vida. Senti que uma grande onda de amor me envolvia e percebi como é bom sentir o amor do Pai por mim! Naquele momento duas interioridades de amor incondicional para mim se encontraram para a eternidade.
“A terceira filha de uma família de cinco filhos, que não era para nascer, nasceu pela coragem e grande fé de uma mãe amorosa”.
Lembro-me agora de muitos momentos entranháveis da infância e juventude... Aquela lancheira carinhosamente preparada no primeiro dia de aula. Aquela acolhida carinhosa e serena quando estávamos tristes ou zangados. Quantos momentos, como aquele dia em que, nervoso e irritado porque não consegui, pela milésima vez, construir a tão sonhada casa do Tarzan em cima da árvore e ela, com um abraço terno, prometia ajuda na próxima tentativa. Eu sabia que ela tampouco conseguiria a proeza, mas que importância isso tinha? Importava apenas o seu afeto sincero.
A nossa ilustre leitora teve uma grande felicidade: amparar a sua mãe até o último instante. Quantos filhos, por uma omissão culpável ou não, não tem esse privilégio. Com efeito, absorvidos numa correria insana muitas vezes se esquecem daquela que foi generosa com Deus na sublime missão de nos trazer à existência.
Mas se nos falta, no mundo atual, filhos agradecidos e dedicados, também é importante que as mulheres recebam um alento que as encorajem à maternidade. Isso porque, numa sociedade que supervaloriza o sucesso profissional, o êxito econômico e o prazer passageiro, muitas vezes se protela ou mesmo se renuncia a esse dom precioso.
É certo que nem todas as mulheres são chamadas à maternidade. Algumas renunciam a isso por uma peculiar missão que lhes cabe. Nem por isso, porém, são infecundas. A história é pródiga de exemplos disso e talvez um dos mais significativos em nosso tempo foi o da madre Teresa de Calcutá. No entanto, o mais comum é que se opte por ser mãe. E a essas cabe levar um alento para serem generosas. Por mais que a sociedade hedonista e individualista em que vivemos diga o contrário, amor e sacrifício são as mais fortes e perenes fontes de felicidade.
Não conheci a d. Zizi. Provavelmente a missão que lhe foi confiada exigia servir e desaparecer, num amor delicado e silencioso que enchia e dava sentido a uma vida longa e fecunda. Mas é isso o que acontece com aqueles que amam de verdade. A vida não lhes passa em vão. Deixam rastro que reluzem e arrastam os que ficam, inspirando-nos a seguir o mesmo caminho de amor e generosidade.


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