segunda-feira, 27 de abril de 2015

O “SIM” em números



Dados do IBGE apontam o crescimento na taxa de nupcialidade nos últimos anos, que passou de 5,6‰ (2002) para 6,9‰ (2012). Esse índice reflete a relação ente o número de casamentos para cada mil (‰) habitantes em determinado ano. No mesmo período, porém, houve um crescimento da taxa geral de divórcios, que passou de 1,2‰ para 2,5‰. Isso se deveu, em grande parte, a maior facilidade para a ruptura do vínculo conjugal a partir de 2.010, com a promulgação da Emenda Constitucional que aboliu o tempo mínimo de casamento para os casais se divorciarem. Tanto que, a partir de 2011, observa-se um declínio nessa taxa.

Porém, se retrocedermos no tempo, vamos encontrar uma diferença bastante acentuada. Na década de 1970 o número de casamentos por ano era de 13 para cada mil habitantes. Se considerarmos que, na época, o divórcio ainda não existia em nosso ordenamento jurídico, o que somente ocorreu em 1977, então se pode constatar realmente uma mudança de comportamento. Com efeito, as pessoas se casavam mais mesmo sabendo que não poderiam se divorciar.
Comentando esse fenômeno, alguém ousou concluir, sem uma análise mais profunda do assunto, que atualmente as pessoas têm medo de assumir compromissos duradouros ou de tomar decisões irreversíveis. Tenho, porém, que a conclusão é um tanto simplista. Primeiro porque atualmente o casamento civil está longe de ser uma decisão irreversível, posto que se divorcia com maior facilidade do que se contrai o matrimônio. Segundo porque há muitas decisões irreversíveis (ou de difícil reversão) que se tomam hoje em dia sem qualquer receio, como ocorre, por exemplo, ao se colocar uma tatuagem ou mesmo fazer uma esterilização definitiva por meio de laqueadura ou vasectomia.
Assim, penso que a dificuldade não está tanto no receio de se embrenhar por caminhos sem volta, mas na disposição de se doar a algo ou a alguém com a radicalidade que exige o verdadeiro amor. Nascidos e formados numa sociedade de consumo, somos tentados a enxergar os relacionamentos como meras oportunidades de se obter proveito ou satisfação pessoal. E isso atinge acentuadamente as relações conjugais. Com efeito, acostumados a trocar de carro ou de aparelho de celular após certo tempo, quando não mais proporcionam a utilidade esperada, tende-se a buscar na companheira, no companheiro, no esposo ou na esposa algo (muitas vezes nem sequer alguém) que satisfaça desejos sexuais, afetivos etc. E quando não mais se encontra tal satisfação, simplesmente se troca de parceiro, muitas vezes com maior rapidez do que se substitui um equipamento eletrônico.
O problema de fundo vai muito além dos números observáveis em dados estatísticos. A partir de uma fria análise desses não podemos concluir, por exemplo, que em 1970 marido e mulher teriam um desejo maior de se unirem para fazer o outro feliz do que se observa atualmente. De fato, havia uma sociedade que ainda protegia a união conjugal e os noivos eram mais alertados para a seriedade do compromisso que assumiriam. Mas isso, embora auxiliasse na constituição e manutenção das famílias, longe está de tocar na essência do amor conjugal.

Esse é, sobretudo, uma doação que se faz com o propósito de fazer o outro feliz. Bem sintomático disso é a fórmula que se utiliza no casamento cristão: “EU ..., TE RECEBO, COMO MINHA(MEU) ESPOSA(MARIDO) E TE PROMETO...”. Em suma, duas pessoas que se amam se comprometem a querer amar o outro cada dia mais. Nesse sentido, não importa tanto se 6,9 ou 13 a cada mil pessoas optam por tomar essa decisão em um ano. Importa que o façam para fazer o outro feliz. É que, assim agindo, descobrirão o grande paradoxo do amor, que consiste em encontrar a felicidade precisamente quando procuramos dá-la a alguém. E famílias assim constituídas poderão ser verdadeiramente células básicas da sociedade, posto que edificadas sobre a força que brota do amor.

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