Dados do IBGE
apontam o crescimento na taxa de nupcialidade nos últimos anos, que passou de
5,6‰ (2002) para 6,9‰ (2012). Esse índice reflete a relação ente o número de
casamentos para cada mil (‰) habitantes em determinado ano. No mesmo período,
porém, houve um crescimento da taxa geral de divórcios, que passou de 1,2‰ para
2,5‰. Isso se deveu, em grande parte, a maior facilidade para a ruptura do
vínculo conjugal a partir de 2.010, com a promulgação da Emenda Constitucional
que aboliu o tempo mínimo de casamento para os casais se divorciarem. Tanto
que, a partir de 2011, observa-se um declínio nessa taxa.
Porém, se
retrocedermos no tempo, vamos encontrar uma diferença bastante acentuada. Na
década de 1970 o número de casamentos por ano era de 13 para cada mil
habitantes. Se considerarmos que, na época, o divórcio ainda não existia em
nosso ordenamento jurídico, o que somente ocorreu em 1977, então se pode
constatar realmente uma mudança de comportamento. Com efeito, as pessoas se
casavam mais mesmo sabendo que não poderiam se divorciar.
Comentando esse
fenômeno, alguém ousou concluir, sem uma análise mais profunda do assunto, que atualmente
as pessoas têm medo de assumir compromissos duradouros ou de tomar decisões
irreversíveis. Tenho, porém, que a conclusão é um tanto simplista. Primeiro
porque atualmente o casamento civil está longe de ser uma decisão irreversível,
posto que se divorcia com maior facilidade do que se contrai o matrimônio.
Segundo porque há muitas decisões irreversíveis (ou de difícil reversão) que se
tomam hoje em dia sem qualquer receio, como ocorre, por exemplo, ao se colocar
uma tatuagem ou mesmo fazer uma esterilização definitiva por meio de laqueadura
ou vasectomia.
Assim, penso que
a dificuldade não está tanto no receio de se embrenhar por caminhos sem volta,
mas na disposição de se doar a algo ou a alguém com a radicalidade que exige o
verdadeiro amor. Nascidos e formados numa sociedade de consumo, somos tentados
a enxergar os relacionamentos como meras oportunidades de se obter proveito ou
satisfação pessoal. E isso atinge acentuadamente as relações conjugais. Com
efeito, acostumados a trocar de carro ou de aparelho de celular após certo
tempo, quando não mais proporcionam a utilidade esperada, tende-se a buscar na
companheira, no companheiro, no esposo ou na esposa algo (muitas vezes nem
sequer alguém) que satisfaça desejos sexuais, afetivos etc. E quando não mais
se encontra tal satisfação, simplesmente se troca de parceiro, muitas vezes com
maior rapidez do que se substitui um equipamento eletrônico.
O problema de
fundo vai muito além dos números observáveis em dados estatísticos. A partir de
uma fria análise desses não podemos concluir, por exemplo, que em 1970 marido e
mulher teriam um desejo maior de se unirem para fazer o outro feliz do que se
observa atualmente. De fato, havia uma sociedade que ainda protegia a união
conjugal e os noivos eram mais alertados para a seriedade do compromisso que
assumiriam. Mas isso, embora auxiliasse na constituição e manutenção das
famílias, longe está de tocar na essência do amor conjugal.
Esse é,
sobretudo, uma doação que se faz com o propósito de fazer o outro feliz. Bem
sintomático disso é a fórmula que se utiliza no casamento cristão: “EU ..., TE
RECEBO, COMO MINHA(MEU) ESPOSA(MARIDO) E TE PROMETO...”. Em suma, duas pessoas
que se amam se comprometem a querer amar o outro cada dia mais. Nesse sentido,
não importa tanto se 6,9 ou 13 a cada mil pessoas optam por tomar essa decisão
em um ano. Importa que o façam para fazer o outro feliz. É que, assim agindo,
descobrirão o grande paradoxo do amor, que consiste em encontrar a felicidade
precisamente quando procuramos dá-la a alguém. E famílias assim constituídas
poderão ser verdadeiramente células básicas da sociedade, posto que edificadas
sobre a força que brota do amor.
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