segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Famílias Numerosas

No penúltimo domingo, (28/12), o Papa Francisco recebeu os membros da Associação das Famílias Numerosas, reunida em Roma para celebrar seus 10 anos de fundação. Diante de cerca de sete mil famílias, o Pontífice recordou que a maternidade e a paternidade são dons de Deus: “Cada um de seus filhos é uma criatura única, que jamais se repetirá na história da humanidade. Quando se compreende isso, se surpreende com a grandeza do milagre que é um filho! Um filho é um milagre que transforma a vida.”. Em seu pronunciamento, ressaltou também que “Toda família é célula da sociedade, mas a família numerosa é uma célula mais rica, mais vital, e o Estado tem todo o interesse em investir nela!”.
A decisão acerca do número de filhos que terão cabe exclusivamente ao casal e ninguém jamais pode coibir ou dificultar o exercício desse direito. Porém, que critérios deve nortear essa escolha? Nesse assunto, penso que se deve evitar tanto um excesso do que poderíamos chamar de providencialismo, como também, noutro extremo, o afã desmedido de ter um domínio total de todos os fatores que influenciam em nossa vida.
A primeira postura (providencialista) é a daqueles que vão agindo imprudentemente com a presunçosa desculpa de que “Deus proverá”. E então não se ocupam de planejar nem de buscar os meios necessários para atingir determinado objetivo. No que tange ao planejamento familiar, essas pessoas poderão irresponsavelmente se lançar na maternidade e na paternidade sem se ocupar dos meios para prover e educar esses filhos.
No entanto, cada vez mais frequente em nosso tempo é o outro extremo. São aqueles que somente se decidem a ter filhos quando tiverem um patrimônio suficiente para provê-los de tudo aquilo que se julga necessário. E então, se calculados os custos de toda uma parafernália eletrônica, duas viagens ao exterior por ano etc., muito provavelmente se chegará à conclusão de que somente se pode ter “meio filho”.
O exercício da maternidade e da paternidade de maneira responsável exige sim previsão, saber ponderar, precaver-se de infortúnios, bem como de se buscar os meios materiais para que os filhos possam ser formados com dignidade.
No entanto, igualmente importante é saber se arriscar generosamente. Nunca teremos total domínio da situação. Todos já nos deparamos com experiências em que havíamos planejado, programado meticulosamente, porém, ao final, nada aconteceu da forma em que havíamos pensado. E isso tanto mais ocorre na geração e educação dos filhos, pois, além dos imprevistos normais de qualquer empreendimento, há aqui um fator único e exclusivo: estamos gerando pessoas livres e, portanto, não previsíveis e jamais manipuláveis para que se adequem aos nossos planos.
Talvez o melhor critério para exercício da maternidade e da paternidade responsavelmente seja a justa coordenação entre amor e generosidade. Amor que fará retardar o nascimento, por exemplo, quando o exigir o bem dos cônjuges ou dos outros membros da família. E generosidade que saberá dizer sim a uma nova vida sempre que um amor fecundo assim exigir.
É inegável que em nosso tempo como sempre ter uma família numerosa exige sacrifício dos pais. Mas haverá amor verdadeiro que não mova a se sacrificar por quem se ama? Se observarmos atentamente ao nosso redor, veremos que as pessoas mais felizes que conhecemos são também as mais generosas, que melhor aprenderam a se doar aos demais.

Lembro-me de quando tínhamos oito filhos, a então caçula nos pedia insistentemente um irmão. “Não é justo” argumentava ela, “muitas das minhas amigas e das pessoas que conhecemos têm um bebê em casa e só eu que não tenho...”. E eis que, anos após, anunciamos às crianças que um irmãozinho estava a caminho. Então aquela filha não se conteve: “Foi culpa minha, mamãe!”. “Como assim?”, indagou a mãe surpresa. “É que faz tempo que eu estou rezando para ganhar um irmãozinho...”. A mãe não conteve as lágrimas de felicidade que lhe brotaram dos olhos...

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