segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Lições do Natal


Contemplar os acontecimentos que circundam o Natal é uma fonte inesgotável de aprendizagem e sabedoria para as nossas vidas. Em dois milênios de cristianismo são incontáveis os prodígios que aquele singelo acontecimento tem causado na história de cada mulher e de cada homem, como também de toda a humanidade. Há um aspecto, porém, pequeno e certamente não o mais importante, que gostaria de nos deter hoje. Refiro-me ao modo como aquele jovem casal de Nazaré soube enfrentar juntos os inúmeros acontecimentos difíceis e dolorosos que marcaram suas vidas.

Embora tenham recebido do Céu anúncio de que naquele lar viria nada menos que o Salvador, desde cedo a dor e a contrariedade marcaram as suas vidas. O próprio anúncio da concepção do Menino foi motivo de dúvidas e incertezas para o esposo, logo explicadas. Depois, uma viagem a Belém, quando já próximo o parto, que por certo não foi das mais cômodas. E isso sem dizer das condições em que se deu o nascimento, tão bem reproduzida nos nossos presépios. Mais adiante, a alegria do nascimento é rapidamente interrompida com anúncios de perseguição: “Herodes quer mata-lo, fujam para o Egito!”... E depois anos vivendo a dureza de refugiados no estrangeiro, longe dos seus familiares, parente e amigos...
Que dizer disso para os casais do nosso tempo? Lamentavelmente, muitos relacionamentos são marcados pelo exclusivo desejo de “curtir” o convívio com o outro. Quando, porém, surgem as dificuldades, essas, ao invés de uni-los, muitas vezes acabam sendo causa de separação.
Nesse cenário, é preciso recordar que o que sustenta um relacionamento é a qualidade dos momentos que se passam juntos. Isso, porém, não se mede pelo simples fato de serem agradáveis ou dolorosos. Também os momentos difíceis, se são compartilhados com amor e com desejo de fazer o outro feliz, contribuem para promover a união do casal e não para separá-los.
Lembro-me do que contava um grande amigo. Trata-se de um homem que verdadeiramente ama a sua esposa. E dizia ele que, em certa ocasião, recebeu uma triste notícia: o sogro acabava de falecer. Por um instante, pensou até em terminar alguns assuntos pendentes no trabalho, afinal a má notícia já era de todos esperada. Reagiu, porém, e disse de si para si: “Não. Nesse momento não há nada mais importante que estar o quanto antes com a minha esposa”.
E de fato deixou os muitos assuntos pendentes para estar com a esposa. E não apenas isso. Depois se manteve ao seu lado, amparando-a e consolando-a. Essa sua atitude serviu para fazer crescer a união e o amor conjugal. O momento foi doloroso, porém, porque vivido juntos, marido e esposa fizeram dele uma oportunidade para expressar, com um sacrifício gozoso, a profundidade do amor mútuo.
Outra situação, que também me foi relatada por outro casal, reproduz precisamente o oposto. Eles completariam 20 anos de casamento, de modo que resolveram fazer a tão sonhada viagem para a Europa. Tudo planejado, chega o grande dia! No entanto, o que seria uma segunda lua de mel converteu-se num verdadeiro pesadelo. Isso porque não conversaram sobre as expectativas. E, pior, nos lugares que visitavam, cada um tinha um gosto e um desejo pessoal, e pouca disposição para renunciá-lo para agradar o outro. O resultado foi que discutiram bastante e se afastaram ainda mais.
Essas duas situações ilustram muito bem que o fundamental no relacionamento conjugal é saber se sacrificar para fazer o outro feliz. Aquele jovem casal, Maria e José, soube fazer isso como ninguém. Que neste Natal aprendamos mais essa sublime lição: que ninguém é feliz nesta vida enquanto não se decide a fazer feliz de verdade aqueles que nos são próximos, em especial a esposa e o marido que livremente escolhemos para compartilhar as nossas vidas.

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