segunda-feira, 13 de abril de 2015

Os desafios do envelhecimento

O Correio Popular, na edição de ontem, trouxe os resultados de uma estimativa baseada em dados coletados pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), que aponta que em 2030 a população da região de Campinas terá um aumento de 85% em relação a 2014. Com relação à faixa etária de 70 a 74 anos, o aumento deverá ser superior a 100%.

A reportagem faz uma abordagem positiva e estimulante dos dados. Com efeito, mostra idosos ocupados em fazer atividades físicas e aproveitando o tempo com viagens. Aliás, penso que a atividade jornalística deve mesmo ser exercida predominantemente desse modo. Sem fechar os olhos para a realidade, nem analisar ingenuamente os fatos, a imprensa pode sempre dar um tom proativo às questões tratadas, de modo a estimular o leitor a lutar para construir um mundo melhor e mais humano.
Contudo, há algo por trás desses números que também deveríamos considerar. Um dado relevante é que a taxa de natalidade também caiu acentuadamente nos últimos anos. E então já nos deparamos com um grande dilema: como as novas gerações poderão cuidar dos pais numa sociedade de filhos únicos?
Não nos referimos às pessoas com mais de sessenta anos que, a bem da verdade, sequer poderiam ser chamados de idosos atualmente. Nem mesmo a grande parte daqueles que já adentraram na década dos 70, em sua grande maioria dotados de autonomia que dispensam as ajudas materiais. Mas chegará um momento em que precisarão de ser cuidados. Assim, se podemos comemorar o aumento da expectativa de vida, temos de nos ocupar de como assegurar um saudável convívio familiar aos nossos idosos.
A família é, sempre foi e sempre será o Habitat natural do ser humano. Cada mulher e cada homem que povoa esse planeta foi concebido para nascer, viver e morrer no seio dessa pequena comunidade onde há de reinar o amor e a acolhida de cada um dos seus membros. Assim, quando conjugamos o aumento da expectativa de vida e o declínio da natalidade, com o consequente envelhecimento da população, o maior desafio passa a ser assegurar uma saudável convivência familiar aos nossos idosos.
É inegável, nesse contexto, que em muitos casos a melhor solução poderá ser colocar nossos pais ou avós em casas de repouso que os possam acolher e cuidar nessa fase da vida. No entanto, há de se ponderar muito bem se isso é o melhor se se trata de uma decisão fundada no egoísmo. E mesmo que seja a opção mais adequada, com que frequência essas pessoas recebem a visita afetuosa e atenta dos filhos?
Mas além dos cuidados com nossos genitores, um dos grandes males – e talvez um dos maiores erros – é descartar a experiência dos mais velhos. Hoje é muito comum o sucesso profissional ser atingido com pouca idade, muitas vezes com trinta ou quarenta anos já se chega ao topo de instituições públicas e privadas. E, como os avanços tecnológicos seguem num ritmo frenético, muitas vezes olhamos para as pessoas de idade mais avançada como alguém que não tem nada a nos oferecer. Com efeito, jamais poderão se igualar aos mais novos na habilidade em manusear os modernos equipamentos eletrônicos. Esquece-se, porém, que por detrás daqueles dedos desajeitados que lutam contra a tela de um smartphone pode haver muita sabedoria a ser transmitida.

Por fim, há um grande desafio também para as pessoas que já adentraram nessa fase avançada da vida. É bom que façam viagens, frequentem academias, façam novos cursos, enfim, que se mantenham ativos. Não podem se esquecer, porém, que há uma missão que lhes cabe. E essa não consiste precisamente apenas em cuidar de si. Mais que isso, podem cuidar do próximo até o último dos seus dias. Mesmo num leito de hospital – jovens ou idosos – poderão fazer a livre opção de se preocupar apenas consigo mesmo, das suas dores e padecimentos, ou, ao contrário, levar alento de vida aos outros, construindo a felicidade pessoal sobre a rocha firme do esquecimento próprio para se doar aos demais.

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