Ganhou notoriedade na mídia a
recente execução de um brasileiro, condenado à pena de morte por tráfico de
drogas na Indonésia. A Presidente Dilma Rousseff, por mais de uma vez, enviou
pedido de clemência, que foram negados.
Sempre fomos contrário à pena de
morte. Não pretendemos, porém, tratar desse tema nesta oportunidade. O que nos
chama a atenção, neste momento, foi a postura da nossa Presidente que, de certo
modo, leva ao plano internacional uma tentativa de prevalecer o “jeitinho
brasileiro”.
Essa expressão não tem um sentido
único. Um primeiro significado se refere a determinadas atitudes não honestas
de se conseguir algo ilícito, seja subornando autoridades, seja exercendo
indevido tráfico de influência, abuso de autoridade etc. Mas o chamado
“jeitinho brasileiro” não se refere apenas a essas atitudes ilícitas e imorais.
Ocorre, também, quando por uma excessiva complacência, encontra-se um meio para
se livrar ou atenuar excessivamente a responsabilidade por nossas ações.
São exemplos desse segundo
aspecto do nosso “jeitinho”, quando alguém perde o prazo para a entrega de um
documento ou de um trabalho escolar e aparece todo choroso e esbaforido diante
do professor ou da autoridade responsável, que acaba dando uma resposta do tipo:
“Tá bem! Dessa vez passa, vou quebrar o seu galho... Mas vê se da próxima...”.
E essa postura clemente de
contemporizar com o impontual, desleixado e relapso acaba por ser institucionalizada,
tanto que as Leis são feitas com brechas para serem atenuadas. E isso sem
contar os recursos e mais recursos que se instituem, tanto na via Judicial como
Administrativa, de modo a se ver, rever e rever aquilo que já foi decidido.
Para ser sincero, não vejo esse
nosso modo de ser, bem brasileiro, de todo ruim. Em muitas situações sabemos
ser misericordiosos. Aliás, talvez esteja aqui também um grande problema: agir
muito mais com o coração do que com a razão.
No caso da Indonésia a lógica
oriental é muito clara. A Lei prevê – concordem ou não – a pena de morte para o
crime de tráfico de drogas. Alguém tentou entrar no País trazendo substância
entorpecente e foi flagrado nessa tentativa. Sentença: morte. Simples assim. E
não adianta a Dilma, ou quem quer que seja pedir clemência.
A nossa cultura condescendente
tem raízes muito arraigadas já na maneira com que educamos os nossos filhos.
Quantas vezes vemos um pai ou uma mãe dizer a uma criança ainda pequena: “se
você fizer isso, vai ficar de castigo”. E o garoto faz aquilo uma, duas, três
ou mais vezes, ao que se repete a ameaça, nunca cumprida. Pior, em certo
momento, perde-se a paciência e dá-se um belo tapa, que aliás não havia sido
prometido...
Se a misericórdia é uma virtude
bem brasileira, penso que deveríamos considerar que ela precisa andar muito
próxima de outra virtude, igualmente importante: a justiça. Assim,
compadecemo-nos do sofrimento alheio. Porém, devemos ser justos e exigir que se
assuma a responsabilidade pelos atos praticados. Enfim, deveríamos ser mais
sérios no sentido de que a uma ação inadequada, segue-se uma consequência que
precisa ser assumida.
Lembro-me do que me contou um bom
professor universitário. Um aluno, que havia sido reprovado na sua disciplina,
procurou-o em prantos para contar que, com aquela reprovação, perderia uma
bolsa de estudos e não poderia prosseguir no curso. O bom mestre ficou
verdadeiramente compadecido com a situação e perguntou: “Como posso ajudá-lo?”.
“Talvez pudesse me dar um trabalho de recuperação...”, disse o aluno. “Mas você
teve ao menos três oportunidades para isso previstas no regulamento... Quer que
invente uma quarta? Ou quer que descumpra a regra?”. “Não sei, não há um jeito
de resolver?”, insistiu o estudante. “Não há nenhum meio lícito ou, pior, que
não contrarie a minha consciência”, argumentou por fim o professor. Ao final se
despediram, ambos emocionados e com lágrimas nos olhos, bem à brasileira, ao
mesmo tempo em que dizia o estudante: “Obrigado, mestre! Acho que essa foi a
melhor lição que aprendi em todo o curso!”.
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