segunda-feira, 15 de junho de 2015

Ideologia de gênero: apoiar ou discriminar?

       Minha sogra costuma contar que quando era criança não entendia por
que se aguardava tão ansiosamente para saber o sexo de um bebê. Dizia ela: “Ora, se quer que seja menino, ao nascer, coloque nome de menino; se quer uma menina, dê a ela um nome de menina e coloque nela roupinhas cor-de-rosa”.

       Parece que essa história pueril e divertida de uma menina inocente foi apropriada por uma concepção do ser humano cujos fundamentos estão muito longe da inocência e da pureza de uma criança. A ideologia do gênero, em suma, propõe precisamente isso: não há diferenças naturais entre homem e mulher; são os adultos e a sociedade que impõem padrões de comportamento.
É preciso reconhecer que muito do modo de ser masculino e feminino é ditado por puras convenções sociais. Por exemplo, trata-se de um costume, ainda que construído há séculos no ocidente, que as mulheres usem saia ou vestido, ao passo que somente o homem vista terno e gravata em ocasiões mais solenes. O mesmo se diga da cor azul ou rosa que predominam no enxoval de meninos e meninas. Tudo isso é mesmo acidental e mutável de acordo com a cultura e o contexto histórico e social.


       No entanto, nem tudo o que marca um ser humano como homem ou mulher é definido pelo contexto social. Há fatores inatos, dados pela própria natureza, que a sociedade simplesmente reconhece. Essas diferenças entre homem e mulher não estão só no aspecto físico ou biológico. Esse é o mais evidente. Estudos apontam, porém, que o próprio funcionamento cerebral é diferente no homem e na mulher. A dimensão afetiva apresenta também notórias diferenças conforme o sexo da pessoa. Em suma, homem e mulher são fundamentalmente diferentes em todas as suas dimensões. E isso não é o produto de uma construção social, mas algo que decorre da própria natureza.


       Isso não implica uma hierarquia que permita afirmar ser um mais que o outro, mas simplesmente diferentes. Todos os seres humanos são absolutamente iguais em dignidade, o que se manifesta, porém, em cada existência concreta apenas de dois modos bem distintos: homem ou mulher. Não há um terceiro, quarto, ou infinitos gêneros, mas simplesmente dois sexos.

       Como consequência disso, o amor genuinamente conjugal é somente aquele que se estabelece entre um homem e uma mulher, ainda que possa haver outras formas de amor entre pessoas do mesmo sexo (entre amigos, pais e filhos, irmãos etc.). Isso porque o amor conjugal é vivo e fonte de vida, de modo que aponta para uma natural fecundidade. Além disso, pressupõe uma natural diferença entre os cônjuges, posto que somente realidades diferentes se complementam num todo harmônico, cada um dando ao outro precisamente o que esse não tem. E esse amor não é só sentimento, mas exige o compromisso de se querer amar o outro cada dia.

       É necessário reconhecer, porém, que há certo número de indivíduos, homens ou mulheres, que apresentam atração erótica por pessoas de mesmo sexo. E esses sempre foram alvo de discriminação, ainda que atualmente isso tenha mudado.

       Eis o cenário em que aflora a ideologia do gênero. O homossexual é discriminado e humilhado pelos seus semelhantes. Solução: pregar uma concepção assexuada de ser humano; homem e mulher serão, então, considerados meras construções sociais que precisam ser abolidas.
Acontece que isso não encontra nenhum fundamento na natureza humana. Trata-se de um engenhoso raciocínio que, a pretexto de eliminar a discriminação contra os homossexuais, se levado à prática, acabará por matar em cada pessoa a sua própria identidade, inexoravelmente marcada e definida pelo sexo.


       Não é necessário – nem possível – modificar a natureza humana para não discriminar o homossexual. Ao contrário, é preciso atacar toda forma de discriminação em sua causa mais profunda, que é o desrespeito à infinita dignidade de cada indivíduo. Devemos ter olhos que saibam enxergar em cada semelhante simplesmente um ser humano. Trata-se de saber se colocar no lugar do outro e então valorizar e afirmar a vida. Mas isso se faz promovendo cada pessoa tal como ela é, não com uma vã e artificial tentativa de arrancar-lhe a sua identidade sexual, que outra coisa não é que aniquilar a sua própria dignidade.

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