segunda-feira, 4 de abril de 2016

O Judiciário e a Sociedade

Em poucos momentos da história o Poder Judiciário brasileiro esteve tão em evidência como ocorre nos dias atuais. As decisões referentes à operação Lava-jato e as questões levadas ao STF relativas ao Impeachment da Presidente Dilma têm sido manchetes constantes no Brasil e no exterior. O Juiz Federal Sérgio Moro aparece na décima terceira posição entre as pessoas mais influentes no mundo, segundo a revista norte-americana Fortune. Em outro extremo, porém, vivenciamos na semana passada um grotesco atentado contra uma Juíza em próprio local de trabalho.
Esses acontecimentos bem nos servem para uma reflexão sobre a missão do Poder Judiciário, a suas relações com a sociedade, o respeito que é devido aos magistrados e, principalmente, a qualidade do serviço que se há de prestar aos cidadãos na administração da Justiça.
A missão do Poder Judiciário é realizar justiça, como define sinteticamente o CNJ. É preciso compreender, porém, que a justiça, antes de ser uma situação que se encontra – ou não – em determinada sociedade, é uma virtude humana. E, como tal, pode ser definida como a vontade firme e constante de dar a cada um o que lhe é devido. Nesse sentido, a justiça reina em uma sociedade, principalmente, quando as pessoas habitualmente se esforçam por ser justos com os demais.
Logo se vê, portanto, o quão difícil é a missão confiada ao Poder Judiciário. Isso porque compete a ele restabelecer uma situação de justiça quando as pessoas que deveriam zelar por ela não o fazem. Tomemos alguns exemplos. O devedor deveria pagar a sua dívida pontualmente. O pai e a mãe deveriam dispensar cuidado, atenção e amor aos seus filhos. Se assim agirem, serão justos nessas relações. Quando descumprem tais obrigações, a Justiça é chamada a impor a essas pessoas as consequências pelo descumprimento da Lei. Assim é que o devedor poderá ter ser bens penhorados para saldar a sua dívida. O pai ou a mãe omissos poderão ser responsabilizados pela omissão e condenados a pagar uma pensão alimentícia.
Por esses breves exemplos se podem notar o quão utópica é, de certo modo, a plena realização da missão que se espera do Poder Judiciário. Isso porque o credor queria receber o que lhe é devido na data correta e, se possível, tomar um café e receber um abraço do devedor. Os filhos querem amor, atenção e cuidado dos pais, não que simplesmente paguem uma quantia mensal. Os cidadãos brasileiros gostariam que a Petrobras fosse administrada com honestidade e competência, não que os seus defraudadores sejam condenados pelos crimes que cometeram.
A missão de fazer justiça, no sentido pleno da expressão, compete a cada ser humano na posição que lhe cabe no mundo. Ao Poder Judiciário cabe, quando muito, impor consequências ao descumprimento da Lei, mas jamais conseguirá fazer com que a Justiça reine em sua plenitude.
Analisando agora nas suas relações com a sociedade, um Poder Judiciário eficiente e forte consegue impor o respeito à Lei e fazer com que os que a descumprem arquem com as consequências. Porém, isso somente é possível quando o descumprimento das regras e a falta de ética sejam a exceção. É impossível que se imponha pela força o restabelecimento de uma situação de justiça se a maioria das pessoas ou mesmo um grande contingente delas não pautar suas condutas pela virtude da justiça.
Não é possível que o Poder Judiciário faça justiça numa sociedade corrompida e desprovida de valores éticos ou morais. Assim, a construção de uma sociedade justa, que é o desejo de todos, depende sim de um Poder Judiciário forte e independente, formado por magistrados imparciais e comprometidos com a sublime missão que lhes é confiada. Muito mais importante, porém, é que formemos desde muito cedo, mulheres e homens justos, valentemente comprometidos em dar a cada um o que lhes é devido. Isso é papel da escola e principalmente da família, universalmente reconhecida como berço de todas as virtudes, dentre elas a justiça.

Quanto aos outros temas propostos acima – o respeito aos magistrados e a qualidade do serviço – voltaremos a tratar em outra oportunidade.

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