Há poucos
dias, enquanto conversava descontraidamente com a minha filha, ainda criança, fiz aquela pergunta tão costumeira: “o que você quer ser quando crescer?”. A resposta foi cheia de dúvidas: escritora, juíza... ou médica talvez. E então insisti no assunto: “e política?”. A isso ela respondeu prontamente: “de jeito nenhum!”. “Mas e se você tiver vocação para isso?” insisti eu. Após pedir explicações sobre o que é uma vocação, ela respondeu seguramente: “Vocação para política?! Eu?! Não. Deus é bom. Ele não faria isso comigo”, disse ela pondo um ponto final nessa questão.
É
engraçado, mas ao mesmo tempo preocupante, o desinteresse das novas gerações
pela política. As notícias de sujeira e corrupção, aliadas às críticas azedas e
frequentes dos pais, professores e adultos em geral, faz com que nossos filhos
olhem para os políticos com desconfiança. Pior ainda, há em muitos a certeza de
que é absolutamente impossível entrar nesse meio sem se enlamear numa corrupção
generalizada e impossível de ser combatida.
Como já
dissemos em outras oportunidades, penso que são apenas os corruptos que gostam
da afirmação de que “todo mundo é corrupto”. Isso porque pensar que todos são
desonestos é a melhor maneira que encontram de justificar a própria
desonestidade. Além disso, com tal consideração, procuram anestesiar a
consciência que, vez por outra, ameaça pesar com as falcatruas que se sucedem
em suas vidas. E o fazem talvez dizendo de si para si que não há nenhum mal em
suas ações, afinal, “qualquer pessoa na sua situação faria o mesmo...”.
Mas é
inegável que os últimos acontecimentos que vivenciamos permitem concluir que há
mesmo um problema crônico de corrupção no nosso País. Talvez por isso muitas
mães e pais honestos e honrados, agindo com a melhor das intenções,
desencorajam vivamente as suas filhas e os seus filhos a se lançarem na
política.
Acontece
que, se todas as pessoas de bem agirem assim, não haverá uma solução para a
corrupção dentro do próprio sistema político vigente. Por mais eficiente que
venha a ser a Polícia e o Judiciário para condenar os corruptos, os cargos
públicos haverão de, novamente, ser ocupados por políticos.
A crise é
sempre também uma oportunidade. Assim, o cenário político sombrio em que
vivemos nos convida a refletir sobre essa questão. E que essa fomente a decisão
das pessoas que têm vocação profissional para a política que a isso se lancem
com coragem e valentia.
É
interessante refletirmos, também, sobre as graves consequências que a nossa
omissão pode causar. Quando alguém está habilitado para um cargo ou uma função
pública e deixa de fazê-lo por preguiça, por medo ou por covardia, dá a
oportunidade para que outras pessoas, talvez menos escrupulosas e preparadas,
venham a ocupa-los, com todas as consequências danosas disso.
De fato,
a solução do problema não é simples. É inegável que uma campanha eleitoral
ainda tem custos econômicos muito elevados, de maneira que a busca pelos meios
para a obtenção de recursos para isso colocam os políticos honestos diante de
delicadas decisões, ao menos sob o aspecto ético. Apesar disso, porém, convém
considerar que toda obra boa e meritória implica sacrifício, esforço e, no mais
das vezes, coragem e ousadia.
Um pai
que se preocupa com a formação das suas filhas e dos seus filhos não deveria
estar a todo tempo cuidando de poupá-los do que representa esforços e riscos.
Importa, antes de tudo, que descubram a missão que lhes é confiada neste mundo.
E para aqueles que estão chamados à sublime missão de governar, cumpre encorajá-los
e apoiá-los, sobretudo com uma educação sólida nas virtudes, capaz de mantê-los
íntegros e limpos, ainda que se embrenhem – esperamos que por pouco tempo – num
mar de lamas.
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