segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A Persistência

Ainda ficam gravadas na memória muitas boas imagens das Olimpíadas do Rio 2016. Como que ainda degustando esses bons momentos, que nos proporcionaram um saudável orgulho, vem agora a memória da tocha olímpica entrando no Estádio do Maracanã. Após percorrer inúmeras cidades em todo o Brasil, finalmente chega ao seu destino, onde haveria de reluzir durante os jogos. Nos dias que antecederam esse grande acontecimento, pairavam no ar muitas especulações, dúvidas e curiosidades sobre quem teria a glória de, afinal, acender o símbolo da paz, da união e da amizade. A quem caberia a honra de atear o fogo que haveria de inflamar os corações dos atletas e dos expectadores com o admirável espírito olímpico?

E eis que tal honra coube, afinal, a Vanderlei Cordeiro de Lima. Não sei o que se passa com o leitor, mas a mim a imagem desse grande atleta me soava como alguém que soube ser vítima de uma agressão e superá-la com brio, espírito esportivo e bom humor. Com efeito, tornou-se célebre o que aconteceu nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Ele liderava isolado a maratona, quando houve o famoso episódio com o manifestante irlandês que o agarrou. Era o km 35, restavam apenas sete para a linha de chegada. É provável que o empurrão o tenha feito perder a concentração e, minutos depois, foi ultrapassado por outros dois corredores.
Talvez a nossa reação diante de um infortúnio dessa natureza seja a revolta, que nos leva a queixar da sorte: “poderia chegar em primeiro!”. Ou, pior ainda, alimentar o ódio contra o agressor, o que traz consigo amargura e desolação. Mas não foi essa a reação de Vanderlei. Minutos após ele entraria no Estádio Olímpico de Panathinaikos fazendo o famoso “aviãozinho”, comemorando o bronze como se fosse o ouro.
Pequenos gestos como esse denotam uma grande qualidade da alma de um vencedor: a perseverança. E quando observamos com olhos atentos a juventude do nosso tempo, podemos notar o quanto precisariam os nossos filhos e alunos ser formados nessa virtude. Quando os vemos sempre em busca de distrações que demandam pouco ou nenhum esforço. Quando notamos como desistem dos seus objetivos ao se deparar com um pequeno obstáculo. Enfim, quando constatamos como fogem do que implica esforço e sacrifício, podemos concluir que precisamos, urgentemente, ensiná-los a ser valentes na luta pelos ideais nobres, capazes de dar sentido às suas vidas.
A causa dessa espécie de frouxidão generalizada remonta à primeira infância. Muitos pais, talvez angustiados por um drama de consciência por passar longas horas longe dos filhos, cuidam para que os tempos de convivência sejam apenas de diversão, com pouca ou quase nenhuma ação educativa. Assim, deixam os filhos à vontade para fazer o que quiserem, ou melhor, fazendo tudo ou quase tudo por eles. E isso desde vesti-los – quando já poderiam fazê-lo sozinhos – até intervindo no relacionamento com as outras crianças para poupá-los de conflitos e frustrações.
Acontece que bem diferente é o caminho dos vencedores. São pessoas que passam por privações, sofrem, frustram-se, não dispõem de todas as comodidades, mas souberam aproveitar tudo isso para, com tenacidade e perseverança, seguir em busca dos seus objetivos.

Dizem os especialistas numa modalidade de esporte, o Jiu-Jitsu, que não é necessário o uso de força bruta, pois o lutador bem treinado e que adquiriu bem a técnica, aproveita a força e o movimento do próprio adversário para executar alguns golpes. Penso que o mesmo princípio pode-se aplicar a muitos aspectos da nossa luta para sermos pessoas melhores. Isso, porém, não no sentido de ver nos outros inimigos a serem vencidos, o que seria um terrível equívoco. Mas sabendo enxergar nos inúmeros revezes das nossas vidas, oportunidades para que a sua força aparentemente negativa seja encaminhada para a consecução de um ideal nobre e duradouro.

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