domingo, 2 de abril de 2017

Filhos : ter ou não ter ?

No artigo anterior comentamos a chamada crise na Previdência Social, oportunidade em que fizemos considerações sobre os impactos que o envelhecimento da nossa população terá nessa questão. Com efeito, observamos uma acentuada queda no índice de natalidade que poderá ter inúmeros reflexos negativos em nosso País.
Apesar desse dado, é evidente que ninguém se aventuraria a ter filhos como uma forma de salvar a Previdência Social, ou mesmo para evitar graves danos à economia do País. Nossos filhos são seres humanos dotados de uma dignidade imensa, não meros agentes econômicos ou simples dados estatísticos. Mas então o que deveria nortear tão importante decisão?
Se fizermos uma rápida pesquisa na INTERNET, encontraremos inúmeros sites e matérias publicadas que vão desde 10 motivos para não ter filhos até mil razões para não tê-los. Apesar da diversidade de autores e formas de abordagem, os argumentos podem ser resumidos em três: 1- os filhos custam caro... e há até quem elabore um orçamento de quanto se haverá de dispender desde o parto até atingirem a independência econômica; 2- acabarão com a diversão ou com a liberdade com que podem “desfrutar das coisas boas da vida”; 3- vão interferir no relacionamento do casal, de modo que não poderão mais viver um para o outro. Mas será mesmo assim?
Penso que a resposta a uma indagação dessa envergadura depende de outros questionamentos ainda mais profundos, que tocam nas razões da nossa existência. Antes de responder se devemos ou não trazer novos seres ao mundo, deveríamos nos indagar com uma valente sinceridade: o que estou fazendo aqui? De onde vim? Para onde vou? Qual é o sentido dessa breve existência terrena?
É que a maternidade e a paternidade somente encontrarão o verdadeiro sentido se nos indagarmos acerca da nossa missão neste mundo. É que ser mãe e ser pai são uma verdadeira vocação. Bem por isso que a questão toca em algo que é essencial para a realização pessoal, com reflexos diretos e profundos na sociedade em que vivemos.
Tivemos a imensa alegria de conhecer o casal Josemaria Postigo e Rosa Pich. Eles formaram uma família muito grande. Foram 18 filhos. Muitos deles nasceram com problemas de saúde. Por esse motivo, o segundo filho, com apenas um ano e meio veio a falecer, quando mãe estava grávida do terceiro. Esse também faleceu um dia após o parto, quatro meses após a morte do irmão. E a filha mais velha, já adulta, faleceu há cerca de quatro anos. Apesar de tanto sofrimento, naquele lar somente se respira serenidade e alegria.
Certa vez, quando vieram de Barcelona a São Paulo para impulsionar o trabalho de orientação familiar no Brasil, durante uma conferência, alguém lhe formulou a seguinte pergunta: “Rosa, por que tantos filhos? Por que ter uma família tão numerosa no mundo de hoje?”. Fez-se um grande silêncio na plateia, ávida pela resposta. Ela, porém, com a simplicidade que lhe é tão peculiar, limitou-se a dar um beijo no rosto do marido, depois se voltou à sua interlocutora e respondeu: “É porque eu amo esse homem!”.

Noutra ocasião, enquanto os visitávamos em sua casa, uma brasileira que nos acompanhava fez a mesma pergunta. Naquela oportunidade, presenciava a conversa de uma das filhas, então pré-adolescente, com ares de rebeldia natural da idade, a quem tais assuntos não pareciam agradar muito. Mas a sábia mãe limitou a responder: “mira, qué guapa!” (veja, que linda!). A filha não conteve um sorriso de satisfação. Com gestos muito eloquentes como esses, Rosa e Chema souberam dizer ao mundo que os filhos são a personificação do amor profundo entre um homem e uma mulher.