sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Feliz Natal !


Ouvi certa vez que o Natal é um acontecimento alegre para as crianças. Para os adultos, porém, somente aumenta a tristeza por fazê-los lembrar dos tempos felizes da infância. Além disso, aquilo que para os menores era motivo de alegria, como a presença dos primos, dos tios, a ceia e os presentes, para os maiores, não raras vezes, acaba ensejando tensões e dissabores.
Indagando o motivo disso, vem-me à memória a célebre frase de Caetano Veloso, em sua composição Sampa: “É que Narciso acha feio o que não é espelho”. Talvez seja isso o que acontece. As crianças observam o presépio e veem ali refletido claramente o que se passa em seu interior. Os adultos, porém, não mais se espelham naquele acontecimento que, com o passar dos anos, a eles se tornou incompreensível. Com efeito, a cena reflete simplicidade, solidariedade, paz, anseio de vida, tudo facilmente encontradiço nas crianças. Quase tudo, ao contrário, acaba ofuscado nos homens e mulheres que deixaram de ser como as crianças.
Simplicidade. Aquela gruta é magnificamente simples. Falta-lhe tudo, mas, se considerarmos bem, há uma alegria tão intensa que se pode pensar que não falta nada.
Solidariedade. Os personagens que contemplamos são solícitos uns com os outros. O esposo ocupa-se da esposa e ela, dele e do menino que nasceu em um estábulo, junto com os animais. E desse desvelo de uns para com os outros brota um ambiente de terna serenidade.
Conta-se que a madre Tereza de Calcutá, uma eterna criança, uma vez foi observada por uma pessoa (um adulto, por certo), que contemplou o beijo e afago que fazia em um doente de aspecto repugnante. Diante disso, esse homem comentou que “nem por todo dinheiro do mundo faria isso”. E a bondosa religiosa respondeu: “nem eu”. Por dinheiro, tampouco ela o faria.
As crianças veem no presépio três personagens extremamente solidários uns com os outros, e se alegram porque isso reflete o que elas são. Os que deixaram de ser crianças, porém, imersos em seu egoísmo, em um afã desordenado de riqueza, de “status”, de fama, de poder, não conseguem enxergar isso.
Paz. As crianças não se preocupam se haverá peru, se o vinho será suficiente, se a cunhada chegará direto para a ceia e não ajudará na preparação... Nada disso lhes preocupa. Afina, é Natal! Talvez se preocupem um pouco em como quebrar as castanhas, mas não hesitarão em deixar as cascas atrás da porta, agora usada como quebra-nozes.
Anseio de vida. O Menino que se contempla no presépio nasceu para viver. Elas, as crianças, também. Não se sabe se por uns instantes, ou por cem anos. Não importa, todos vêm com uma missão e querem alcançá-la.
Se olhássemos para aquele menino na manjedoura, sabendo de antemão o seu destino, qual seja, uma vida de renúncias, sacrifícios e incompreensões e, ao final, a morte brutal numa Cruz, talvez ocorresse pensar: não vale a pena nascer e viver para isso...
As crianças, porém, não pensam assim. Elas dão a cada minuto um sabor de eternidade. Sabem que o que vale é o instante presente, sem se importar com o anterior, que já passou, nem com o seguinte, que não sabemos se chegará para qualquer um de nós.
A todos aqueles que descobriram a maravilha de ser uma eterna criança, um Feliz Natal!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

As palmadas na educação


Um tema sempre candente entre os profissionais da educação, com reflexo direto na atuação dos pais e na vida familiar, está no uso dos castigos físicos como técnica pedagógica.
Quando me perguntam se é possível ou aconselhável a palmada na criança em algumas situações, costumo responder, em especial às mães: “Sim, pode dar umas palmadas...”. Depois, diante da perplexidade que a resposta causa, acrescento: “porém, antes de bater, pare, reflita, faça um tempo de meditação, espere um dia ou dois, se for necessário e, quando estiver totalmente calma, quando estiver ‘zen’, mesmo, então volte e dê a palmada”.
Diante dessa resposta ,a reação é quase unânime: “ah, se eu fizer isso, então não vou bater nunca!...”. Pois é. Essa é a questão de fundo. Na imensa maioria das situações, o castigo físico não é fruto da reflexão, ou de uma atitude pensada em que se chaga a conclusão de que aquilo é necessário para educar. Na imensa maioria das vezes, é fruto da irritação e do nervosismo dos pais.
A autoridade só é legítima se busca o bem daqueles que lhe estão sujeitos. E isso não somente na família, mas em toda organização em que haja uma relação de poder. Por exemplo, um governante possui autoridade, mas somente será legítimo o seu exercício se a utiliza para promover o bem comum dos cidadãos. Com maior razão, os pais detêm autoridade em relação aos filhos, mas com o objetivo de educá-los, formá-los e orientá-los.
Assim, é fundamental para o bom exercício da autoridade o prestígio dos pais. Todos já tivemos oportunidade de conviver com uma pessoa sábia e ponderada. Quando ela se manifesta sobre um determinado assunto, sua opinião tem um peso enorme. Quando faz um pedido, ainda que de forma muito sutil, esse soa como uma ordem. Assim são as pessoas que possuem prestígio. Ora, é precisamente disso que necessitam os pais para exercer a autoridade.
E não é com violência que os pais adquirem o prestígio com os filhos. Adquirem-no com o espírito de serviço. Adquirem, também, na firmeza das convicções e na constância com que atuam para formar os seus filhos. As saudáveis rebeldias dos adolescentes não podem ser algo que abale as convicções mais profundas dos pais. Ao contrário, põem-nas a prova precisamente porque eles também querem tê-las, mas, antes de abraçá-las, precisam testar a sua consistência e profundidade.
A amizade com os filhos não retira a autoridade, antes a reforça. Coisa muito diferente disso, porém, é querer colocar-se no mesmo nível, como um “amiguinho” a mais. Não! Podemos e devemos ser amigos, sem jamais deixar de ser pai ou mãe, que sabem corrigir, inclusive energicamente, se necessário.
O uso da violência na educação dos filhos, em grande parte dos casos, é demonstração da fraqueza dos pais. Com efeito, é mais fácil dar uns gritos do que explicar uma vez e outra por que se deve agir de uma determinada maneira. É, também, menos incômodo dar uma palmada do que repetir uma ordem, com energia se necessário, buscando o bem dos nossos filhos.
Além disso, muitas vezes não se tem outro recurso para fazer com que as filhas e os filhos obedeçam. Isso porque, quando se está em casa e no convívio com eles(as) são mães e pais ausentes, ainda que presentes fisicamente. Fica-se mexendo no celular, computador, TV etc. e, enquanto não é incomodado(a) por algo dos(as) filhos(as), esses(as) não existem. Ora, nessa situação, quando as crianças fazem algo errado, não há outro meio para que façam obedecer que não a ameaça, o castigo ou a agressão mesmo.
Um grande desafio, portanto, é que as nossas ordens sejam um “por favor”, e que as crianças obedeçam. Isso é possível, conquanto que sejamos mães e pais que sabem construir a autoridade com espírito de serviço, procurando com fortaleza e a cada instante o bem das nossas filhas e dos nossos filhos.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Elas falam “A”, eles entendem “B”

Grande parte dos problemas conjugais, que não raras vezes podem acarretar uma séria crise no casamento, está relacionado ou tem como causa uma dificuldade na comunicação. A questão é complexa e não comporta análise exaustiva aqui. Mas é possível entendermos alguns aspectos que, se considerados, podem ajudar e salvar muitos relacionamentos.

Homens e mulheres são muito diferentes entre si. Durante muitos séculos a filosofia e a antropologia não cuidaram de estudar essas diferenças, simplesmente aceitando como verdade um aspecto que a todos parece óbvio: a dimensão física do ser humano.
Acontece que as diferenças não se limitam a isso. O ser mulher e o ser homem também apresenta manifestações diferentes nas demais dimensões do ser humano: racional, emocional, social e transcendente. Não quer dizer, como já temos repetido inúmeras vezes aqui, que um seja superior ou inferior, mas simplesmente que são diferentes.
Pois bem. Tais diferenças têm manifestações marcantes também na maneira como se comunicam. A mulher tem uma tendência para a comunicação indireta. Talvez pelo medo à rejeição, ou como consequência da sua intuição mais aguçada, ela costuma falar muito com sutilezas ou mesmo nas entrelinhas. Já o homem, por seu turno, tende a ser mais direto e tem notórias dificuldades para “pegar as ideias no ar”.
Tomemos um exemplo. Imaginemos que a mulher (esposa, namoradas etc.) queira sair para jantar numa data comemorativa e, tentando fazer com que seu plano aconteça, diz ao homem (marido, namorado...): “meu amor, você não gostaria de sairmos para jantar hoje?”. Se ele tiver algum problema, ou simplesmente não estiver com vontade, talvez lhe ocorra responder exatamente o que foi perguntado: “Não. Não gostaria porque nesse dia terá jogo do brasileirão”. Acontece que a pergunta dela não era propriamente uma indagação. Ao contrário, pretendia ela dizer: “eu gostaria de sair para jantar fora hoje”.
E a razão de fundo para tais diferenças na maneira de se comunicar se deve, segundo alguns especialistas, a uma razão de fundo. É que a mulher teme ser rejeitada. Assim, se formula um pedido explícito e recebe uma negativa, isso a atingirá numa parte muito sensível. Com efeito, o “NÃO” dele, ou seja, a negativa ao convite não soa como simplesmente um “não quero sair hoje”, mas como uma rejeição mesmo, tanto que ela fará conclusões do tipo: ele gosta mais do time de futebol do que de mim etc.
Já o homem, no mais das vezes, teme que se lhe considere incapaz ou incompetente. Tomemos outro exemplo um tanto pitoresco. Imagine que ele se dispõe a consertar algo em casa, talvez depois de inúmeras insistências da esposa. Ela, querendo agradá-lo lhe ocorre perguntar: “você está conseguindo?”. Talvez com essa pergunta ela quisesse dizer: “precisa de ajuda?”. No entanto, a dúvida sobre a capacidade dele pode soar como uma ofensa.
Nesse sentido, talvez um grande desafio é cada qual descobrir que estão unidos a uma pessoa diferente, que pensa de maneira diferente, que tem sentimentos diferentes, que se relaciona com os demais com linguagens diferentes. E isso a levará a ser mais direta, tanto quanto lhe for possível. E, da parte dele, a tentar compreendê-la. Para isso, talvez sirva de ajuda perguntar a ela – com muita frequência – o que ela deseja. Assim, à indagação dela se gostaria de sair, seria muito oportuna outra pergunta: “Você gostaria de sair hoje?”.
Se quiser saber mais sobre este tema, acesse o vídeo do meu canal do Youtube :  https://www.youtube.com/watch?v=MdnTZEETxwk

Filhos: “posso bisbilhotar no seu celular?”


Uma grande tentação de muitas mães e pais, quando as nossas filhas e os nossos filhos deixam de ser crianças, é tentar saber por onde andam navegando na Internet, o que assistem no Smartphone, quem seguem no Instagram ou curtem no Facebook e com quem conversam e sobre o quê no Whatsapp. Até que ponto podemos nos intrometer? Temos o direito de bisbilhotar no seu celular?

Não há educação sem liberdade. Alguns animais podem ser adestrados para que assumam determinado comportamento. Já ser humano pode ser educado, nunca adestrado. E educar está muito relacionado com a atitude de transmitir conhecimentos ou experiências, propor condutas ou modos de agir, sugerir e orientar. Porém, o educando somente poderá apreender o que lhe é transmitido e aplicá-lo na sua vida se o quiser livremente.
Essa noção de educação, porém, pressupõe que se tenha verdadeiro conceito de liberdade, que é a capacidade de agir ou não agir e, assim, de realizar por si mesmo ações conscientes e deliberadas. Mas a liberdade somente atinge a sua perfeição se for orientada para a busca do bem. Isso implica, em última análise, no seguimento da missão que Deus confia a cada ser humano.
Disso podemos concluir que as nossas filhas e os nossos filhos somente serão pessoas íntegras, honestas, justas, fortes e prudentes se se decidirem a sê-lo livremente. Jamais conseguiremos forçá-las(os) a isso.
Essa consideração, num primeiro momento, pode causar aflição. Com efeito, se temos de respeitar a liberdade das nossas filhas e dos nossos filhos, ao notarmos que se enveredam por caminhos tortuosos, nos quais sabemos que não encontrarão a paz e a felicidade tão almejada, sentimo-nos angustiados e, não raras vezes, impotentes para enfrentar a situação.
Um bom caminho para reencontrarmos a tranquilidade – e também agirmos de maneira mais eficaz – é considerar que as filhas e os filhos, antes de serem nossos, são filhas e filhos de Deus. É Ele quem nos confia a missão de orientá-los e guia-los pelos caminhos deste mundo. Muitas vezes nos esquecemos dessa realidade e por isso perdemos a paz.
Se formos mães e pais atentos, que se interessam pelos seus assuntos, que se esforçam para ir busca-las(os) ao final de uma festa, p.ex., ainda que tenham carona de um amigo, se observamos como se comportam em casa, em suma, se olhamos nos olhos e procuramos saber se estão felizes, não é necessário bisbilhotar no celular. Isso porque, quando estamos atentos e vigilantes, os fatos que são relevantes para educa-las(os) bem, no momento adequado, ficaremos sabendo, sem a necessidade de invadir sem permissão a sua intimidade.
Além disso, é fundamental demonstrarmos confiança. É preferível correr o risco de que nos enganem – ou pensem nos enganar – uma vez ou outra, do que demonstrar desconfiança. Quando sabem que confiamos nelas(es), isso, por si só, é um alento enorme para agirem bem. Sabemos por experiência própria o quão difícil é desapontar uma pessoa a quem amamos e que confia em nós.
Somos cooperadores de Deus nessa nobre e sublime missão de educar. Não pretendamos, portanto, substituí-Lo nisso. Ele sim sabe absolutamente tudo o que as nossas filhas e os nossos filhos fazem e pensam a cada instante. E, se formos fiéis ao que Ele nos confia, no momento adequado fará com que saibamos o que for necessário.
A liberdade é um dos maiores dons que nos foi concedido. Não é possível educar seres livres suprimindo-a ou desrespeitando-a, precisamente porque uma grande meta da educação é precisamente ensinar a utilizá-la com responsabilidade.
Se quiser saber mais sobre isso, assista ao vídeo que está disponibilizado em meu canal do Youtube : https://www.youtube.com/watch?v=l0hHhWiuP9U

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Educação domiciliar


Tem crescido e ganhado notoriedade no Brasil o homeschooling ou educação domiciliar. Antes de abordar o tema, analisei os argumentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal no processo em que essa questão foi ali apreciada. No entanto, não pretendemos analisar a questão sob um enfoque jurídico. Também não traremos uma lista de prós e contras. Antes disso, gostaríamos de trazer à reflexão os aspectos morais que devem nortear a decisão dos pais na escolha do modelo educativo.
A nossa Constituição Federal, em seu artigo 205, assegura que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, o que deve ser promovido e incentivado com a colaboração da sociedade. Porém, antes mesmo que isso estivesse previsto em qualquer norma jurídica, os filhos têm um direito natural de ser educados por seus pais. E esses, por sua vez, têm também o direito e o grave dever de cuidar da educação da prole. Com efeito, o ato de gerar uma nova vida é indissociável da missão de formar esse ser de modo a atingir o desenvolvimento da sua personalidade.
Mais ainda. Se mãe e pai cooperam com Deus na nobre e sublime missão de gerar a vida, igualmente lhes é confiada a responsabilidade de guiar essa filha e esse filho nos caminhos deste mundo. Daí que esse direito inerente à maternidade e à paternidade é irrenunciável e, como dito, antecede a própria existência do Estado e do direito que desse emana.
Portanto, a mãe e o pai devem exercer um protagonismo na educação. É evidente que não estão acima da Lei. Ademais, vivemos numa democracia na qual felizmente são muito raras as situações em que o cumprimento das normas vigentes possa contrastar com a nossa consciência. De qualquer modo, porém, é fundamental seguir sempre essa luz interior nas nossas escolhas e decisões.
Assentada essa premissa, a escolha do modelo educativo deve buscar sempre o que vislumbramos como o melhor para os filhos. Há famílias em que os pais não dispõem de tempo, de conhecimento suficiente ou mesmo de disposição para se dedicarem à educação domiciliar. E nesse caso – que, aliás, é a imensa maioria – deverão procurar, na medida das suas possibilidades, a instituição de ensino que cultue valores semelhantes aos seus. E se não houver, cuidarão de amenizar os efeitos negativos que alguns temas tratados nos colégios possam ter na vida dos filhos. De qualquer modo, não poderão delegar integralmente à escola a formação dos filhos.
Mas há também as famílias em que se dispõe de tempo, aptidão e disposição para se dedicar à educação também nos assuntos que comumente são confiados à escola. Mais ainda, por vezes essas estão inseridas num contexto – local de residência, condição econômica, instituições de ensino disponíveis etc. – em que nos colégios disponíveis se encontraria uma formação muito destoante dos valores nos quais acreditam. Assim, se a mãe e o pai, após estudar com profundidade o assunto, buscarem um aconselhamento adequado e chegarem à conclusão de a educação familiar é a melhor para a sua situação, penso que então terão o grave dever de seguir as suas consciências.
Há uma passagem no Livro dos Atos dos Apóstolos em que Pedro e João foram proibidos pelas autoridades de ensinassem em nome de Jesus, ao que eles responderam: “Julgai-o vós mesmos se é justo diante de Deus obedecermos a vós mais do que a Deus”. Esse trecho da Sagrada Escritura esclarece uma questão moral de importância vital. Se a consciência é a dimensão do nosso ser na qual nos vemos a sós com Deus, haveremos de segui-la sempre. E se essa nos aponta que, dadas as condições e as circunstâncias em que nos encontramos, que devemos cuidar pessoalmente da educação integral dos nossos filhos, não há autoridade neste mundo que possa legitimamente nos impedir de fazê-lo.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

A missão do pai


Certa vez alguém me formulou a seguinte pergunta: “você ajuda a sua esposa em casa?”. Refleti um pouco sobre o assunto e respondi decididamente: “Não. Não ajudo”. Diante da perplexidade que a resposta poderia causar, senti-me na obrigação de explicá-la melhor.
O verbo ajudar, em grande parte das situações em que é utilizado, denota ausência de responsabilidade direta sobre o assunto; uma atitude de auxiliar, quase que um favor que se presta. Mas essa não é – não deveria ser – a postura do pai em casa.
Muitos pais se gabam de que ajudam a lavar a louça, ajudam – quando lhes é solicitado – na lição de casa com os filhos, ajudam a fazer compras no supermercado. Enfim, são bons ajudantes... Acontece que a administração da família exige uma parceria, uma corresponsabilidade em todos os assuntos relacionados com a educação dos filhos, com o cuidado da casa e, principalmente, com os detalhes de carinho e afeto com a esposa.
Não há aqui ajudantes. Há parceiros igualmente responsáveis em levar esse empreendimento maravilhoso adiante. Isso não quer dizer que se deva manter igual dedicação de tempo a essas atividades. É possível que, dadas as circunstâncias de cada família, ora a mãe, ora o pai disponha de mais tempo para se dedicar aos filhos e à casa. Mas mesmo nessas situações é necessário ressaltar que a responsabilidade é dos dois. Isso implica o esforço para saber como foi o dia dos filhos, como está o seu rendimento escolar. Trata-se, também, de se interessar pelos assuntos da casa e, em especial, sobre como foi o dia da esposa.
Há famílias em que a mãe opta, ao menos em algum período da sua vida, por se dedicar exclusivamente aos filhos e aos cuidados do lar. Penso que essa opção deveria ser mais valorizada e respeitada. Todos os trabalhos honestos são igualmente dignos. Não há tarefas mais nobres que as outras. O melhor trabalho, portanto, é aquele que se faz com mais amor. Mas se tivesse de escolher dentre as inúmeras profissões uma mais sublime, com certeza escolheria a de mãe. É que desse trabalho abnegado depende que se fomente nos filhos as virtudes das quais dependem o próprio futuro da nossa sociedade.
Mas para que a mãe desempenhe essa nobre missão, é necessário que o pai também cumpra o seu papel. E esse não é um mero coadjuvante. O pai é chamado a desempenhar um protagonismo na educação dos filhos e, também, zelando para que em casa se respire esse ar de serenidade e alegria que emana de um lar luminoso e alegre.
O dia de um pai é como um jogo de futebol em que sempre há prorrogação. Pela manhã inicia o primeiro tempo. Levantar, filhos para a escola, trabalho etc. Após uma pausa para o almoço, inicia-se o segundo tempo: mais trabalho, problemas para resolver, assuntos a tratar... Mas o jogo não termina no final do expediente. De noite, há o terceiro tempo. Esse é o mais importante. Começa agora o esforço para chegar bem humorado a casa, tratar a esposa com carinho, interessar-se pelos assuntos dos filhos. E por mais que tenhamos jogado bem no primeiro e no segundo tempo, é na prorrogação que se decide o jogo. Isso quando não vai para os pênaltis, com uma criança doente de madrugada etc.
Essa é a nobre e sublime missão do pai. Estressante? Cansativa? Sim. Porém, maravilhosa. Que a comemoração do dia dos pais e da semana da família avive em cada um de nós o desejo e a responsabilidade de sermos verdadeiramente pais dos nossos filhos. E, para isso, não nos esqueçamos jamais daquela sem a qual não teríamos chegado à paternidade: a mãe dos nossos filhos.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Como superar uma crise conjugal?


Este curso é um passo a passo em cinco etapas, nas quais aprenderemos a:
✔ Driblar os pensamentos negativos, redirecionando-os a uma atitude proativa, focada no que podemos fazer para mudar a situação.
✔ Refletir sobre a nossa decisão de romper ou manter o casamento e as suas consequências.
✔ Recuperar a capacidade de admirar o outro.
✔ Ganhar intimidade, que é fundamental num relacionamento conjugal saudável.
✔ Dialogar. Vamos conhecer uma ferramenta que nos auxiliará a conversar com eficácia e, com isso, administrar com eficiência a nossa família.

Assista a aula de apresentação:

Como superar uma crise conjugal


Vantagens do curso

O curso oferece dicas simples e práticas. Não se trata de um curso teórico.

A execução de todas as etapas sugeridas exige esforço e determinação. Porém, estamos certos da sua eficácia se ambos estiverem dispostos a empreender juntos esse caminho.

Oferecemos cinco aulas em vídeos, acompanhadas de textos sobre os mesmos temas.

Além disso, sugerimos material complementar, que ajuda a aprofundar nos assuntos abordados.

Temos uma equipe preparada para tirar as suas dúvidas e prestar os esclarecimentos que forem necessários.

Você poderá cancelar a compra em até 15 dias após a aquisição. Com isso, será reembolsado integralmente o valor pago.


Entenda melhor a nossa proposta

Este curso é um passo a passo para superar uma crise no relacionamento conjugal. Faremos isso em CINCO PASSOS:

PRIMEIRA AULAS (Disponível no ato da compra):
MUDAR O FOCO. Precisamos mudar radicalmente a forma como encaramos o problema.

SEGUNDA AULA (Disponível 7 dias após a compra)
Elaborar uma lista de consequências. Vamos propor alguns filmes que nos ajudarão a REFLETIR, quando veremos que o divórcio muitas vezes não é a melhor solução.

TERCEIRA AULA (Disponível 14 dias após a compra)
Recuperar o apreço. Numa grave crise conjugal, o casal entra numa situação inversa à do namoro. Por que? Como podermos reverter isso?

QUARTA AULA (Disponível 21 dias após a compra)
Recuperar a intimidade. O relacionamento começa a se definhar quando a intimidade deixa de ser compartilhada. Como mudar isso?

QUINTA AULA (Disponível 28 dias após a compra)
Reconstruir o diálogo. Como usar essa ferramenta para administrar a família e para crescer no amor conjugal?

O curso é para casais e a sua eficácia depende de que AMBOS PARTICIPEM, ainda que possam assistir as aulas em momentos e locais diferentes.
É sempre possível superar uma crise conjugal. Basta estejam decididos a LUTAR JUNTOS.
A estratégia do curso foi pensada para auxiliar na difícil tarefa de vencer uma crise conjugal. Isso exige que sejam tomadas medidas que precisam ser implementadas aos poucos.
Por isso, a primeira aula será liberada imediatamente após à aquisição.
As demais serão liberadas sempre 7 dias após a liberação da anterior. Isso para que o casal possa fazer a  ação sugerida ao final de cada aula e, somente após isso, dar o passo seguinte.
As aulas ficarão disponíveis por um ano. Nossa proposta é dar uma ferramenta para superarmos esse momento difícil do relacionamento. E, uma vez superada essa fase, as ações para melhorar o seu casamento serão outras. Por isso, cinco a dez semanas será suficiente para se atingir os objetivos propostos.
Estamos certos de que, seguindo esse passo a passo, já terão aprendido a trilhar o caminho de volta à felicidade no seu relacionamento conjugal.

Quero me inscrever: Acesse aqui

domingo, 31 de março de 2019

Intrigas digitais

Dentre as inúmeras transformações que o WhatsApp – e outros aplicativos das chamadas redes sociais – trouxe às nossas vidas, está a possibilidade de se criarem grupos de pessoas, segundo os mais variados critérios e centros de interesses, onde se compartilham fatos, experiências, opiniões, curiosidades etc.
Essa novidade, sem o risco de incorrermos em exagero, pode ser qualificada com uma verdadeira revolução, dado o impacto que trouxe para a vida das pessoas, da sociedade e do próprio Estado. Prova disso está, por exemplo, na mudança significativa nas campanhas eleitorais. Com efeito, quem viveu no tempo em que a divulgação dos candidatos se dava com a afixação de panfletos nos postes de iluminação, ao observar o que ocorre nas últimas eleições, aqui e no mundo, verá que a mudança foi radical.
Como quase toda mudança, há aspectos positivos e negativos. A velocidade com que se difunde a informação pode ser muito interessante e trazer inúmeros benefícios. Porém, com a mesma rapidez também se difunde a mentira, agora intitulada como Fake News, a calúnia, a maledicência e, também – e que nos interessa mais diretamente agora – a discórdia.
Quando pessoas se unem segundo certos critérios, por exemplo, moradores de um condomínio, colegas de trabalho, torcedores de um time de futebol, adeptos de certa ideologia etc., em geral, buscam coisas que edifiquem a todos, tais como compartilhar conhecimentos, interesses, ou mesmo a luta por certas questões. Porém, com grande frequência, aquilo que reuniu pessoas movidas por interesses comuns, resvala para a crítica aos que pensam ou agem diferentemente, ou possuem crenças, posições ou opiniões divergentes. Em suma, um grupo que era para algo se transforma em um grupo contra algo, contra pessoas ou contra outros grupos.
Esse fenômeno, em sua essência, não é uma exclusividade dos tempos atuais. A natureza social do ser humano sempre fez com que pessoas se reunissem para as mais diversas finalidades. Por consequência, as associações existem há séculos. E nelas, com grande frequência, uma reunião que seria para buscar algo se deturpa para atacar pessoas por motivos de raça, religião etc. Aliás, muitas entidades secretas já nasciam com um propósito de lutar contra outros grupos pelos mais diversos motivos.
Mas o que há de novidade na situação atual é a velocidade com que as coisas acontecem. Assim, aquilo que no passado exigia reflexão, tenacidade e perseverança para se concretizar, hoje acontece em segundos. Com isso, atitudes impensadas têm consequências desastrosas e, muitas vezes, irreversíveis. Uma informação distorcida ou falsa se alastra rapidamente, de modo que é quase impossível contê-la ou mesmo atenuar as suas consequências nefastas.
Nesse contexto, uma qualidade fundamental da mulher e do homem do nosso tempo é – ou deveria ser – a prudência. Essa, ao contrário do que muitos pensam, não é a marca da pessoa indecisa, quase sempre inativa, que deixa de agir por medo de errar. Prudente é a pessoa que sabe em cada situação procurar o verdadeiro bem e escolher os meios adequados para alcançá-lo. Diz-se dela que é “auriga virtutum” a condutora das virtudes, pois orienta a tudo o mais, dando a cada situação o seu peso e a sua medida.
Convém, portanto, refletir acerca das consequências que pode trazer um simples toque numa tecla “enviar”, ou “send” (ou o seu símbolo equivalente). Com efeito, tal como o gatilho de uma arma que se trazia na cintura décadas ou séculos atrás, o seu acionamento pode ter efeitos terríveis na vida das pessoas ou das instituições. De igual modo, é obrigação grave de todo educador, em especial os pais e professores, formar o sentido de responsabilidade nos jovens, que cada vez mais andam armados por todos os lados, portando esse equipamento de elevado poder lesivo chamado smartphone.

quarta-feira, 20 de março de 2019

A mídia e o compromisso com a verdade


Proliferou-se na mídia e nas redes sociais a notícia de que uma Juíza de Campinas, numa sentença criminal, teria se valido de expressões preconceituosas. Trata-se de um processo em que o réu foi acusado de latrocínio. A defesa alegou nulidade do reconhecimento do réu feito pelas testemunhas. É que a Lei exige que a pessoa a ser reconhecida deve ser colocada ao lado de outras que com ela tiverem alguma semelhança. E isso não foi feito.
Enfrentando a questão, dentre outros argumentos para a condenação, a Magistrada disse: “Vale anotar que o réu não possui o estereótipo padrão de bandido, possui pele, olhos e cabelos claros, não estando sujeito a ser facilmente confundido”.
Analisada a expressão no contexto em que foi utilizada, não há nada de preconceituosa. Trata-se de um crime grave em que uma pessoa foi morta numa tentativa de roubo. A defesa buscou a absolvição com ênfase na nulidade do processo, por não se colocar ao lado do réu outras pessoas parecidas com ele no ato de reconhecimento. Assim, o argumento foi lançado na sentença de modo a reforçar o valor probatório do depoimento das testemunhas, que apontaram o réu como o autor dos disparos que culminou na morte da vítima.
Vejamos, porém, como os fatos foram noticiados. Revista Veja: “Juíza escreve na sentença que homem não parecia bandido por ser branco”. Na Globo News, em matéria levada ao ar recentemente, uma jornalista convidada a comentar o caso, disse textualmente: “Como eu tenho esse cabelo claro e tenho olho azul, eu posso matar todo mundo, ou posso fazer qualquer coisa, sair roubando as pessoas porque eu não tenho estereótipo aí de assassino, né?!”. E, mais adiante, afirma ela: “se a pessoa é clarinha, de olhinho claro, quem sabe ela tem até uma pena mais camarada, né?”.
Acontece que o réu do processo foi condenado a 30 anos de reclusão! E o argumento foi utilizado apenas para reforçar o valor probatório dos testemunhos, que apontavam o réu como autor dos disparos.
Talvez seja ainda uma triste realidade que em nosso País predomina o “PPP” entre os acusados e condenados. Bem por isso que é notório que os traços físicos do réu em questão destoam da imensa maioria da população carcerária brasileira. No entanto, em momento algum a juíza manifestou qualquer juízo de valor acerca dessa questão.
É célebre o adágio de que “o texto fora do contexto vira pretexto”. Se trouxermos o mesmo para ação de certos segmentos da nossa imprensa, é possível afirmar que o texto fora do contexto, vira pretexto para a injúria, para a difamação e para a maledicência. Com o devido respeito aos profissionais que agiram assim, é precisamente isso que se fez no caso em questão. Pinçaram uma frase da sentença, passando a denegrir injustamente a imagem da magistrada. Tanto que em muitas das matérias publicadas, dava-se a impressão que o argumento foi utilizado para absolver o réu!
Vivemos num momento em que tudo o que possa representar um descrédito ao Poder Judiciário ganha força na mídia com uma virulência nunca vista. Penso que deveríamos refletir com coragem sobre o motivo disso. Reportagens como aquelas acima mencionadas têm como origem apenas uma análise superficial do fato noticiado?
É curioso notar que tal campanha surge precisamente quando o avanço de operações policiais, às quais se seguem denúncias pelo Ministério Público e condenações pelo Poder Judiciário, têm desvendado organizações criminosas e levado ao cárcere muitos réus de pele, olhos e cabelos claros e, além disso, ricos e poderosos. Seriam tais ataques neste momento simples e mera coincidência?

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Brumadinho e o brasileiro


Certa vez, num aeroporto de um País da Europa, observando o comportamento de um turista, um amigo me disse: “aquele ali é brasileiro”. Como ele não usava sandálias havaianas, perguntei como sabia disso. “Veja – explicou – ele vinha caminhando a procura de algo e, quando chegou ao balcão da locadora de veículos que procurava, não hesitou em deixar o seu carrinho repleto de malas bem no meio do corredor, sem sequer cogitar que, com isso, iria dificultar a passagem de outras pessoas”.



E a cena se repete aqui com muita frequência. São os motoristas que conversam no celular enquanto dirigem, de modo que seguem ziguezagueando pelas ruas e avenidas, colocando em risco a vida de inúmeras pessoas. São, ainda, os pais e as mães que param em fila dupla enquanto esperam a filha ou o filho saírem do colégio. Ou, também, é o motorista que não avança no sinal verde porque precisou terminar de digitar e enviar – bem naquela hora – a mensagem de WhatsApp etc.

Essas atitudes, ainda que muitas vezes sejam justificadas por uma certa “espontaneidade” do brasileiro, no fundo tem uma causa perversa. Pouco se importa que outros também precisam passar, que se está travando o trânsito, ou colocando a vida própria e alheia em risco. Na verdade, nem se pensa nisso. O que importa é o que cada um precisa ou deseja de fazer. Os outros, que esperem... Isso tem um nome: egoísmo.
No caso de Brumadinho, ainda não há provas conclusivas de que tenha havido omissão ou negligência dos responsáveis, nem que isso tenha sido a causa do acidente. Aliás, triste repetição da catástrofe de Mariana! Seria aqui uma simples replicação daqueles gestos tão corriqueiros de descaso com a pessoa do próximo? Será que só nos damos conta dessa postura tão arraigada quando as consequências são terríveis, como ocorreram nessas tragédias?

Não seria correto concluir, a partir dessas considerações, que o brasileiro é egoísta e que, por esse motivo, o nosso trânsito é um dos mais violentos do mundo, que os desastres acontecem aqui com inaceitável frequência, muitas vezes como consequência do descaso perante milhares de famílias que vivem em situação de risco. Isso porque tal defeito não é exclusividade nossa. Ao contrário, faz-se muito encontradiço – ainda que com manifestações diversas – em qualquer local do planeta.

Noutros Países, porém, considerados como mais desenvolvidos, há uma melhor educação, no sentido de respeitar as leis de trânsito e como se portar nos locais públicos de modo a se promover uma convivência harmônica com os demais. E, principalmente, uma maior preocupação do Poder Público e das pessoas incumbidas de atuar em atividades de risco em ser diligentes e rigorosas no cumprimento das normas de segurança.

Nunca gostei de comparações como a que fazemos agora, que levam a pensar que o que fazemos aqui é ruim e que, noutros locais – em especial na Europa Ocidental, na América do Norte e no Japão – tudo é bom e funciona magnificamente. O brasileiro em geral já tem uma baixa autoestima. E essa maneira de abordagem agrava esse problema. No entanto, temos de admitir que enfrentamos um problema crônico no que tange a ações efetivas de respeito à vida e à pessoa do próximo.

Por outro lado, porém, ninguém se iguala a nós em compaixão e afeto. É interessante notar como duas pessoas que sequer se conhecem, ao entabular uma breve conversa num transporte público, por exemplo, logo abrem suas vidas como se conhecessem há anos. Com efeito, somos verdadeiramente um povo que tem coração!

Ao conjugar essas duas tendências opostas, é um grande desafio dos nossos educadores, em especial os pais e professores, colocar o amor ao próximo também na inteligência e não apenas no coração. Com isso, seremos mais diligentes em pensar – e não apenas em sentir – sobre como as nossas ações, grandes ou pequenas, podem repercutir nas outras pessoas. Isso terá muitas implicações: o respeito às leis de trânsito; pensar e agir de modo a facilitar a vida dos demais num local público e; principalmente, a intransigente diligência e cuidado ao se promover a construção ou manutenção de obras que possam implicar risco à vida de outros seres humanos.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Superendividamento



Pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio aponta que, em outubro de 2.018, o percentual de famílias que relataram ter dívidas entre cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro alcançou 60,7%. O estudo também revela que 23,5% possuem dívidas com atraso e 9,9% declararam que não terão condições de pagar os seus débitos!
Diante desses dados, vem à memória os sábios conselhos que dava um grande homem em palestra ministrada a casais. Dizia ele: “uma família com dívidas é presa fácil do diabo”. É claro que essas palavras precisam ser entendidas no contexto em que foram ditas. Com elas queria o palestrante dizer que as aflições geradas pelo endividamento excessivo podem colocar o casal em briga, quiçá cada um atribuindo ao outro a responsabilidade pela situação, gerando conflitos que agravam o problema e, pior, repercutem muito negativamente na educação dos filhos e no ambiente familiar.
Diante desse cenário, o que se pode fazer para superar essa dificuldade sem comprometer a harmonia e a paz no lar?
Para enfrentar o problema é fundamental recuperar a serenidade. E essa virá, de certo modo, quando se vislumbrar “uma luz do fim do túnel”. Enquanto se ficar repetindo a todo o tempo que não há solução, que tudo está perdido etc., cria-se um ambiente de angústia e aflição que paralisa as nossas ações, mingua as nossas forças, podendo nos afundar num desalento difícil de ser superado.
É necessário um planejamento financeiro. Trata-se de fazer uma estimativa real das receitas e, feito isso, elaborar um orçamento, prevendo as despesas. Não vamos aqui descer a minúcias de como fazer isso. Existam muitos softwares e dicas para se controlar o orçamento doméstico. Utilizamos em casa há alguns anos o YNAB, que significa You Need A Budget. Em português, “Você Precisa de um Orçamento”.
 Convém ressaltar, porém, não há regras fixas. Algo que funciona para umas pessoas, para outras não. O fundamental é saber exatamente o quanto se ganha e, a partir daí, o quanto se pode gastar em cada item que compõe o orçamento doméstico, esforçando-se para ficar dentro desses limites.
Acontece que as pessoas gravemente endividadas não se sentem com forças para elaborar um orçamento: “não consigo sequer pagar as minhas dívidas, como posso pensar num orçamento?”, dirão talvez. No entanto, quando falta esse planejamento para a situação de normalidade, também não se consegue traçar um plano para sair do vermelho. E se por acaso conseguem de algum modo sair das dívidas, por ausência de planejamento, cedo ou tarde voltam a se afundar nelas.
Também há que se tomar muito cuidado ainda com as “soluções mágicas”. Elaborar um orçamento se esforçar para manter os gastos dentro desses limites custa, para a grande maioria das pessoas, esforços e sacrifícios. Como nem sempre se está disposto a percorrer esse árduo caminho, muitos vivem de ilusão: “vou jogar na megasena e não pensarei mais nisso”. Pior ainda acontece quando, movido pelo desespero, acredita-se em pessoas ou instituições inescrupulosas, que prometem eliminar ou reduzir drasticamente as dívidas como que num “passe de mágica”.
De fato, por vezes a situação será tão crítica que não haverá outro remédio que não negociar com os credores. E há instituições sérias que auxiliam nisso. No entanto, mesmo para isso é necessário um planejamento. Do contrário, novamente se assumem compromissos que não poderão ser honrados, agravando ainda mais a situação no futuro.
Por fim, para os casais que passam por esses percalços convém que estejam muito unidos. As dificuldades podem unir ou separar os cônjuges. Tudo depende da postura que se assume diante delas. Talvez seja o momento de recordar a si próprio e aos filhos que “tem mais quem precisa de menos”. Aliás, se pensarmos bem, as melhores coisas da vida são gratuitas. Quanto custa contemplar um por do sol? Quanto vale o sorriso afetuoso ou o abraço carinhoso de um filho? Enfim, como pagar o amor que Deus tem por cada um de nós?

Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya– UIC. E-mail: fabiohptoledo@gmail.com