domingo, 17 de fevereiro de 2019

Superendividamento



Pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio aponta que, em outubro de 2.018, o percentual de famílias que relataram ter dívidas entre cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro alcançou 60,7%. O estudo também revela que 23,5% possuem dívidas com atraso e 9,9% declararam que não terão condições de pagar os seus débitos!
Diante desses dados, vem à memória os sábios conselhos que dava um grande homem em palestra ministrada a casais. Dizia ele: “uma família com dívidas é presa fácil do diabo”. É claro que essas palavras precisam ser entendidas no contexto em que foram ditas. Com elas queria o palestrante dizer que as aflições geradas pelo endividamento excessivo podem colocar o casal em briga, quiçá cada um atribuindo ao outro a responsabilidade pela situação, gerando conflitos que agravam o problema e, pior, repercutem muito negativamente na educação dos filhos e no ambiente familiar.
Diante desse cenário, o que se pode fazer para superar essa dificuldade sem comprometer a harmonia e a paz no lar?
Para enfrentar o problema é fundamental recuperar a serenidade. E essa virá, de certo modo, quando se vislumbrar “uma luz do fim do túnel”. Enquanto se ficar repetindo a todo o tempo que não há solução, que tudo está perdido etc., cria-se um ambiente de angústia e aflição que paralisa as nossas ações, mingua as nossas forças, podendo nos afundar num desalento difícil de ser superado.
É necessário um planejamento financeiro. Trata-se de fazer uma estimativa real das receitas e, feito isso, elaborar um orçamento, prevendo as despesas. Não vamos aqui descer a minúcias de como fazer isso. Existam muitos softwares e dicas para se controlar o orçamento doméstico. Utilizamos em casa há alguns anos o YNAB, que significa You Need A Budget. Em português, “Você Precisa de um Orçamento”.
 Convém ressaltar, porém, não há regras fixas. Algo que funciona para umas pessoas, para outras não. O fundamental é saber exatamente o quanto se ganha e, a partir daí, o quanto se pode gastar em cada item que compõe o orçamento doméstico, esforçando-se para ficar dentro desses limites.
Acontece que as pessoas gravemente endividadas não se sentem com forças para elaborar um orçamento: “não consigo sequer pagar as minhas dívidas, como posso pensar num orçamento?”, dirão talvez. No entanto, quando falta esse planejamento para a situação de normalidade, também não se consegue traçar um plano para sair do vermelho. E se por acaso conseguem de algum modo sair das dívidas, por ausência de planejamento, cedo ou tarde voltam a se afundar nelas.
Também há que se tomar muito cuidado ainda com as “soluções mágicas”. Elaborar um orçamento se esforçar para manter os gastos dentro desses limites custa, para a grande maioria das pessoas, esforços e sacrifícios. Como nem sempre se está disposto a percorrer esse árduo caminho, muitos vivem de ilusão: “vou jogar na megasena e não pensarei mais nisso”. Pior ainda acontece quando, movido pelo desespero, acredita-se em pessoas ou instituições inescrupulosas, que prometem eliminar ou reduzir drasticamente as dívidas como que num “passe de mágica”.
De fato, por vezes a situação será tão crítica que não haverá outro remédio que não negociar com os credores. E há instituições sérias que auxiliam nisso. No entanto, mesmo para isso é necessário um planejamento. Do contrário, novamente se assumem compromissos que não poderão ser honrados, agravando ainda mais a situação no futuro.
Por fim, para os casais que passam por esses percalços convém que estejam muito unidos. As dificuldades podem unir ou separar os cônjuges. Tudo depende da postura que se assume diante delas. Talvez seja o momento de recordar a si próprio e aos filhos que “tem mais quem precisa de menos”. Aliás, se pensarmos bem, as melhores coisas da vida são gratuitas. Quanto custa contemplar um por do sol? Quanto vale o sorriso afetuoso ou o abraço carinhoso de um filho? Enfim, como pagar o amor que Deus tem por cada um de nós?

Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya– UIC. E-mail: fabiohptoledo@gmail.com


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