Todos nós, pais, temos acompanhado indignados e com
repulsa a atitude insana que levou uma pessoa a atirar uma criança pela janela
de um edifício. No entanto, além da indignação, que é natural, talvez assumamos
outra postura carregada de soberba, que leva a nos considerarmos o melhor pai ou
a melhor mãe do mundo, “afinal, eu jamais atiraria um filho pela janela”,
podemos pensar. Mas será que estamos sendo de verdade bons pais? O
questionamento é importante, pois, acontecimentos marcantes e dolorosos como
esses podem ser oportunidades para uma análise mais profunda e, a partir dela,
nos propormos metas de melhora pessoal.
Assim, caros pais, como é o seu relacionamento com o
seu filho pela manhã? A primeira frase que ele ouve é um “bom dia, meu amor!”,
ou é uma piadinha que o irrita? Ou será um simples “acorda, que estou atrasado
(ou atrasada) para ir ao trabalho”?
E no final do dia, como é a chegada a casa? A vinda
do pai é motivo de alegria, ou, ao contrário, ao se abrir a porta é como se entrasse
uma nuvem negra que carrega e torna tenso o ambiente? Há, por parte de você,
pai, um esforço por sorrir, por ajudar a esposa nas tarefas da casa, com o
jantar, com a atenção aos filhos, ou, ao contrário, ao final de um dia
estressante, sente-se no direito de esparramar-se na poltrona e esperar que os
outros o sirvam?
E você, mãe, apesar do cansaço, esforça-se por estar
alegre, acolhedora, ou, ao contrário, apenas aguarda o marido chegar para
descarregar uma lista interminável de reclamações e lamentações, como se o
ouvido do marido fosse uma espécie de receptor de desabafos?
Vivemos num mundo fortemente dominado pelo egoísmo, e
é preciso reagir a tempo, sob pena de incidentes dolorosos com o que
vivenciamos no momento se repitam com uma freqüência cada vez maior.
As crianças, por sua vez, sedentas de carinho, de
afeto, de atenção, reagem de formas muito diferentes, segundo as suas
características, quando isso não lhes é dado pelos pais. Umas se retraem, ficam
acanhadas, apáticas. Outras, grande parte delas, desenvolvem uma forte
rebeldia, que as leva a fazer birras, desobedecer, espernear. No fundo, são
formas de dizer: “pai, mãe, eu estou aqui. Dá para sair um pouquinho da TV, do
seu trabalho, das suas coisas, dos seus problemas e me dar um pouquinho de atenção?”.
Gostaria de lembrar o fato que certa vez ouvi
contar por um amigo. O pai chegou a casa, mal cumprimentou a esposa e os filhos
e foi para o escritório para continuar com um trabalho que era muito urgente.
Passados uns minutos, o filho, muito acanhadamente, aproximou-se da porta do escritório
e disse: “Pai, posso fa...”. “Filho, já disse que tenho um trabalho muito
importante, vai deitar que já está na hora”, disse o pai, sem esperar que o
filho completasse a frase. O filho obedeceu, porém, passada cerca de meia hora,
retornou: “Pai, posso fazer apenas uma pergunta?”. “Fala logo”, respondeu o
pai, sem parar o que estava fazendo. “Quanto é que você ganha por hora de
trabalho”. O pai ficou meio desorientado, mas, para se livrar logo da
importunação, respondeu sem pensar muito: “Não sei, filho, acho que uns R$ 50,00” .
Com a resposta o filho foi para o quarto. Mas agora,
curioso com a pergunta, o pai foi até o quarto do filho. Lá chegando, notou que
ele tinha várias notas de pequeno valor e um saquinho com muitas moedas. E
então o pai lhe perguntou: “Filho, por que deseja saber quanto ganho por hora?”.
Então o filho disse ao pai: “É que faz dois meses que estou juntando esse
dinheiro. Tenho agora R$ 47,50. Se eu te der o dinheiro, dá para o senhor ficar
57 minutos comigo?”.
Pode ser que nossos filhos não tenham a insistência
desse garoto em procurar a nossa atenção. Talvez não seja também somente a
preocupação econômica que nos rouba o
tempo que deveríamos dedicar a nossa família. De qualquer sorte, porém, ou nos
empenhamos de verdade em estar com nossos filhos, em desenvolver um ambiente
familiar sadio, ou descobriremos, mais cedo ou mais tarde, que atiramos o nosso
tempo pela janela. Que o gastamos em busca de ninharias e deixamos de lado
aquilo que verdadeiramente importa para construirmos a felicidade em nossos
lares.
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