Thomas More, o célebre
humanista inglês, foi eternizado pela história como o “mártir da consciência”. Ele
foi advogado, membro do Parlamento, Diplomata e chegou a ser Chanceler do
Reino, o que equivalia ao de Juiz supremo, embora o cargo abrangesse também
funções administrativas. E isso sem contar seu invejável dote literário, autor
de inúmeros escritos, dentre os quais nos legou sua obra mais famosa: Utopia.
Apesar de todo esse
sucesso, como sabemos, More teve um fim trágico. Instado por Henrique VIII a
prestar um juramento que contrariava a sua consciência, negou-se veementemente
a fazê-lo. Por isso, foi julgado e condenado à morte.
Um detalhe muito
significativo da vida deste grande santo ocorreu nos seus últimos instantes de
vida. Quando caminhava para ser decapitado, uma mulher “recriminou-o por ter
dado uma sentença contra ela quando Chanceler; More respondeu-lhe sem a menor
amargura: ‘Lembro-me bem do teu caso. Se tivesse que dar a sentença de novo,
seria exatamente a mesma’” (A sós, com Deus. Escritos da Prisão).
Confesso ao leitor que,
como juiz, sempre que leio essa passagem, um calafrio sobe pela espinha. Com
efeito, no entardecer da nossa passagem por vida terrena, poderemos ter uma
consciência tão tranquila como demonstrou More tê-la nesses momentos
derradeiros?
O exemplo de Thomas
More brilha na história como um homem que não se curvou às injustas exigências
de um tirano!
A sua vida é um
testemunho que nos alerta sobre a radical importância de todo ser humano seguir
os ditames da sua consciência, ainda que isso implique perder a honra, cargos,
a possibilidade de êxito profissional e até a própria vida por uma causa justa.
A história de Thomas
More se repete, também aqui no nosso País e, de certo modo, na vida de cada um
de nós. Muito provavelmente não correremos o risco de perder a vida ao tomar
uma decisão que nos parece correta. No entanto, muitas vezes iremos nos deparar
com situações em que agir de acordo com a ética implicará perder dinheiro,
oportunidade de negócios, emprego ou até mesmo termos a nossa honra
vilipendiada em campanhas difamatórias, tão comuns nesses tempos em que a
notícia – e, com ela, a mentira, os chamados “fake News “ – corre numa
velocidade frenética.
É muito triste notar
como não se age de acordo com a consciência, mas segundo interesses. Já os
Evangelhos nos trazem um relato muito claro disso: “27. Jesus e seus discípulos
voltaram outra vez a Jerusalém. E andando Jesus pelo templo, acercaram-se dele
os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos, 28.e perguntaram-lhe:
“Com que direito fazes isto? Quem te deu autoridade para fazer essas coisas?”.
29.Jesus respondeu-lhes: “Também eu vos farei uma pergunta; respondei-ma, e vos
direi com que direito faço essas coisas. 30.O batismo de João vinha do céu ou
dos homens? Respondei-me”. 31.E discorriam lá consigo: “Se dissermos: Do céu,
ele dirá: Por que razão, pois, não crestes nele? 32.Se, ao contrário,
dissermos: Dos homens, tememos o povo”. Com efeito, tinham medo do povo, porque
todos julgavam ser João deveras um profeta. 33.Responderam a Jesus: “Não o
sabemos” –. “E eu tampouco vos direi” – disse Jesus – “com que direito faço
essas coisas” (Mc, 11, 27-33).
Esses personagens não
agiram de acordo com a sua consciência. Provavelmente teriam uma resposta, mas
agem com astúcia, medindo as consequências, sem compromisso com a verdade. Será
que muitas das nossas escolhas e decisões não são tomadas com critérios
semelhantes?
Aproveitemos esses
duros momentos que vivemos para meditar se somos coerentes, em todas as
situações, com os ditames da nossa consciência, aconteça o que acontecer.
Afinal, de que vale a um homem ganhar um mundo inteiro se vier a perder a sua
alma?