segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

A esperança do Natal

Há poucos dias, li um triste comentário de um leitor acerca da situação da juventude atual. Dizia ele que há uma "doença" entre os jovens: a baixa auto-estima. Ela tem destruído suas vidas, os transformado em viciados, rebeldes, sem perspectiva de vida.
O que será que faz com que as vidas das pessoas perca o sabor? Amanhã é Natal. É tempo de festa, de confraternização, de alegria. Curiosamente, porém, é tempo também em que nos questionamos mais profundamente. Pensamos nos rumos que temos dado às nossas vidas. E, não raras vezes, sem o sabermos, procuramos explicações mais consistentes acerca de nós mesmos: De onde vim? Para onde vou? O que devo e o que não devo fazer?
Estamos de passagem neste mundo. Portanto, um ingrediente imprescindível nesta caminhada é a esperança.
Para entendermos a importância de termos esperança, podemos comparar nossa trajetória nesta vida como uma viagem que fazemos. Tomemos como exemplo dois passageiros que ocupam poltronas vizinhas em um avião. Ambos vão para um lugar que não conhecem, que nunca pisaram antes. O primeiro, muito otimista, sabe dar asas à imaginação. Enquanto viaja, pensa em como será o aeroporto do destino, imagina os lugares aprazíveis que o espera naquela cidade, pensa no passeio que poderá fazer ao pôr-do-sol. O outro, extremamente pessimista, pensa que sua vida se limita à viagem, e tenta distrair o pensamento, pois pensa que, ao final, a aeronave irá se chocar contra um rochedo, quando então tudo acabará tragicamente.
A viagem de ambos os passageiros é a mesma. Ambos terão os mesmos incômodos do assento, os mesmos cansaços, as mesmas dificuldades de dormir etc. Porém, aquele que pensa nas delícias do destino, ainda que desconhecido, viaja alegre, sereno, pois sabe que a aventura vale a pena. O outro, ao contrário, cuidará apenas de escolher o melhor prato a ser servido, pois afinal, em breve não poderá mais se deliciar com comidas. Não perderá tempo em escutar os problemas dos outros, afinal, os momentos existem, pensa ele, para serem curtidos para si. Ele se irritará facilmente com qualquer incômodo, pois a viagem é curta e, se ao final tudo acabará, então não tem tempo a perder com os problemas dos outros. Ambos, portanto, estão na mesma viagem, mas o primeiro segue muito melhor que o segundo. E o motivo é muito simples. É que o primeiro tem esperança.
Com palavras simples e profundas, é isso, dentre muitas outras verdades, o que o Papa Bento XVI expõe em sua última encíclica, Salvos pela Esperança. Partindo da carta de São Paulo aos Tessalonicenses, o Santo Padre aponta “(...) como elemento distintivo dos cristãos o facto de estes terem um futuro: não é que conheçam em detalhe o que os espera, mas sabem em termos gerais que a sua vida não acaba no vazio. Somente quando o futuro é certo como realidade positiva, é que se torna vivível também o presente”. E em seguida conclui que “o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera fatos e muda a vida. A porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova”.
Mas os mais céticos e incrédulos, para não dizer desesperançados, poderiam ainda questionar: que garantia temos de que a viagem não termina de fato num choque contra um rochedo, ou, como preferir, num tenebroso vazio?
A garantia que temos é o nascimento do Menino, que amanhã celebramos. O Seu nascimento fez com que os Magos viajassem muitos dias em busca da estrela que O apontava. Por certo a viagem foi penosa, mas eles a percorreram com alegria, afinal, buscavam ver a causa de sua alegria. Esse Menino sempre trouxe alegria. Já desde o ventre de Sua Mãe fez João Batista saltar de júbilo nas entranhas de Isabel. Já adulto, quando Ele já se despedia dos seus que ficariam neste mundo, disse-lhes com todas as letras: “Eu hei-de ver-vos de novo; e o vosso coração alegrar-se-á e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria”.

Um feliz Natal a todos! Que seja esse o Natal da verdadeira esperança. E, com ela, que tenham também a alegria. A alegria perene que se edifica nos corações daqueles que sabem que são filhos de Deus.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O “não” na educação

Quando e como se deve dizer “não” aos filhos? Trata-se de uma dúvida freqüente nos pais que se ocupam de verdade da educação de seus filhos.
Penso que não há uma regra geral, nem é possível traçar uma espécie de manual que possa ser lido pelos pais e nele encontrar a reposta para cada situação concreta. Apesar disso, há alguns parâmetros que podem ser úteis nessa árdua tarefa de educar.
Com relação às crianças bem pequenas, até aproximadamente os dois anos, dizer “não” é quase que inútil. É que, nessa fase, elas não conseguem se comportar da forma esperada. Por exemplo, a criança de um ano e pouco está trocadinha e com calçado novo para um passeio e, enquanto caminha, avista uma “deliciosa” poça d’água. Não há dúvida de que escolherá pisar na lama. Não adianta dizer “não pise aí!”, ou “filha, você está com sandálias novinhas”. No caso, a solução é, com muito carinho e afago, pegá-la no colo, distraindo-a com outras coisas.
Mas chega a idade em que impor limites é essencial, e então se terá de dizer mesmo que não se faça o que não convém. O segredo aqui será então dizer poucos “não”, mas sustentá-los até o fim, ainda que caia o mundo. Alguns pais têm certa tendência de dizer não a cada pedido do filho ou da filha, mas depois voltar atrás e consentir. Na verdade deveria ser o contrário. Deveriam ponderar antes de responder, negando o pedido somente quando objetivamente o que se pretende não é bom para a criança. Mas quando disserem um “não”, há de sustentá-lo, custe o que custar.
Imaginemos uma situação em que o filho faz um pedido e o pai (ou a mãe) o nega prontamente. Porém, após a décima quarta tentativa, o filho consegue o que queria. Nesse caso, a mensagem que se transmitiu ao filho é mais ou menos essa: insista, que vale a pena, pois ao final eu deixarei. Da próxima vez, o filho insistirá por quinze ou dezesseis vezes, pois sabe que ao final consegue. Pior ainda, esses pais transmitem a idéia de que não estão seguros acerca do que é e o que não é bom ao filho. Afinal, se o que pedia não era bom, por que consentiram após insistir quatorze vezes?
Nossos filhos têm direito a que lhes digamos o motivo por que se nega algum pedido. Afinal, boas razões, ditas com convicção, convencem, ainda que eles não admitam num primeiro momento. Penso que não deveríamos nunca dizer “não porque não”. A melhor forma de negar um pedido é expor por que o que o filho quer não é bom para ele. É que por vezes negamos algo porque nos incomoda, porque nos requer esforço, porque temos preguiça. E nesse caso é difícil mesmo, para não dizer impossível, explicar.
Mas há situações em que os reais motivos não podem ser ditos. Por exemplo, quando um filho adolescente quer ir a uma festa, e os pais têm fundada suspeita de que estarão presentes alguns colegas com comportamentos inadequados (drogas etc.). Não seria o caso de dizer isso ao filho, ou à filha, pois se corre o risco de cometer uma injustiça. No entanto, se a dúvida é razoável, seria temerário expor o filho ou a filha àquela situação. Nesse caso, há de se dizer que não vai à festa porque o pai e a mãe estão convencidos de que não é bom para o filho, e ponto final. Se isso for dito por amor e com convicção, amparados por bons exemplos dos pais, os filhos aceitarão, ainda que protestem num primeiro momento.
Soube do caso de uma adolescente que por vezes dizia às amigas que não iria a determinados lugares (festa, boate etc.) porque os pais não permitiam. Porém, isso não era verdade, pois os pais não a proibiam de fazer absolutamente nada. Em uma entrevista com um psicólogo, ele indagou à jovem o motivo da mentira. Ela não teve dúvida quanto à resposta: “é que os pais de minhas amigas frequentemente não permitem elas irem a certos lugares. Se eu disser que meus pais não me proíbem nunca, elas pensarão que meus pais não me amam, que não se importam comigo”.

Penso que essa jovem tem toda a razão: o “não”, se dito da forma adequada e no momento certo, é uma das maiores provas de amor.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Conciliar é o melhor caminho

Inicia-se hoje a Semana Nacional da Conciliação. Trata-se de uma iniciativa do Conselho Nacional de Justiça que visa conscientizar as pessoas de que a conciliação é o melhor caminho para a construção de uma convivência mais pacífica. De 3 a 8 de dezembro serão realizadas várias audiências de conciliação em diversas cidades do Estado e do País. O evento faz parte do projeto “Conciliar é legal”, que neste ano conta com o lema “Conciliar é o melhor caminho”.
Há alguns anos exercendo a função de juiz, posso atestar que, quando profiro uma sentença em audiência, o ambiente fica carregado. O vencido sai inconformado e revoltado. Curiosamente, sequer o vencedor sai muito aliviado, por vezes com ar de triunfo, mas no fundo insatisfeito, também pelo tempo que tem de aguardar para que seu direito seja efetivamente assegurado na execução da sentença. Ao contrário, quando as partes chegam a um acordo, o ambiente fica leve e sereno, as pessoas saem felizes, como se tivessem tirado um grande peso das costas. Não raras vezes, cumprimentam-se e reatam amizade que há tempos havia se perdido.
Não há dúvidas de que a conciliação é, de longe, a melhor forma de se resolver os litígios. Mas penso que poderíamos investigar um pouco mais a fundo sobre as causas dos conflitos, e assim entendermos por que às vezes é tão difícil a solução amigável.
A justiça, antes de ser um fenômeno social ou jurídico, é uma virtude, que pode ser definida como a disposição firme e constante de dar a cada um o que lhe é devido. Deve estar ela, portanto, no interior de cada ser humano. Nesse sentido, somente há justiça em uma sociedade se as pessoas que a compõem forem interiormente justas, vale dizer, que ajam de forma a respeitar os direitos dos demais.
Por exemplo, é justo o devedor que paga suas dívidas pontualmente, que não contrai obrigação que não sabe se terá como pagar. É justo o empregador que paga salários dignos, o empregado que trabalha com esmero, a mãe de família que é zelosa com os filhos e solícita ao esposo, o pai que se ocupa seriamente com a educação dos filhos, o esposo que é solícito à esposa. Quando se descumprem essas obrigações, surgem insatisfações com quem descumpriu tais direitos: credor, esposo, esposa, filho, empregador, trabalhador etc. Essas insatisfações podem dar ensejo a um processo judicial ou não, mas são sempre ruins, pois abalam as relações sociais e, pior ainda, fazem um grande mal a quem tem tais direitos lesados e ao próprio descumpridor desses direitos, que, em última análise, não encontrará jamais dentro de si a paz tão almejada por qualquer ser humano.
Uma vez lesado esse direito, os conflitos podem ser solucionados, basicamente, de três formas: pela lei do mais forte, fazendo-se justiça pelas próprias mãos; por meio de um terceiro, atualmente o Poder Judiciário; ou pela composição entre as próprias partes. De todas elas a melhor é a composição. É que as outras agem externamente, por exemplo, alguém devia certa quantia e não pagou, por ordem do juiz o oficial de justiça toma um bem seu, vende-se esse bem num leilão e, com isso, paga-se o credor. Nesse caso, interiormente, a virtude da justiça continuou sendo desrespeitada, embora, externamente e com base na força, tenha sido realizada, mas o mal social e pessoal subsistem.
Quando as pessoas sabem ceder, colocar-se na situação do outro, renunciar parte do que acreditam ter direito, se isso for possível, esforçando para se entenderem com o adversário, ao contrário, a paz interior e exterior se restabelece. Mais ainda, há litígios em que não há solução possível que não a feita pelas próprias partes. Por exemplo: Como dar uma sentença que imponha ao pai a obrigação de ser dedicado aos filhos? Como impor ao filho o respeito pelos pais?

Ocorreu-me recentemente que um conciliador, muito competente, iniciou uma audiência em que as partes estavam com tal animosidade que já no corredor quase se atracaram. Mas, com toda a paciência, lembrou-se ele de uma passagem do Santo Evangelho que diz: “quando estiverdes a caminho com teu inimigo, procura conciliar-se com ele”. Após algum tempo, notava-se no rosto daqueles que outrora foram litigantes a paz de espírito que dinheiro nenhum consegue comprar.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Novos modelos de família

Está em tramitação no Congresso Nacional o projeto de lei nº 2.285/07, que propõe a reforma no sistema jurídico brasileiro sobre a família. Antes de comentarmos o projeto em si, o que poderemos fazer em outra oportunidade, penso devemos repensar sobre o que é família. Para que serve a família? O que leva uma pessoa a constituir uma família?
A família é o melhor lugar para se viver e para se morrer. Nela reina (ou deveria reinar) um ambiente de afeto e de acolhida, no qual cada um é aceito e amado por ser quem é (pai, mãe, filho, irmão etc.), independentemente de seus atributos pessoais.
O que leva duas pessoas a unirem suas vidas é o bem dos cônjuges e a geração e educação dos filhos. Seja qual for o modo de vida e o modelo social adotado, de há muito se percebe que, ao menos para a maioria das pessoas, é melhor enfrentar as agruras da vida com um companheiro (ou companheira) com quem se une para formar uma comunhão plena de vida.
Essa união implica uma entrega mútua de tal intensidade que tende a se expandir, dela advindo os filhos, frutos desse amor. E o melhor ambiente para a formação dos filhos é aquele que se constrói num lar harmonioso e alegre.
Penso, portanto, que o modelo ideal de família seja aquele fundado no casamento. Os outros modelos possuem, quando muito, parte dos atributos que marcam a união que faz um homem e uma mulher com o propósito de constituir uma família.
A união estável, por exemplo, muito se assemelha ao casamento, posto que constituída por um homem e por uma mulher com o propósito de se constituir uma família. Tem, porém, a desvantagem de, ao menos em seu início, nascer sob vínculos frágeis, passível de dissolução a qualquer momento. Isso facilita a ruptura da vida em comum, no mais das vezes com graves prejuízos aos filhos e ao próprio casal. É bem verdade que há uniões estáveis que duram por toda uma vida e, ao contrário, casamentos que se desfazem após muito pouco tempo. Mas isso são distorções do casamento. O ideal seria que homem e mulher estivessem bem cientes da gravidade do compromisso que assumem perante o outro, perante os filhos e também perante a sociedade e se empenhassem de verdade em honrá-lo até o fim.
Penso que também não possa ser tido como modelo mais apropriado a família que se forma na chamada “produção independente”, como tal entendida a situação de pessoas que muito anseiam pela filiação, mas que não possuem um cônjuge ou companheiro. Toda criança tem direito de nascer e se desenvolver ao lado de uma mãe e de um pai que se amam e que a amam, e por amá-la, esforçam-se por educá-la juntos. Isso não tem nada que ver com as situações em que o pai ou a mãe vem a faltar. É que, nesse caso, a pessoa cresce com a dor de ter perdido o pai ou a mãe, mas com a segurança e o conforto de que, enquanto duraram os seus dias, dedicou-se à esposa (ou ao marido) e também aos filhos.
Não se trata de discriminar, nem muito menos de colocar numa situação de inferioridade os filhos e também os pais que passaram pela imensa dor da separação. Mas é preciso reconhecer que essa não é a melhor situação para os filhos, e nem para os próprios pais.
Há, por fim, as relações homoafetivas. Temos de ressaltar novamente o profundo respeito pelo homossexual, repudiando qualquer forma de discriminação. Apesar disso, penso que a verdadeira união conjugal se dá entre pessoas de sexos diferentes. Homem e mulher não são simplesmente “gêneros” diferentes, como eufemisticamente se tem tentado convencer. São naturalmente diferentes e a união conjugal pressupõe essas diferenças que se complementem.

É bem verdade que existem filhos que convivem com pais ou mães que mantêm relações homoafetivas, casamentos e uniões outrora estáveis e agora desfeitas, enfim, vários modelos familiares. E o direito não pode simplesmente ignorar esse fato. Disso não se pode concluir, porém, que todos esses modelos sejam igualmente bons. A família formada por um homem e uma mulher, que se uniram em matrimônio, e que se esforçam por construírem juntos lares luminosos e alegres, sempre foi, é e será o modelo ideal, do que as demais formas não passam de “imitações”. E isso o direito também não pode ignorar.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Crises existenciais

Um dia desses presenciei uma discussão muito interessante entre dois de meus filhos. Havíamos retornado há poucos dias do litoral. O Rafa, de 3 anos, voltou com um medo terrível do mar, tanto que sequer permitia tocar os pés na água. O motivo é que o irmão maior lhe dissera que ali havia jacarés. E incutiu tal medo no irmão até bem intencionado, para evitar que entrasse sozinho no mar, com riscos de acidentes. Mas o fato é que ficou com um medo excessivo, e a irmã Maria Clara, de cinco anos, tentava afastar o temor. Nesse intento, perguntou ela: “Rafa, por que você tem medo do mar?”. “É que o José disse que tem jacaré lá”, respondeu ele. Ela então passou a argumentar: “No mar não tem jacaré. Jacaré é você quando entra no meio da onda para vir até a praia”. O garoto entendeu ao pé da letra a frase “jacaré é você...” e retrucou imediatamente aos gritos: “EU NÃO SOU JACARÉ! EU SOU FILHO DO MEU PAI!”.
Confesso que achei muita graça no diálogo das crianças, principalmente no mal-entendido que ensejou a frase final. Porém, passado algum tempo, pus-me a meditar nela e achei muito interessante o conceito que ele tem de si próprio: “sou filho do meu pai”. E não demorou para que me surpreendesse fazendo a mesma indagação: e eu, quem eu sou? Se alguém nos perguntasse “quem você é?”, talvez pensássemos em responder o nome. Porém, mais que isso, essa pessoa, que tem esse nome, no fundo quem é? E as indagações poderiam ir um pouco além: De onde vim? Para onde vou? O que estou fazendo aqui?
Todos nós nos fazemos, num momento ou noutro, tais indagações. É muito comum, porém, abafá-las. Fazemos com elas o mesmo que talvez já tenhamos feito com algum objeto ou documento importante, mas que traz um problema que não queremos resolver, e então os guardamos numa gaveta, num armário ou num baú. No entanto, um dia, procurando por alguma coisa lá o encontramos. E então cuidamos de guardá-lo de novo, pensando “um dia eu resolvo isso, agora não”. Enquanto isso, vamos levando a vida: trabalho, casa, diversão, sucessos, decepções, segunda, terça, quarta, ... e, de novo, segunda-feira.
Dizem alguns cientistas que o Universo começou de uma grande explosão. Tudo bem, mas se começou assim ou não, o fato é que em um determinado momento se formou um planeta. E nele se formaram homens e mulheres. E dentre muitíssimos outros seres humanos estou eu, com um irreprimível anseio de viver e ser feliz. Será que esse Sujeito que bolou essa grande explosão foi Ele quem me criou com esse desejo de felicidade? Será que Ele é bom a ponto de ter como saciar essa vontade? Ou, ao contrário, brinca com esses seis bilhões de seres humanos que povoam a face da terra, talvez dizendo de si para si: “esses bobalhões querem ser felizes mais eu os precipitarei num abismo”.
Da minha parte, confesso que prefiro pensar que esse Sujeito que me colocou aqui o fez por amor. Do contrário, nada faria sentido. Nem as maldades de muitos seriam percebidas, posto que somente as vemos com um mal porque há o bem com que confrontá-las.
Se há algo que é certo em nossa existência é que um dia nascemos e um dia morreremos. Disso ninguém duvida. Isso ninguém questiona. Ora, o que sai de um ponto e caminha até outro está de passagem, o que é evidente. Mas será que essa passagem é de um nada para lugar nenhum? Ou, ao contrário, quem criou tudo isso nos espera ansiosamente para saciar toda essa ânsia de amor em plenitude que carregamos em nossas entranhas?

Rafinha, como é sábia a sua frase! Vou repetí-la muitas vezes, buscando a sabedoria na simplicidade de uma criança: “Sou filho do meu Pai”. Quem saberia encontrar uma definição mais completa para nossa existência? Essa definição acaba com qualquer crise existencial, posto que traz a explicação a todas as dúvidas que guardamos no baú. Somos todos filhos de um Pai, que nos colocou aqui por amor, para que, caminhando como irmãos, cheguemos um dia ... ao Pai.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Guarda compartilhada

Muito se tem debatido sobre o projeto de lei que pretende instituir em nosso ordenamento jurídico a chamada guarda compartilhada. Analisei o texto apresentado e penso que será um grande avanço. Mais que isso, se bem aplicada, poderá trazer muitos benefícios aos filhos de pais separados, divorciados ou que, por outros motivos, não mais convivem juntos. No entanto, os conceitos precisam estar bem esclarecidos, pois uma interpretação distorcida pode trazer conseqüências indesejáveis tanto para os filhos quanto para os pais.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que a guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente. Assim, quando os pais se separam e a um deles é conferida a guarda, a esse caberá decidir sobre os aspectos mais relevantes da vida do filho, como a escolha do colégio, plano de saúde, a formação religiosa, dentre muitos outros.
O que o projeto pretende fomentar é que a guarda, em regra, seja atribuída conjuntamente ao pai e à mãe mesmo após a separação.
Não há dúvida de que seria muito bom que pai e mãe decidissem juntos sobre a educação, a saúde, o lazer e a formação moral e religiosa dos filhos. O problema que surge, no entanto, é que isso exige muita sintonia e grande abertura para o diálogo entre os pais. E após uma separação não é comum que eles estejam em condições de manter tal nível de diálogo. Aliás, mesmo para os casais que vivem juntos já não é fácil encontrar tal sintonia que lhes permita decidir de comum acordo sobre a formação dos filhos.
Essa dificuldade, porém, não serve como argumento contrário à aprovação da lei. Talvez tenha certa dose de razão quem a qualifica como utópica. De qualquer sorte, porém, fica como uma iniciativa para que os pais sejam sensatos e se disponham a sacrificar-se para ao menos educar juntos os filhos comuns.
Quando se fala em guarda compartilhada, é também necessário afastar alguns equívocos que se cometem. Um deles é pensar que guarda compartilhada implicará igual período de convivência com o pai e com a mãe. Ou seja, pensa-se que, nesse sistema, o filho ficará uma semana (ou mais ou menos tempo) na casa do pai, e, posteriormente, igual período na casa da mãe. Com o devido respeito dos que pensam diferente, isso seria muito ruim, sobretudo para os filhos menores. É que eles precisam ter um lar, com uma rotina que lhes proporcione segurança, de modo que as constantes mudanças de casa geram insegurança e não poucos problemas na formação.
E talvez esteja aqui já uma distorção da idéia inicial que motivou a guarda compartilhada. É que alguns pais separados pensem nela como uma forma de desfrutar mais do convívio com os filhos, como se eles fossem simples brinquedos forjados para satisfazer aspirações egoístas. No entanto, é exatamente o oposto. Trata-se de cada qual se dedicar mais à sua formação do filho, ainda que, para tanto, sejam necessários períodos maiores de convívio.

Nunca me esquecerei da frase proferida por um filho meu após ele presenciar uma discussão que tive com a minha esposa. Disse-me ele: “eu prefiro muito mais que você brigue comigo do que fale desse jeito com a minha mãe”. É inegável que uma separação causa um grande mal para os filhos. A afirmação de que a separação é dos pais e não deles com os filhos, de certa forma, serve apenas para forjar um consolo para os próprios pais, mas de maneira nenhuma convence os filhos de que isso não afetará o relacionamento com eles. No entanto, para os filhos que já passaram pela imensa dor da separação, penso que será de grande alento ver que o pai e a mãe se esforçam por conversar decidir juntos e em sintonia ao menos os aspectos mais relevantes de suas vidas.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Tragédias anunciadas

O mundo ficou estarrecido com a notícia do jovem que matou vários alunos  e uma professora numa escola da Finlândia, após o que pôs fim à sua própria vida. Quando nos deparamos com tragédias como essa, talvez o que mais nos intriga é indagar os motivos que levam uma pessoa a tomar tal atitude.
Não sou psicólogo. Também não disponho de conhecimento técnico nem de dados para supor o que se passava com esse infeliz que pôs cabo à sua existência terrena de maneira tão triste. Mas penso que o incidente pode nos levar a pensar sobre os mecanismos de inclusão e exclusão existentes em nossa sociedade. É que ninguém ignora que o fator desencadeante, e talvez a causa de tragédias dessa natureza, seja a incapacidade de ser aceito e amado no meio social em que se vive, mais que isso, é a falta de sentido da vida.
Lembro-me agora das primeiras aulas que tive em um colégio em que estudei a partir do segundo ano do ensino médio. Vinha de uma pequena cidade do interior, onde estudei em escolas públicas. Naquela cidade grande, tudo era estranho. Via filhinhos de papai riquinhos cuja conversa eram viagens à Disney, intercâmbio cultural e muitas outras coisas que me eram totalmente desconhecidas. Desde aquele momento se notava os critérios para ser ou não ser da “turma”: freqüentar ou não freqüentar tal clube, ser dos que estudavam muito, ou ser dos preguiçosos nos estudos, ingerir ou não bebida alcoólica etc. Felizmente não tive muita dificuldade em encontrar amigos com quem me identificasse e ter a “minha turma”. Mas confesso que sempre me causou certa inquietação por saber qual foi o destino daqueles colegas “esquisitos”, que se isolavam no canto da sala, que não tinham amigos, talvez porque não se identificassem com o que gostavam, pensavam ou faziam os demais.
Na Universidade não foi muito diferente. Há os que freqüentavam as festas badaladas e os que não, os que se dedicavam com esmero aos estudos e os que “estudavam para passar de ano”, os que eram de direita e os que eram de esquerda. E uma vez formada a turma, o que mais faziam seus integrantes era criticar os que “estavam de fora”.
É interessante notar que os critérios de exclusão e inclusão com que nos deparamos no colégio e na Universidade, de certa forma, perduram por toda a vida e assumem em outros ambientes contornos mais cruéis. Nas empresas, costumam ser isolados aqueles que não contam com a simpatia do chefe, pois, quando tiver de “rolar a cabeça”, os seus amigos podem cair juntos. Isso sem contar os conchavos e as uniões e desuniões por puro interesse, daqueles que não vêem nos semelhantes pessoas, mas degraus para serem subidos.
Lembro-me de uma conversa que tive com o meu avô (que saudades daquelas estórias intermináveis das vésperas de Natal!). Lembro-me que contava a ele que conheci um bom sujeito na Universidade, mas que não conseguia me aproximar dele, afinal, ele não gostava de tomar uma cervejinha conosco no centro acadêmico. Mas o meu avô me respondeu imediatamente: “não é apenas o gosto pela cerveja que pode ser algo em comum de modo a alimentar uma amizade. Eu gosto de tomar pinga, mas eu tinha um tio que não bebia, mas éramos grandes amigos. É que gostávamos de caçar e então a conversa sobre caça nos mantinha juntos. Se você quiser, sempre achará coisas em comum com qualquer pessoa. E isso pode ser o começo de uma grande amizade”.
Quanto bem me fez essas considerações do meu avô! De fato, é claro que todos somos diferentes entre si, mas o que importa é encontrarmos, com qualquer pessoa, o que une, não o que divide. E há um ponto em comum em todo ser humano: é que todos possuem um irreprimível anseio de amar e ser amado tal como é. E para isso basta que as pessoas se esforcem por compreender, não para serem iguais ao demais, afinal, cada um é único e irrepetível.

Se o jovem finlandês soubesse disso!... Se você e eu também nos portássemos de forma coerente com isso!...

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Celibato, amor e ..., o Jabor

Em recente artigo publicado, o jornalista Arnaldo Jabor fez duras críticas ao celibato, à Igreja Católica e ao próprio Papa. Em sua matéria, Bento XVI foi taxado de “burocrático, implacável, com seus olhos duros e cruéis”. Confesso que, como cristão católico, as críticas injustas e grosseiras ao Santo Padre doem como uma cusparada atirada na face de um pai.
Diante disso, o primeiro impulso é de devolver a ofensa no mesmo nível. Porém, não sem esforço, consegui conter-me. E obtive tal êxito por dois motivos. Primeiro porque admiro o Jabor, que com incansável esforço defende a ética e o resgate de valores tão em desuso em nossa nação. Segundo, e principalmente, porque me calhou de ler as palavras do primeiro Papa, escrita há quase dois milênios, que são muito claras acerca da forma que devemos nos portar em situações como essas:
“Glorificai Cristo Senhor em vossos corações, sempre prontos para responder a todo aquele que vos pedir a razão da vossa esperança; mas fazei isso com doçura e respeito, tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que vos caluniam sejam confundidos aqueles que difamam a vossa boa conduta em Cristo” (Primeira Carta de São Pedro, Cap. 3, 15-16). Assim, como há muito defende a Igreja, passo a responder às críticas com respeito.
Ao contrário do que afirma o Jabor, a pedofilia não tem como causa a castidade a que são chamados todos os cristãos, mas exatamente na falta dela. Aliás, é a mais alta expressão da falta de pureza de coração.
Cada um sabe da luta pessoal nesse assunto.  Mas, há dezesseis anos casado com a mesma esposa, causa-me muita alegria e paz considerar a fidelidade vivida nesses anos todos.
Como é bom chegar à casa ao final do dia e receber os abraços de crianças que se atiram ao pescoço do pai e beijá-las com a serenidade de quem não teve olhos para outra mulher que não a mãe deles. O não olhar para o outdoor, para a “barriguinha de fora” de jovens sedutoras, o fazer-se de desentendido diante de insinuações de mulheres bonitas não causam irritação, cara amarrada, ou algo do tipo. Ao contrário, ao passar por tudo isso por amor a uma esposa a quem um dia se jurou que é para sempre, faz sentir uma fantástica sensação de vitória. É como que se conseguisse guardar o coração em uma caixa de ouro, bem fechada e, ao final do dia, entregar a ela a chave e dizer: “meu amor, é só para você, abra!”.
Penso que é isso a castidade vivida no casamento. Mas há também a castidade que se vive no celibato. E, em boa matemática, não é muito grande a diferença. Se considerarmos que o mundo tem 6 bilhões de pessoas (não sei se esse número é real). Se considerarmos ainda que metade disso é mulher, a diferença entre um homem casado e um celibatário é que o primeiro não tem olhos para 2.999.999.999 mulheres e o segundo para três bilhões. Mas ambos vivem isso, não de mãos trêmulas e ares carrancudos. É que somente quem mantém os instintos submetidos à razão é que podem ser donos de si e, por sê-lo, doarem-se aos demais. E não há alegria e paz maior que a vivida por aqueles que se dão generosamente aos demais.
Em sua homilia, pronunciada durante a canonização do Frei Galvão, o Papa Bento XVI, com a voz carregada de emoção, disse às mais de oitocentas mil pessoas presentes: “o Papa vos ama, porque Cristo vos ama”. E a multidão foi ao delírio. Com o carinho bem brasileiro, respondiam: “Bento, Bento...”. Ninguém, exceto os de olhos turvos e mal-intencionados, via ali um Papa burocrático, nem muito menos de olhos duros ou cruéis. Viam um pai amoroso e zeloso por dizer aos filhos, com todas as suas forças, o caminho da verdadeira felicidade.
É antiga a incompreensão acerca da castidade que a Igreja Católica prega desde sempre. O primeiro Papa já nos advertia: “Pois já basta que no tempo passado tenhais feito a vontade dos gentios, entregando-vos à libertinagem, às paixões, à embriaguez, aos excessos do comer e do beber, e à abominável idolatria. Por isso é que os infiéis estranham agora que não os acompanheis nessa libertinagem desenfreada, e enchem-vos de calúnias” (1 Pedro, 4, 3-4).

Como é insuportável ao mundo os que se portam de forma coerente com a fé cristã! Pedro, o primeiro Papa, foi martirizado. Bento XVI, o Papa atual, é criticado injustamente. Mas em um ponto, o Jabor tem razão: é inútil tentar mudar as regras milenares. É que a verdade perdura desde sempre e para sempre, gostem ou não aqueles que, talvez por maus exemplos de pessoas da própria Igreja, jogaram fora a sua fé.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Como escolher o colégio?

Nesses últimos meses do ano, costuma ser tormentosa para os pais a escolha do colégio em que os filhos estudarão no próximo ano. Muitos são os fatores a considerar. O preço deve caber no orçamento familiar. Porém, é necessário que se assegure a qualidade do ensino. E para complicar, muitos pais não têm condições de avaliar, numa simples conversa, se a instituição merece ou não a confiança.
O primeiro ponto a considerar é que não existe uma instituição de ensino ideal. É que cada qual tem as suas peculiaridades, de modo que a escolha deve ser feita segundo as expectativas que a família possui em relação ao colégio.
Antes de decidir a quem confiar parte da educação dos filhos, pai e mãe devem decidir o que eles próprios esperam dos filhos. Assim, se fôssemos surpreendidos com a pergunta “o que você espera de seu filho?”, o que responderíamos? É que, se os pais não sabem sequer onde querem chegar, como podem escolher uma instituição que os auxiliem nisso?
Não se trata de aprisionar os filhos em função do que sonhamos para eles, o que seria uma terrível violência. Aliás, a educação só é verdadeira se valorizar a assegurar, acima de tudo, a liberdade. Do contrário, não é educação, mas a mais detestável forma de opressão. Mas não tolhe a liberdade de nossos filhos estabelecer metas a serem atingidas no processo educativo, ao que eles poderão corresponder ou não, sempre livremente.
Da minha parte, confesso ao leitor que gostaria muito que meus filhos sejam cidadãos e cidadãs responsáveis e felizes. Não se pode negar que nós, pais, sonhamos com que sejam bons profissionais, seja qual for a profissão que escolherem. Se casarem, desejamos que sejam bons esposos, boas esposas, bons pais. Porém, acima de tudo, e isso é o que mais importa, é que descubram um sentido para suas vidas, e que tomem as decisões de forma coerente com essa descoberta. Pois é somente isso que os fará verdadeiramente felizes e que se sintam responsáveis por construir um mundo melhor no ambiente em que vivem: na família, na empresa, em suas relações sociais.
Muito bem. Mas definido onde se quer chegar, vem a segunda indagação: como atingir esse resultado? Quanto a isso, há de se considerar que pai e mãe são insubstituíveis, de modo que o colégio será sempre uma entidade que auxilia a família na educação dos filhos. Mas esse auxiliar é importantíssimo, afinal, ali deixaremos nosso maior tesouro, cada dia, por várias horas para ser formado. E, de certa forma, a tão sonhada felicidade de nossos filhos dependerá da formação que lhes for dada pelo colégio.
Assim, além de ser uma escola cuja mensalidade caiba no orçamento familiar, além dos ensinamentos técnicos, que devem capacitar nossos filhos para o futuro ingresso no mercado de trabalho, penso que seja de igual ou maior importância o trabalho de formação dos valores. Há de se indagar se ensinam os filhos a tomarem corretamente as suas decisões, a respeitar os direitos dos demais, a serem fortes e perseverantes na busca de seus ideais, a usarem adequadamente os materiais, sabendo compartilhá-los com os colegas.
E um bom método, para constatar se na escola se ensina isso, é observar o ambiente escolar. Como as pessoas se tratam entre si? É que é possível abrir um sorriso forçado sempre que chega pais novos interessados na matrícula. Porém, como é a cordialidade das pessoas entre si que ali trabalham? Respira-se um ar alegre e sereno? Há ordem e limpeza que entram pelos olhos?
Um excelente termômetro será os nossos próprios filhos, ao menos para avaliar se a escolha foi acertada. Então há que se perguntar: o meu filho gosta de ir para a escola? Afinal, quem foi que disse que a educação deve ser chata e maçante? As crianças se sentem felizes ali? É que se pode fingir um sorriso para os pais, mas não para as crianças a todo tempo que estão na escola. Quando converso com a professora ou com a coordenadora, percebo que ela conhece de verdade o meu filho?

Vivemos numa sociedade de consumo, na qual os consumidores estão cada vez mais exigentes. Porém, com relação aos filhos, por vezes ficamos procurando coisas externas, como brinquedos, roupa, tênis, e corremos o risco de não dar a devida atenção ao que verdadeiramente importa: a felicidade deles. E a escola desempenha um papel importantíssimo nesse objetivo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O terceiro tempo

Vivemos numa época em que as pessoas correm em ritmo frenético. Para a maior parte das pessoas, o trabalho intenso toma toda a manhã, a tarde, invadindo ainda parte da noite. Com relação à mulher, a situação é ainda mais angustiante, pois  além de trabalhar fora, é comum que recaia nas costas dela os cuidados da casa.
Nesse contexto, é imprescindível que os pais estejam atentos para garantir uma convivência familiar saudável. Isso implica programar bem o dia. Trata-se de começar e terminar o trabalho profissional na hora prevista, sem adiamentos. Há de se ter a fortaleza de terminar o expediente na hora prevista, custe o que custar. Afinal, o que há de mais importante na vida de um homem e de uma mulher do que a própria família.
Se houver ordem e o horário de trabalho for bem aproveitado, sem distrações com bobagens na internet ou sem nos excedermos nos “cafezinhos”, conseguiremos concluir nossos afazeres na hora prevista. Por conseqüência, disporemos de mais tempo no final do dia para estar com a esposa, com o marido e com os filhos.
Além do esforço por reservar um tempo diário para a família, mais importante ainda é cuidar da qualidade desse tempo. Há que se indagar: o que se faz em minha casa à noite? Cada um vai assistir a TV em seus quartos? O pai se enfurna no jornal e a mãe ou os filhos no msn? Que me desculpe o leitor, mas isso não é o cenário de uma verdadeira família. Ao contrário, mais se parece com o de uma espécie de hotel ou de albergue, em que se vive sob o mesmo teto, mas cada um cuidando de suas coisas, sem se preocupar o mínimo com os demais.
É imprescindível que haja momentos agradáveis na família. Que se esforcem por fazer a refeição juntos, e não cada um diante da TV. Que se tenham momentos para uma conversa descontraída, na qual cada um conte como foi o seu dia, se façam brincadeiras saudáveis, contem-se piadas, ou seja lá o que for, mas que se faça do lar um lugar em que haja prazer em ficar, pela alegria em que se vive, pelo esquecer-se de si e ocupar-se dos demais.
E nesse empenho em construir um ambiente saudável no lar, o marido tem de aprender a deixar para fora as preocupações com o trabalho. Sei de uma pessoa que, para estar alegre e vibrante à noite, no que ele chamava de terceiro tempo de trabalho, antes de entrar em casa, tocava com a ponta dos dedos um pequeno arbusto que havia defronte a porta, dizendo de si para si que deixava naquela pequena árvore todas as suas preocupações do trabalho, para apanhá-las somente no dia seguinte. É que queria que aqueles minutos fossem exclusivamente para a esposa e filhos.
E também a mulher tem de se esforçar por fazer aprazíveis a todos os momentos de convivência no lar. Vale a pena transcrever o trecho de um livro que muito pode ajudar o relacionamento familiar:
“Uma senhora tinha problemas em casa. Mal o marido chegava do trabalho, começavam a discutir. Uma amiga recomendou-lhe:
– Vá aconselhar-se com tal padre, que é um homem muito sábio.
Foi visitá-lo. O sacerdote escutou-a pacientemente e disse-lhe:
– Tenho o remédio para o seu problema.
E trouxe-lhe uma garrafa de água.
– É uma água maravilhosa: a água de São Geraldo. Quando o seu marido chegar, tome um gole desta água e fique com ela na boca pedindo a São Geraldo a paz do seu lar.
A experiência foi definitiva. A partir desse dia, a paz reinou na família. Mas – ai! – a água acabou. A mulher voltou a pedi-la, mas o bom padre disse-lhe, sorrindo:
– É água comum, pode pegá-la na torneira da sua casa. O importante é que fique com a água na boca, reze e... não fale!
O silêncio, a capacidade de escutar, são uma verdadeira água miraculosa que traz serenidade ao lar. É bom que se lembrem desta história não apenas as mulheres, mas também muitos homens...” (As Crises Conjugais, de Rafael Llano Cifuentes).

A harmonia no lar se constrói de pequenos esforços feitos por todos, todos os dias. Mas vale a pena. Afinal, quem não gostaria de transformar suas casas em lares que sejam remansos de paz e alegria, onde se passem bons momentos, onde se sinta feliz por simplesmente estar ali.

Ética

Há poucas semanas, tive a grata satisfação de participar de uma palestra, promovida pela FEAC, na qual discorremos sobre o tema da ética. É curioso notar que, quanto mais se nos chegam as notícias de desmandos e escândalos nos meios políticos, mais se acende o interesse em resgatar a dignidade, a honestidade e a honradez nos mais diversos segmentos de nossa sociedade, mas muito especialmente, entre os ocupantes de cargos públicos. Nesse intento, porém, o grande problema que se coloca é como conseguir isso. Ou seja, o que pode e o que deve ser feito para que se resgate a ética?
Para construirmos uma resposta com a profundidade que esse assunto merece, penso que o primeiro ponto seja definirmos muito bem o que é ética. Não é esse o local adequado, contudo, para profundos debates filosóficos. Ao contrário, esse objetivo concreto de resgatar a honestidade depende de considerações a ações muito práticas.
Nessa linha, em uma abordagem muito singela, pode-se dizer que á duas modalidades de leis distintas: a lei física e a lei ética. A primeira é a lei do “ser”, ou seja, explica os fenômenos naturais tais como eles são. Por exemplo, através da lei da gravidade sabemos que um corpo é atraído pelo outro. Não há como descumprir essa lei. Se alguém atirar um objeto do alto de um edifício, ele certamente virá ao solo, a menos que outra força aja sobre ele em sentido contrário.
A ética é a lei do “dever ser”, exatamente porque ela se aplica exclusivamente aos seres racionais, vale dizer, ao homem e à mulher, como seres dotados de inteligência e vontade. Tomemos como exemplo a lei ética que preceitua que devermos dar a cada um o que lhe é devido. Essa lei, exatamente porque dirigida a seres humanos livres pode ser cumprida ou não. Ou seja, a lei diz que devemos dar a cada um o que é seu. Todos estão obrigados a isso. Porém, como o ser humano é livre, diante de uma situação qualquer, pode fazer bom uso de sua liberdade e cumprir a lei, ou, ao contrário, pode abusar de sua liberdade e descumprir a lei ética.
Assim como a lei física está como que gravada na natureza, a lei ética está escrita no coração dos seres humanos, posto que a eles é dirigida com exclusividade. Todo homem e toda mulher possui essa lei gravada de forma indelével em seus corações.
Se é assim, porém, muitos de nós podemos nos perguntar: se a lei ética está gravada em todos os seres humanos, como é que se explica que haja bandidos que tiram a vida de seus semelhantes, ou mesmo políticos inescrupulosos que roubam descaradamente o patrimônio público e deixam o povo na mais absoluta miséria? Terão essas pessoas apagado a lei ética? Não. Não é possível apagar a lei ética, mas é possível que a deixemos na escuridão.

É que a lei está gravada em nossos corações, de tal forma que não se pode excluí-la. Mas se pode deixá-la na escuridão. Nossa vida é feita de muitas opções em relação às quais tomamos constantemente decisões. Essas decisões podem ser de acordo ou contrárias à lei natural. Por exemplo, uma pessoa percebe que alguém fez um depósito em sua conta bancária de um valor que não é devido. É natural que se instaure um certo conflito: “devo devolver esse dinheiro ou não?”. Virão considerações do tipo: “Será que terei eu de ser bobo a ponto de devolver? Isso não fará a menor diferença para o banco. Afinal, eles já ganham muito dinheiro”. Mas virão outras considerações: “Isso não é meu e pronto. Tenho de devolver”. A lei natural aponta no sentido de dar a cada um o que é seu. Se a pessoa age de acordo com a lei, ganhará mais luzes para guiar suas vidas pela lei natural

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Parabéns, mestre!

Hoje é o dia do professor. Excelente oportunidade, portanto, para meditarmos no papel que o educador deve desempenhar na construção de um mundo melhor.
Penso que um primeiro passo seja indagar qual é a missão do professor no mundo atual. Será que o professor do ensino médio, por exemplo, tem a obrigação de ensinar matemática, literatura, gramática, física etc, com competência e profundo conhecimento de sua área? Será que o professor do ensino infantil deve cuidar muito bem das crianças que lhes são confiadas? E o professor universitário, cabe a ele transmitir o que há de mais avançado em sua especialidade para que os seus alunos sejam destaques em suas profissões?
Não há dúvida de que se espera tudo isso do professor. Trata-se de exercer a sua profissão com grande competência e seriedade profissional, procurando transmitir o melhor e com a melhor técnica possível aos seus alunos.
Mas a missão do mestre é tão sublime e radicalmente importante em qualquer sociedade que, ainda que já seja muito exigir-lhes dedicação e competência na arte de ensinar, isso é ainda menos do que seus alunos têm direito de esperar deles. É que mais do que informar, ele tem o dever de formar.
A diferença entre informar e formar já se tornou quase que um jargão nos meios acadêmicos, de modo que há como que um desgaste entre os pedagogos na utilização desses termos. Apesar disso, penso que se deva insistir no assunto.
É que o professor tem diante de si seres humanos que contemplam um mundo que ainda não compreendem. Jovens e crianças que anseiam aprender, mas não buscam o conhecimento como um fim em si. Mais que isso, buscam um sentido para suas vidas. Penso, portanto, que o grande desafio do professor seja mostrar uma maravilhosa realidade que se esconde por trás de uma equação matemática. Trata-se de mostrar que, tal como dois mais dois são quatro, o ser humano tem anseios de felicidade exatamente porque quem o criou com tal anseio está apto a saciá-lo plenamente.
Hoje é o dia do professor. Trata-se de uma grande oportunidade que temos para valorizar esse profissional. Mas valorizar não é apenas pagar bons salários. É certo que isso é importantíssimo. Afinal, não há dignidade sem que se assegure um mínimo de condições materiais a quem exerce tão sublime missão.
Mas valorizar o professor implica muito mais. Exige, antes de mais  nada, que se tenha consciência do seu verdadeiro papel. E isso deve partir do próprio professor. Implica que ele próprio tenha consciência da dignidade de sua missão. Com efeito, seus alunos esperam dele, acima de tudo, modelos que valham a pena ser imitados. A criança e o jovem vêem, ou gostariam de ver, em seus mestres pontos de referência. Alguém em quem se sentem absolutamente tranqüilos em se espelhar. Um porto seguro, no qual possam se ancorar. Uma pessoa para quem possam olhar e dizer: “ainda que falte a ética nos meios políticos, ainda que falte esperança em muitas pessoas, eu tenho diante de mim um modelo que a todo momento me inspira alentos de que a vida vale a pena ser vivida”.
Alta é a meta proposta? Sim. Mas não pode aspirar por menos aquele ou aquela que se aventura ser mestre e guia de seus semelhantes.

Aos professores e às professores, dentre os quais me incluo, que hoje desfrutamos de um merecido descanso, ouso concluir com um grande desafio: Amanhã, quando retornamos à sala de aula, olhemos para os nossos alunos e contemplemos pessoas que anseiam por mais que simples conhecimentos, tratam-se de seres humanos que querem acima de tudo ser felizes, e têm direito a que lhes mostremos o caminho para tanto.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Semana da Vida

Há exatamente uma semana, comemorávamos o dia do idoso. Hoje é o dia do nascituro. Eis uma oportunidade magnífica para celebramos a vida que já existe desde o maravilhoso momento em que um espermatozóide, dentre milhares de outros, se funde com um óvulo, dando origem a um novo ser no templo sagrado do útero de uma mãe.
Dom Bruno Gamberini, Arcebispo Metropolitano de Campinas, em sua carta intitulada Um Clamor de Esperança, conclama todos os fiéis para que assumam uma postura ativa em defesa da vida. Trata-se de um documento que deveria ser lido e meditado por todos os cristãos, ainda que não católicos. Afinal, todos cristãos proclamam a fé no mesmo Deus da vida.
Encontramos na carta uma forte e incisiva chamada a todos para que se empenhem na defesa do direito natural à vida, alertando ainda para a cultura da morte que pouco a pouco vai se infiltrando em nossa sociedade sem que percebamos.
De fato, a primeira afronta ao direito natural à vida é a tentativa velada, mas intensa, perseverante, de se difundir a prática do aborto. Talvez não percebamos a manobra muito bem articulada nesse intento homicida, mas ela existe. É que os inimigos da vida agem na surdina, sem alardes, na calada da noite, até porque não suportam a luz. Mas, se dormirmos, quando despertarmos, poderá ser tarde demais, e então teremos de conviver com uma sociedade abortista, que ceifa a vida antes mesmo que o novo ser humano contemple o dia.
A cultura da morte, estejamos alerta, não pára aí. Também se empenha em sua fúria homicida pela eutanásia. A pretexto de uma atuação humanitária, querem matar pessoas quando, com argumentos puramente interesseiros e utilitaristas, estariam elas apenas sofrendo em um leito de uma casa ou hospital.
Mas a cultura da morte é mais implacável, astuta e covardemente destrutiva com os jovens. O jovem traz na alma uma saudável rebeldia. Seu anseio de mudança o faz rebelar-se contra a cultura da morte, que não se afina com o anseio de vida que traz dentro de si.
Ocorre que os defensores da cultura da morte não são capazes de enfrentar com argumentos sólidos os jovens, não podem convencê-los. Exatamente por isso agem no sentido de destruir esse anseio de vida que trazem em suas entranhas.
Nesse intento, difunde-se entre os jovens o uso de entorpecentes, que os leva por caminhos de morte, enfraquece-os na luta, tira-lhes o que possuíam de mais precioso: a esperança. E então, consumidos pelo vício, tornam-se velhos, ainda que com poucos anos. Pior, dominados pela droga, ninguém os dará ouvidos. Afinal, é isso que querem os da cultura da morte: calar os jovens, pois sabem que são eles que se lançam em cantar e gritar na defesa da vida.
Os jovens têm desejos de amar. Procuram por alguém a quem possam se doar sem medidas, pelo resto de suas vidas. Mas os da cultura da morte se apressam e afogar tais anseios. Estimulam que as relações sexuais sejam feitas de forma inconseqüente e egoísta, em busca exclusiva do próprio prazer, usando-se apenas do parceiro para esse fim.
E banalizam o sexo porque, se não fizerem assim, os jovens acabam encontrando outros que pensam como eles, que sabem doar-se incondicionalmente. E se o fizerem, voltarão a constituir famílias sólidas e felizes, e nelas se reacenderão alentos de vida. Que pavor têm os da cultura da morte das famílias felizes, solidamente constituídas na base de um amor juvenil, de entrega incondicional!
Os jovens ainda não abafaram a lei natural que trazem gravada em seus corações. Por isso, querem restabelecer a ética. Mas os da cultura da morte apresentam-lhes um cenário de roubalheira, de desonestidade, astutamente sugerindo-lhes: “não vale a pena ser honesto!”.

Mas lamento dizer-lhes, arautos da morte, que a vida vencerá. Podem ter pequenas e aparentes vitórias aqui a acolá. Mas ao final, teremos sempre jovens santamente rebeldes, que batem o pé no chão e cantam canções bonitas que falam da vida. Jovens sóbrios, que sonham com os pés no chão. Que sabem doar-se, que sabem amar. Jovens que contemplam o cenário político com indignação, mas com anseio de mudança. A esses é que vem o conclame de cantar a beleza da vida.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Dia do idoso

Hoje é o dia nacional (Lei Federal nº. 11.433/06) e internacional do idoso. Trata-se, portanto, de uma excelente oportunidade para falarmos desses jovens ou velhos, pois a juventude e a jovialidade não dependem da idade, que já trazem na face a doce ou amarga marca dos anos.
Exatamente há quatro anos, em 1º de outubro de 2003, foi aprovado o chamado Estatuto do Idoso. Trata-se de um avanço e um marco importante para se resgatar a dignidade do idoso. No entanto, a lei, por si só, é insuficiente e pode esconder uma terrível hipocrisia. É que muitos podem pensar que respeitar o idoso seja apenas garantir-lhe lugares privilegiados em estacionamentos, nas filas de supermercados e transporte público gratuito. De fato, tudo isso é importante e contribui para que se viva melhor nessa fase da vida. Porém, é muito menos do deveríamos proporcionar-lhes.
A dignidade do idoso não pode ser assegurada exclusivamente pelo Estado, nem muito menos pela simples edição de leis. Mais que isso, há de ser proporcionada por todos.
Vivemos numa sociedade em que, dentre muitas crueldades, simplesmente se descartam seres humanos. Por exemplo, os juízes e funcionários públicos em geral se aposentam obrigatoriamente aos setenta anos. No entanto, muitos deles, apesar da idade, possuem enorme experiência e vigor suficiente para continuarem exercendo a função. Pior ainda é a situação do profissional da iniciativa privada. É que, se tiver a desgraça de ficar desempregado após os cinqüenta anos, passa por um verdadeiro calvário até conseguir (e se conseguir) uma recolocação no mercado de trabalho. Por que disso? Será que é bom para nossa sociedade de consumo descartar as pessoas como se descartam os equipamentos eletrônicos sempre que surgem outros mais “modernos”?
Além do Estado e da sociedade, a dignidade do idoso deve ser resgatada primordialmente pelos que com eles convivem. A vida moderna impõe às pessoas um ritmo frenético, tudo é para ontem, tudo é urgente, tudo tem de acontecer em frações de segundos. Engolidos por isso, muitos perdem o hábito de parar e escutar as pessoas, de falar olhando no olho. No entanto, as crianças e os idosos se ressentem muito disso. Vivem eles num ritmo em que necessitam de serem ouvidos, sem pressa, sem olhares afobados e de canto de olho para o relógio. E, no fim das contas, os cinco ou dez minutos em que paramos para dialogar com eles é muito pouco no contexto geral de nossos dias. É muito menos do que perdemos, diariamente, lendo e-mails inúteis ou navegando por sites “interessantes” na internet.
Por fim, a dignidade do idoso depende dele próprio, da postura que assumiu e assume diante da vida. Trata-se de reconhecer que ninguém ganhou essa fantástica passagem por esta vida por acaso. Todos têm uma missão que acompanha do primeiro ao último suspiro.
Tive, ou melhor, tenho um grande amigo que morreu jovem aos mais de oitenta anos e que deixou uma brilhante lição de vida. Estava ele com uma doença incurável no hospital e, como era muito querido, recebia várias visitas. Certo dia, disse ele à enfermeira que o atendia: “Você sabe que sou um homem muito rico?”. Ela, sem deixar de mexer na injeção que aplicaria, respondeu: “ah, é?”. E o amigo concluiu: “a minha riqueza é a minha família: tenho muitos filhos, muitos netos e alguns bisnetos que agora me acompanham neste momento. A enfermeira ficou muito impressionada com a serenidade com que ele encarava os últimos momentos de sua vida. Dias antes de ele morrer, a enfermeira veio ter com ele e disse: “Eu gostaria de lhe agradecer. É que estou grávida e estava pensando em fazer um aborto. Mas, vendo o senhor com essa alegria e serenidade nesses momentos, eu voltei a acreditar na vida”. Trata-se de um jovem idoso que soube dar um sentido maravilhoso até o último instante de sua vida.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Você é insubstituível!

Há alguns dias a BBC de Londres noticiou que o governador do Estado russo de Ulyanovsk, Sergei Morozov, incentivou casais a tirarem folga no dia 12 de setembro para “trabalharem na concepção de crianças”. Mas o incentivo não se limita à ausência no trabalho. Além disso, Morozov oferece ainda vários prêmios aos casais que tiverem bebês em exatamente nove meses, no dia nacional da Rússia, o 12 de junho. Os bebês nascidos no dia da Rússia ganham carros, televisores e outros agrados.
Não temos por objetivo criticar as políticas públicas de estímulo ou controle  da natalidade, mas penso que pode haver por detrás delas, com reflexo no que as pessoas pensam, certa inversão de valores. É que os Governos têm estimulado a procriação quando falta mão-de-obra para aquecer a economia, e, ao contrário, desenvolvem campanhas anti-natalistas quando sobra pessoas economicamente ativas, ou quando os bens são escassos para atender às suas necessidades vitais.
E nisso há uma terrível e catastrófica inversão de valores. É que os bens e a economia existem para o ser humano, e não o contrário, como se homens e mulheres só merecessem o dom da vida na medida em que a economia seja tal que os possa proporcionar comida, alimentação e lazer. Ou seja, faz-se com o ser humano mais ou menos o que faz o pecuarista com o gado, que compra bois na época das águas em que o pasto é abundante e dele se desfaz na seca, quando falta alimento.
Vivemos num momento da história da humanidade em que há muitos bens de consumo, que estão disponíveis mesmo para as pessoas de baixa renda, como por exemplo o telefone celular. É no mínimo discutível, porém, se isso representa numa efetiva melhora da qualidade. Aliás, o que é qualidade de vida? Seria viver em um local aprazível, livre de ruídos e poluição? Seria dispor de recursos para ter todas as comodidades que a vida moderna proporciona? Tudo isso é muito bom, mas será que não teria uma vida de muito mais qualidade uma pessoa que, tendo ou não esses bens, consegue olhar para si em uma segunda-feira de manhã, quando caminha para o trabalho, e dizer “como sou feliz!”. Ou, mais ainda, “como é bom estar vivo, pois tenho um verdadeiro sentido para a minha vida!”.
E essa forma de viver e de encarar a vida não se mede em indicadores econômicos e demográficos.
Em tom de desabafo, um amigo me confidenciou como se sentiu quando tomou seu filho no colo, minutos após o seu nascimento na maternidade. Disse ele: “não pensei em que número seria na lista do SEADE, nem o percentual que isso representaria no índice de natalidade. Mas estava absolutamente certo que era um novo ser que vinha ao mundo. Uma pessoa absolutamente única e irrepetível dentre as outras seis bilhões que há no planeta semelhantes a ele. E mais, meu filho é um homem chamado a viver exageradamente feliz, conquanto que simplesmente o queira e que busque essa felicidade pelos retos caminhos que conduzem a ela”.

Há um clássico do cinema, A felicidade não se compra, dirigido por Frank Capra que, dentre muitas outras lições, nos relega também essa: cada um de nós é único e insubstituível. Aliás, recomendo vivamente ao leitor que assista ao filme e, após, medite com sinceridade na seguinte indagação: “como seria o mundo, esse pequeno ambiente que me cerca, a minha família, o meu local de trabalho, o meu bairro, se eu não existisse?”. E, após meditar nisso, não se esqueça que há ainda alguns anos, ou talvez dias ou horas de vida, não importa, o que importa é que esses minutos que restam, sejam bem gastos a fazer mais felizes as pessoas e belo o ambiente que nos circunda.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Críticas

O jornal é um local apropriado para o debate, o confronto de idéias e pontos de vista diferentes. Nesse sentido, é natural que haja críticas. Isso, porém, nos permite indagar sobre quando uma crítica pode ser construtiva e quando não presta senão para humilhar ou ofender aqueles a quem é dirigida.
Penso que um primeiro aspecto a se considerar é se o fato é importante. Há pessoas que são capazes de fazer um verdadeiro carnaval porque alguém apertou o tubo do creme dental pelo meio e não em sua extremidade. Há pais que chegam a mostrar verdadeira indignação com o filho que coloca o feijão sobre o arroz no prato, ou vice-versa. Ora, que importância tem isso? Vale a pena se desgastar e causar aborrecimentos com coisas que não têm a menor relevância?
Outro requisito de uma boa crítica é a intenção de quem a faz. Há de se ter como propósito o bem daquele a quem é dirigida, ou das pessoas que com ele convive. Por exemplo, se o pai ou a mãe nota a desordem e o desleixo no quarto do filho, não podem se omitir, talvez pensando que, quando crescer, irá adquirir a ordem por si só. Ao contrário, têm o dever de exigir do filho para educá-lo. Mas há de o fazer por querê-lo bem e nada mais. É que temos a tendência de criticar e exigir dos filhos no que nos incomoda, e não no que lhe é verdadeiramente bom.
Talvez o aspecto mais importante da crítica bem feita é a forma com que é dita. Sei de um marido que, no meio do jantar, preparado pela esposa com muito esforço e carinho, resolveu fazer uma brincadeirinha: “este arroz é da marca unidos venceremos?”. São também nefastas e destroem o bom ambiente familiar as generalizações. Por exemplo, o marido entra em casa após um dia estressante de trabalho e a primeira frase que recebe da esposa é: “atrasado de novo!”.
Entre as nações, sabemos que há leis internacionais tratando das guerras, definindo o que é lícito e o que não é durante um confronto armado. Pois bem, se alguém se dispusesse a redigir uma espécie de código das brigas entre o casal, penso que o artigo mais importante seria o seguinte: “Durante uma discussão, é proibido usar as palavras sempre e nunca”. De fato, não há o que fazer quando o outro diz: “você sempre faz isso”, ou “você nunca faz aquilo”. Ora, se a pessoa chegou atrasada em seis dias da semana e em um foi pontual, é o quanto basta para concluir que é injusta e mentirosa a acusação de que sempre chega atrasado.
É importante que a crítica, além de bem intencionada (com o propósito de ajudar) e feita de forma respeitosa, se atenha aos fatos concretos. Por exemplo: “Querido, você chegou atrasado quatro dias desta semana. Com isso, as crianças foram dormir sem poder ficar um pouco de tempo com você. Eu sei que tem muito trabalho, mas poderia fazer um esforço nesse sentido?”. É muito pouco provável que se zangue quem recebe tal crítica. E, se zangar, é porque tem uma suscetibilidade muito exacerbada, e nesse caso quem terá de se esforçar é ele.
Há alguns anos tive a imensa felicidade de ter como meu superior no trabalho uma pessoa que era mestre em não falar mal de ninguém. Soube por um terceiro que ele havia se envolvido em um acidente de veículo, no qual o outro motorista, dirigindo embriagado e em alta velocidade, desrespeitou o sinal vermelho e causou bastante estrago. Já sabendo por alto dos fatos, perguntei a ele o que havia ocorrido, ao que ele confirmou o acidente. Porém, da pessoa que o causou, limitou-se a dizer: “é um homem honestíssimo. Após a batida compareceu na delegacia, assumiu a culpa e se dispôs a consertar o veículo”.

Penso que as nossas famílias e os nossos locais de trabalho estão muito carentes de pessoas como esse chefe que tive. Carentes de homens e mulheres que não fazem comentários azedos ou ferinos. Ao contrário, que sejam semeadores de paz e de alegria em todos os ambientes em que convivem.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Homens públicos no banco dos réus

Os escândalos envolvendo o Presidente do Senado Federal nos convidam a refletir sobre a postura que devem tomar os detentores de cargos públicos quando se vêem acusados de irregularidades no exercício de suas funções.
Penso que um primeiro aspecto a ser considerado é que todo cidadão tem o inviolável direito de se defender de toda e qualquer acusação. O direito de defesa está assegurado na Constituição Federal e, além disso, trata-se de uma questão de justiça. Afinal, qual de nós gostaria de ser condenado publicamente sem que pudesse se defender das acusações?
A história tem mostrado que muitas pessoas e instituições sofreram acusações, com implacável condenação pública, e que, posteriormente, por vezes anos após, se constatou serem injustas.
Além disso, há de se reconhecer que a imprensa tem desempenhado um importantíssimo papel em busca da punição daqueles que cometem crimes, em especial, os detentores de importantes cargos públicos. No entanto, não raras vezes a mídia se encarrega de condenar em uma precipitada interpretação dos fatos.
Portanto, o direito de se defender deve ser assegurado a todo cidadão, inclusive aos detentores de cargos públicos.
No entanto, se não pode haver nenhuma distinção entre o cidadão comum e o que ocupa um cargo público, no que diz respeito ao direito de defesa, deve haver uma grande diferença entre eles sobre a postura que devem assumir quando se vêem acusados por crimes cometidos.
É que um cidadão comum pode se ocupar de sua defesa e, se os crimes cometidos não forem daqueles que justificam uma prisão no curso do processo, poderá continuar levando sua vida normal, exercendo, na medida do possível, o seu trabalho.
O mesmo nem sempre ocorre com o homem público. Imagine-se, por exemplo, que surjam indícios de que um determinado juiz tenha recebido dinheiro para decidir um caso em favor de uma das partes e que se abra um processo para apurar os fatos. Nesse caso, se as provas forem de certa segurança e se os fatos ganharem repercussão, é extremamente inconveniente que permaneça no cargo. Não se trata de impedir o direito de defesa, que a todos é assegurado, mas de preservar a instituição enquanto os fatos são apurados. Afinal, como se sentiriam as pessoas que tivessem processos que devam ser decididos por essa autoridade?
É necessário entender que os cargos públicos não têm donos. Há pessoas que os ocupam, e somente o fazem legitimamente para servir aos demais. Aliás, todos são, ou deveriam ser, servidores públicos. Assim, mesmo que se julguem completamente inocentes das acusações, somente poderiam permanecer nas funções públicas enquanto subsistissem as condições para continuar servindo. E se houver incompatibilidade, a solução mais honrada é deixá-lo, ainda que provisoriamente, para que, preservando a instituição, possa tentar provar sua inocência.
E essa postura é ainda mais necessária quando são os próprios pares que devem julgar a conduta supostamente ilícita. É que, nesse caso, a permanência do acusado no cargo prejudica, e muito, o bom funcionamento da própria instituição. É o que me parece que ocorre atualmente no Senado Federal. Ainda que o Presidente daquela instituição se julgue absolutamente inocente, é inconcebível que se mantenha no cargo, com prejuízo de todo o funcionamento da casa, que outra coisa não faz que não apreciar se o retira ou o mantém no cargo.
Ora, se o que importa é servir, mesmo diante de uma acusação que se acredite ser injusta, o mais honrado e o que melhor atende ao interesse público, é que se afaste do cargo, quando menos para permitir que a instituição volte a desempenhar suas funções.

Nunca me esqueci de uma educada repreensão que sofri de meu avô. Disse-me ele que um grande homem se nota nos pequenos gestos. E é nesses que se constata se os homens públicos estão nos cargos para servir, ou, ao contrário, se os ocupam exclusivamente para usufruir de privilégios, lícitos ou ilícitos.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Cobaias

Caro leitor, faz quatorze anos que me formei em direito e há nove sou juiz. Como todos sabem, em minha profissão é muito freqüente interpretar a lei de aplicá-la aos casos que tenho de decidir. Posso dizer, sem correr o risco de ser tido como soberbo, que tenho certa familiaridade com a interpretação das normas. Porém, analisando algumas leis já vigentes em nosso País, confrontadas com outras que se pretendem aprovar, confesso que não consigo entender. Por isso, humildemente admito que preciso de ajuda.
Desde março de 2005, está vigente a Lei Federal nº. 11.105/05, a chamada Lei da Biossegurança, que trata dos organismos geneticamente modificados – OGM, o que ficou mais conhecido entre a população como alimentos transgênicos. Ao que parece, essa lei colocou o ser humano dentre os “organismos” geneticamente modificáveis. É que, em seu artigo 5º, se permite a utilização de células-tronco embrionárias, obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro, para fins de pesquisa e terapia. Mas será que essa norma é razoável, ou melhor, é constitucional?
Nossa Constituição Federal, em seu artigo 5º, estabelece que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. O direito à vida é, portanto, inviolável. Mas a questão que se coloca, com relação à possibilidade de utilização de embriões humanos para pesquisa, está relacionada com o início do direito à vida. Isto é, quando começa a vida humana? Há vida humana no embrião humano?
Penso que nossas leis já são claras sobre o assunto. A mesma Constituição Federal, agora nos §§ 2º e 3º do artigo 5º, consagra a validade no País dos tratados internacionais de que o Brasil seja signatário. E foi ratificada pelo Brasil a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, o chamado Pacto de São José da Costa Rica, que, em seu artigo 4º, assegura que toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ter proteção pela lei e, em geral, desde o momento da  concepção. Portanto, a vida humana já se encontra protegida juridicamente desde a concepção, tanto que o artigo 2º do Código Civil também assegura, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Sendo assim, como é possível que seja utilizado para pesquisa um embrião humano se ele, desde a concepção, já tem assegurado o direito à vida?
Confesso ao leitor que de há muito tenho essas dúvidas e não consigo entender como que se pode harmonizar o artigo 5º da Lei da Biossegurança com a nossa Constituição Federal.
Porém, a confusão pode ficar ainda pior. Por falar em pesquisa científica, está em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei 215/2.007. Esse, em seu artigo 110, proíbe uso de animais para fins científicos ou didáticos, dentre outras situações: I. quando existirem métodos alternativos ou substitutivos à experimentação; e II. se o procedimento para fins de experimentação animal causar dor, estresse ou desconforto ao animal.
O projeto proíbe a utilização de animais para fins científicos quando existirem métodos alternativos. Será que os embriões humanos podem ser considerados como método alternativo a poupar os pobres animaizinhos? Será que uma droga, ainda em fase de experimentação, pode ser aplicada em animal somente se não lhe causar desconforto? Deverá ser testada diretamente em seres humanos, portanto?
Acho que estou ficando louco! Alguém pode me ajudar a entender essas leis?
O que é pior, caro leitor, é que tanto mais tento entender tudo isso, a única coisa que me vêm à cabeça é o imperador romano, Calígula, que nomeou seu cavalo favorito, Incitatus, para o Senado. Será que caminhamos para isso?

Bem, pelo menos o Incitatus não aprovaria leis desse tipo. Ou aprovaria?

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Confissões de um juiz

Contemplando o incidente ocorrido no Supremo Tribunal Federal por ocasião do início do julgamento do “mensalão”, invadiu-me um profundo desejo de compartilhar com o leitor o que se passa na cabeça de um juiz no ato de decidir. Não comentarei o caso, nem tampouco falarei de processos que eu tenha de decidir pessoalmente. Porém, para melhor ilustrar, falarei de um litígio já decidido, até porque a lei (artigo 36, inciso III da Lei Orgânica da Magistratura) proíbe que me manifeste somente sobre processo pendente de julgamento, não sobre os já julgados.
Certo dia, estava eu intrigado com um caso que teria de decidir. Tratava-se de um seguro de vida, cujas parcelas do prêmio deveriam ser debitadas todo dia 4 de cada mês em conta corrente. Naquele mês, o dia 4 caiu num sábado. No domingo, dia 5, o segurado faleceu. Na segunda-feira, dia 6, a parcela do prêmio não foi debitada na conta, por ausência de fundos. Com o argumento de que não foi paga essa parcela, a seguradora negou o pagamento da indenização.
Li e reli o caso. Estava inconformado, sentindo-me de mãos atadas, pois não me parecia justo negar a indenização, afinal a morte ocorreu antes da data em que poderia ser paga a parcela do prêmio. Porém, havia uma cláusula que previa que se o vencimento ocorresse em um dia sem expediente bancário, prorrogava-se o vencimento para o primeiro dia útil seguinte, ficando o pagamento da indenização condicionado ao pagamento dessa parcela.
Meu filho, então com sete anos, que fazia lição ao meu lado no escritório, notou a minha inquietação e quis saber o motivo. Relatei o caso a ele, explicando com uma linguagem que pudesse entender. Poucos minutos após, com a sabedoria e a simplicidade que apenas as crianças têm, ele me perguntou: “Pai, qual é o valor que a mulher do homem que morreu quer receber?”. “Cinqüenta mil reais”, respondi. “Quanto que teria que ter pago na segunda-feira?”. “Cinqüenta e quatro reais”, respondi sem suspeitar o que ele queria dizer. Em seguida, voltou a perguntar: “Pai, quanto é cinqüenta mil menos cinqüenta e quatro?”.
“É isso!”, exclamei. Esse garoto matou a charada. Há um instituto jurídico chamado compensação. Se no domingo o segurado já era credor, não precisaria pagar a parcela na segunda-feira, pois os débitos se compensam. Em seguida abandonei a simplicidade da criança e voltei a redigir a sentença com citações de artigos de lei, jurisprudência etc.
Há poucos dias, atormentava-me com uma questão jurídica e, por conseqüência, com a justiça da decisão que seria dada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Não hesitei em ir conversar com o colega que participaria da decisão do recurso. No debate e na troca de opiniões surgiram idéias que permitiram construir uma decisão que, naquela situação, parece a mais justa, sem fugir do que determina a lei.
O juiz não é um ser extraterrestre, insensível aos reclamos do povo, totalmente alheio à opinião pública. De fato, a sua preocupação maior deve estar em fazer justiça. Ele deve prestar contas, em primeiro lugar, a sua própria consciência. Mas tem dúvidas e inseguranças. Por vezes, sente o peso quase que insuportável das conseqüências da decisão que terá de proferir.
Não há inconveniente em comentar com os colegas que no Tribunal terão de decidir o mesmo caso, pois isso enriquece o conhecimento e possibilita construir melhor a decisão, após ser mais detidamente refletida e analisada.
Porém, todo juiz tem de se examinar a si próprio acerca de qual é o fim realmente visado em cada decisão: fazer justiça, dando a cada um o que lhe é devido? Ou preservar a própria imagem, dando asas à vaidade para que todos o considerem uma pessoa culta, sábia etc?

Por fim, o juiz deve ser muito cauteloso ao escolher com quem pode tratar de suas dúvidas e dificuldades. Todos conheceram a história de Pilatos, que ao julgar foi pedir a opinião de uma multidão encrespada: “querem que vos solte Barrabás?”. E os maus conselheiros responderam que SIM. E o juiz, fraco e mal aconselhado, lava as mãos (como se isso atenuasse sua responsabilidade) e deixa que executem a sentença mais injusta que a humanidade já conheceu.