Na semana passada tive a grata satisfação de visitar
a sede da associação Esperança e Vida. Como se sabe, trata-se de uma
instituição que, inspirada pelos valores cristãos, tem por missão acolher,
recuperar e proporcionar um estilo de vida saudável às pessoas com HIV/Aids e
dependentes químicos de drogas e álcool. Enquanto o trabalho ali desenvolvido
me era apresentado, o Robertinho, presidente da entidade, perguntou a um de
seus filhos o que significou para ele a assistência que recebeu, ao que ele
respondeu sem hesitar: “é um retorno para a verdadeira vida”.
Como é bom, como é reconfortante contemplar a
felicidade estampada na face das pessoas que trilharam caminhos ruins, mas que
resolveram mudar o rumo de suas vidas! Porém, não podemos nos esquecer que a
alegria que essas pessoas espalham não é conseqüência exclusiva de uma decisão
tomada num determinado instante. Ao contrário, é fruto de uma luta constante,
que se renova dia após dia. A felicidade é algo a ser construído a todo instante
em nossas vidas. E, como toda obra grande e valiosa, custa esforço e
sacrifício. Mas vale a pena. Na verdade, lutar pela verdadeira felicidade é a
única coisa que realmente vale a pena em nossas vidas.
Nos próximos dias receberemos muitas saudações de
“feliz ano novo!”. Muitos dirão, como se canta na velha cantiga da virada do
ano: “adeus ano velho (...), que os sonhos se realizem (...), muito dinheiro no
bolso e saúde prá dar e vender”. Dinheiro, saúde, realização dos sonhos são
coisas importantes. O grande erro, mais que isso, a causa de grande fracasso em
nossa vida, porém, está em colocar exclusivamente nisso a nossa esperança de
felicidade. É que a felicidade, assim como a tristeza, está em nosso interior e
não nas coisas e acontecimentos exteriores.
A verdadeira alegria não está nisso que as pessoas,
com muito boa intenção, nos desejam nos cartões de Natal: dinheiro,
realizações, sucesso etc. Uma das cenas mais comoventes que já presenciei
ocorreu-me por ocasião da Ceia de Natal do ano passado. Um de meus filhos havia
acabado de receber um presente que há muito esperava. Tratava-se de um
aviãozinho. Porém, mal o retirou da caixa, a priminha inadvertidamente pisou
sobre a asa e o danificou por completo. O filho mais velho, sem hesitar, cedeu
o seu presente para o irmão. Com isso, o que havia perdido o presente ficou
feliz, mas o que deu o seu para o irmão ficou muitíssimo mais contente ainda.
Trata-se de um exemplo muito palpável de que “há mais alegria em dar do que em
receber”.
Mas sabemos que essa atitude, da qual brota a
verdadeira felicidade, nem sempre é fácil de ser assumida. A nossa tendência é de
nos fecharmos em nós mesmos, buscando os nossos desejos, as nossas satisfação,
os nossos prazeres. Porém, não podemos esquecer que o nosso coração tem uma
porta que abre para fora. Se a quisermos abrir para dentro, quanto mais a
forçarmos, tanto mais a manteremos fechada. E dessa atitude egoísta somente
brota o rancor, a desconfiança e o ressentimento que nos aprisionam numa triste
solidão interior.
Talvez a melhor saudação que possamos fazer aos
nossos amigos e familiares nesses dias é que renovem os propósitos de lutar por
ser felizes. E, principalmente, que passem a procurar a verdadeira felicidade
onde a podem encontrar. E a encontramos em nós mesmos, na luta que travamos,
dia após dia, por sermos melhores para servir aos demais.
A felicidade é uma luz que brilha em nossa alma. Ela,
por si, não muda as coisas, mas faz com que as enxerguemos com outros olhos.
Algo de semelhante ocorre com o sol. Ao nascer, não muda o mundo. Tudo
permanece mais ou menos como era durante a escuridão da noite. Porém, a sua luz
ilumina todas as coisas, e, ao refletiram a luz do sol, tornam-se mais belas.
Assim podemos ser nós: luzes que fazem refletir no mundo a sua beleza e
esplendor.
A todos, um feliz ano novo! Ou, se preferirem, um ano
novo repleto de felicidade! Para isso, porém, não nos esqueçamos: ano novo,
luta nova!