Lembro-me de que certa vez estava em companhia de meu avô em um baile de formatura. Num dado momento alguns formandos, embriagados, excediam-se em umas brincadeiras de mau gosto. Ele, apesar de descontraído, apontou-me para aquilo e me aconselhou: “Sabe, filho, um grande homem se faz de pequenos gestos. Não faça nunca o mesmo que esses moços”. Impressionou-me o conselho, sobretudo porque não era ele, nem de longe, nenhum moralista.
Lembro-me disso agora para refletir na situação atual dos idosos. Uma das características mais marcantes da vida moderna é a rapidez com que a coisas mudam e o mundo se transforma. E, de certa forma, quem não consegue acompanhar esse ritmo frenético, é como que deixado para traz. E as maiores vítimas disso são as pessoas de idade avançada, que têm maiores dificuldades em acompanhar essas mudanças.
Em outros tempos da história, a evolução se dava de forma muito mais pausada e não se percebiam grandes transformações de uma geração para a outra. Assim, pais e filhos mantinham estilos de vida muito semelhantes, dispunham dos mesmos conhecimentos e usufruíam as mesmas “inovações tecnológicas”. Era comum, portanto, que o passar dos anos significasse maior experiência e, por conseqüência, tornava os idosos aptos para serem bons conselheiros das novas gerações, tanto que se ouviam os anciãos com respeito que os anos de vida lhes rendiam.
Em nosso tempo, ocorre quase que o inverso.
Tomemos o exemplo do que ocorre em um bate-papo entre jovens. Se algum idoso se
aventura a dar o seu parecer, a primeira reação é pensar que a opinião não tem
valor, afinal, pensa-se, os tempos são outros.
É exemplo que também ilustra essa situação o
mercado de trabalho. Também é freqüente que pessoas com menos de trinta anos
ocupem cargos de destaque nas empresas e no serviço público. Ao contrário, é
cada vez mais difícil encontrar colocação no mercado de trabalho após certa
idade.
Aos poucos parece que se está dando conta da
situação discriminatória do idoso, e passam-se a se implementar medidas protetivas,
como o Estatuto do Idoso. Porém, não basta assegurar transporte gratuito e
vagas especiais em estacionamentos.
Tais medidas não representam nenhum tipo de
privilégio, ao contrário, e direito que se lhes há de assegurar por medida de
justiça. Porém, mais do que isso, as pessoas de idade avançada podem ser muito
úteis à sociedade, e a sabedoria deles não pode ser simplesmente desperdiçada.
Possuem uma experiência de vida que podem ser muito úteis aos demais. E não são
piores do que os jovens somente porque não dominam os recursos da informática
com a mesma habilidade.
É bem verdade que há pessoas que contribuem
para ficar como que isoladas. São aqueles que vivem num saudosismo pegajoso, a
todo tempo se queixando de que o mundo moderno é uma droga e que antigamente
sim é que era bom...
Porém, há pessoas de
poucos anos que já são velhos, mantêm-se sempre taciturnos, queixosos, sem
vontade nem esperança de fazer melhor o mundo que os cercam. Há outros, porém,
que apesar dos muitos anos, mantêm todo o frescor da juventude, com uma postura
sorridente e descontraída, sedentos de vida e apaixonados por ela. Talvez a
marca distintiva entre uns e outros seja a disponibilidade em servir aos
demais. Quem anda muito ocupado, e centrado em si mesmo, sente-se cada vez mais
insatisfeito e, portanto, triste. Quem, ao contrário, se dedica aos demais,
sequer encontra tempo para considerar o que lhe falta, de modo que é comum
trazer em si a marca de uma profunda alegria.
Nestes dias de final de ano é comum avivarmos
os propósitos para o ano vindouro. Além dos muitos desejos de melhora
profissional, de sucesso nos negócios, penso que poderíamos incluir esses que
nos garantem uma eterna juventude: o de ser mais prestativos e dedicados aos
demais, em especial, para com as pessoas de idade avançada.