Muitas famílias estão
em isolamento no nosso País e no mundo nos últimos dias. É provável que ninguém
de nós tenha passado por situação semelhante em toda a vida. Isso pode ser
ocasião para sermos pessoas melhores ou, ao contrário, ser motivo para conflitos,
brigas e desentendimentos, que tanto abalam o convívio familiar.
Por isso, gostaria de
compartilhar hoje com o leitor algumas experiências que temos vivenciado na
nossa família.
Em meio ao isolamento, há
alguns dias, foi o aniversário de oito anos do nosso nono filho, o Vicente. Há
um costume na nossa família de ganhar café da manhã na cama nesse dia. Só que o
leite acabou. Como tínhamos sintomas suspeitos da temível doença (tosse, dor de
garganta e um pouco de falta de ar), não me aventurei a ir até a padaria comprar,
apesar de ter prometido isso a ele na véspera.
Diante disso, o jeito
foi me contentar com uns ovos mexidos decorados com ketchup e o nome dele
escrito com uns bacons fritos. Estou certo de que seria desclassificado de
plano em qualquer concurso de MasterChef para criança. A reação dele, porém,
quebrou todas as minhas expectativas. Ficou felicíssimo. Comia aqueles ovos sem
graça como se fosse o prato mais delicioso do mundo...
Então nos veio a
primeira lição: contentemo-nos com o que temos. Com muito pouco, é possível
fazer felizes os que estão ao nosso lado. Acontece que temos uma tendência para
criar necessidades. Colocamos uma série de requisitos para que se possa fazer uma
comemoração. No entanto, na simplicidade e nos pequenos detalhes de carinho e
atenção é que se esconde o segredo da paz na família.
O dia seguiu e a minha
querida e dedicada esposa convenceu o nosso médico a me atender, apesar de ser
um sábado. Ele também ficou com a suspeita de que de fato eu posso ter sofrido
o contágio com o Coronavírus. Voltei para casa me sentindo privilegiado.
Afinal, os sintomas não foram tão incômodos assim e, se confirmado, estaria
inume em pouco tempo e, quando não mais houvesse risco de contágio para outras
pessoas, estaria afinal livre do isolamento. Só que não. Após inúmeras
tentativas, todas em vão, fiquei sabendo que o exame só é feito em pacientes
graves, o que não é o meu caso. Com isso, ficarei indefinidamente na dúvida. E
segue o isolamento até o final...
Eis aqui a segunda
lição: não temos controle de nada na nossa vida. Deus está no comando. Ele sabe
mais e melhor o que nos convém. Muitas vezes fazemos planos e nos irritamos que
as coisas não ocorram tal como havíamos planejado. Acontece que a felicidade
não está em que tudo corra bem, de acordo com o nosso planejamento. Ao
contrário, ela está também na aceitação das contrariedades, com a certeza de
que são enviadas ou ao menos permitidas por um Pai que nos ama e que cuida de
nós.
Como era um sábado,
decidi não trabalhar em home office. Finalmente teria algumas horas para ler o
livro que espero há tanto tempo, pensei. Só que não. Preparativos para o
aniversário – somente com os irmãos presentes, o que não é pouco – depois
jogos, nos quais fui vivamente requisitado, o Álvaro, de 2 anos, exigindo a
atenção... Enfim, tive de me contentar com 15 ou 20 minutos de leitura...
Depois disso tudo,
fizemos uma oração em família. Logo após, sem saber o motivo, invadiu uma
sensação profunda de paz e alegria...
Recebi, então, a terceira
lição: o segredo da felicidade está em pensar nos outros. Já o apego ao nosso
comodismo, o pensar apenas em nós mesmos é a receita ideal para a frustração e
para a tristeza.
Aproveitemos, pois,
intensamente esse tempo de isolamento. Quem sabe o dia que voltarmos à vida
normal, o mundo e os locais que frequentamos receba pessoas melhores, que
souberam adquirir muitas virtudes nesses momentos difíceis.