segunda-feira, 27 de maio de 2013

Alegrias e Desafios da Comunicação no Matrimônio

Grande parte dos problemas vivenciados pelos casais tem na sua causa ou como consequência uma dificuldade de comunicação. Não é sem razão que os casais mais sábios costumam aconselhar o diálogo. No entanto, o simples fato de se conversar pode não resolver a questão. Com efeito, dependendo da maneira como é estabelecida, a conversa pode ser origem de conflitos, desavenças e incompreensões. Alguns casais optam pelo silêncio, agravando o problema. O que é necessário para se comunicar de maneira eficaz e eficiente?
Um primeiro ponto a se considerar é que homem e mulher são essencialmente diferentes entre si. Muitos maridos, sobretudo nos primeiros anos da vida conjugal, esperam da esposa atitudes masculinas no modo de pensar, sentir e agir diante de muitas situações.
Tomemos um exemplo. Para um homem, se alguém lhe comunica um problema, “só pode estar buscando uma solução”. Assim, quando a esposa lhe relata um fato – do trabalho dela, p. ex. – imediatamente ele se põe a procurar uma solução e prontamente a comunica. E pior, depois de sua resposta, pensa que não faz sentido continuar a falar sobre o assunto. No entanto, para a esposa, relatar alguma dificuldade, pode ser para buscar empatia e não solução. Ela deseja apenas ser ouvida e compreendida e que o esposo mostre interesse pelos seus sentimentos e pelo que a angustia.
No entanto, por desconhecerem essa diferença natural nas naturezas masculina e feminina, acontecimentos pequenos podem ser causa de desentendimentos: ele pode se aborrecer por ela retomar um assunto “resolvido”, e ela pode sentir que ele não gosta o bastante dela, afinal, “nunca a ouve com atenção”.
Outro ponto relevante está nas expectativas não comunicadas mas que se presumem conhecidas. Se ele prefere divertir-se na companhia de casais amigos, não entende que ela goste de estar só com ele e os filhos ou com a família dela. No entanto, a falta de se comunicar tais preferências “óbvias” resulta em expectativas frustradas. É comum que alguém fique emburrado, atribuindo ao outro uma atitude egoísta.
A comunicação no matrimônio tem uma grande inimiga: a imaginação. Muitas vezes a mulher nota algum objeto deixado fora do lugar e começa a ruminar interiormente: “ele faz isso só pra me irritar... Não tem outra explicação, afinal, eu já lhe falei mil vezes...”. Outras vezes é ele que forma juízos “infalíveis”, do tipo: “ela está se tornando igualzinha à mãe dela”. E então fica procurando em suas atitudes manifestações do mesmo defeito da sogra de modo a comprovar suas conclusões.
Acontece que alimentar esses maus pensamentos vai corroendo o apreço pelo outro. Além disso, essas ideias infundadas mudam a atitude de um com o outro, resultando em hostilidades, cujo motivo o cônjuge absolutamente desconhece. Por isso, é preciso ter a valentia de cortar prontamente esses pensamentos distorcidos. Ao contrário, devemos usar a imaginação para fins mais nobres, pensando nas qualidades do nosso cônjuge, ou relembrando bons momentos passados juntos e o quanto um já se sacrificou pelo outro na vida conjugal.

Feitas essas considerações, é necessário falar, mas com sabedoria e senso de oportunidade. Há momentos que não são propícios para levantar questões conflituosas. Além disso, há de se buscar uma forma positiva de dizer as coisas, especialmente quando for necessária uma crítica. Talvez nos ajude a encontrar um ponto de equilíbrio considerar que nos casamos para fazer o outro feliz. Para isso, é necessário buscarmos conhecer nosso cônjuge: suas expectativas, o que lhe agrada e o que de nós aborrece o outro. Crescer nesse conhecimento leva a um coração cada vez mais enamorado, carinhoso e compreensivo.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Olhar nos olhos

Um amigo me comentou uma experiência que vivenciou no horário de saída de um colégio. Alguns pais e mães compareciam apressados e, muitas vezes sem interromper a conversa no celular, instavam os filhos a entrar o quanto antes no veículo. “A criança esteve ali por várias horas e o pai ou a mãe sequer se dignavam dar um beijo, um abraço, ou ao menos uma recepção mais calorosa, olhando nos olhos e procurando saber como havia sido o dia do filho ou da filha”, desabafou ele.
A revolução tecnológica que marca a nossa era tem muitos efeitos positivos. Muitas tarefas que décadas atrás demandavam muito tempo e esforço, hoje se resolvem num clique. Paradoxalmente, contudo, as pessoas se sentem cada vez com menos tempo. E, se não estivermos atentos, isso pode ter como consequência o empobrecimento das relações familiares.
A criança, sobretudo na primeira infância, tem uma necessidade muito grande de experimentar o amor dos pais pela afetividade. Sabemos que o amor não se resume a um sentimento. É muito mais que isso e se manifesta também na vontade de querer o bem da pessoa amada, bem como na capacidade de se sacrificar pelo outro. Apesar disso, nos primeiros anos de vida, o afeto desempenha um papel fundamental na vida dos nossos filhos.
Nessa idade eles ainda não possuem uma noção clara de tempo. Sequer sabem o que significa “estou atrasado”, “tenho um compromisso importante” etc. Pelo contrário, gostam que estejamos atentos ao que nos dizem, ainda que nos pareça sem importância. Muitas vezes é necessário sabermos nos abaixar para falamos olhando nos olhos, ou ainda pegá-los no colo e, nessa posição, ouvi-los atentamente. Enfim, que sintam no calor de um abraço quanto os amamos.
É certo que muitas vezes fazemos isso. No entanto, também com muita frequência, perdemo-nos da correria do dia-a-dia e deixamos essas manifestações de afeto apenas para quando algo interior nos abrasa e então queremos “comê-los de beijos”. Porém, com o ritmo frenético e as preocupações cotidianas, esses impulsos são cada vez menos constantes. Por isso, é necessário estarmos atentos e nos esforçarmos para que essas demonstrações de afeto sejam diárias e sinceras.
Devemos considerar, também, que as pessoas são muito diferentes. Assim, para alguns pais é mais fácil que a outros manifestar a afetividade. Apesar disso, o amor por nossos filhos manifesta-se muito especialmente no esforço por nos superarmos, fazendo algo que nos custa, precisamente porque os amamos.
Mas há, também, um dado oposto. Ou seja, algumas mães e pais são pródigos em fazer carícias, mas nem sempre se empenham em educar, que é igualmente demonstração de amor e sincero interesse pela felicidade dos nossos filhos. A correção não é incompatível com o carinho. Podemos corrigir, com energia às vezes, mas de uma maneira afetuosa, com respeito e desejo de que se comportem adequadamente para o bem deles.
Gostaria terminar novamente com o relato de um acontecimento muito marcante. O pai chegou a casa, mal cumprimentou a esposa e os filhos e foi para o escritório para continuar um trabalho que era muito urgente. Passados uns minutos, o filho, muito acanhadamente, aproximou-se da porta do escritório e disse: “Pai, posso fa...”. “Filho, já disse que tenho um trabalho muito importante, vai deitar que já está na hora”, disse o pai, sem esperar que o filho completasse a frase. O filho obedeceu, porém, passada cerca de meia hora, retornou: “Pai, posso fazer apenas uma pergunta?”. “Fala logo”, respondeu o pai, sem parar o que estava fazendo. “Quanto é que você ganha por hora de trabalho”. O pai ficou meio desorientado, mas, para se livrar logo da importunação, respondeu sem pensar muito: “Não sei, filho, acho que uns R$ 50,00”.

Com a resposta o filho foi para o quarto. Mas agora, curioso com a pergunta, o pai foi até o quarto do filho. Lá chegando, notou que ele tinha várias notas de pequeno valor e um saquinho com muitas moedas. E então o pai lhe perguntou: “Filho, por que deseja saber quanto ganho por hora?”. Então o filho disse ao pai: “É que faz dois meses que estou juntando esse dinheiro. Tenho agora R$ 47,50. Se eu te der o dinheiro, dá para o senhor ficar 57 minutos comigo?”.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Redução da Maioridade Penal

Em meio a notícias de crimes hediondos cometidos com a participação de adolescentes tem-se acendido o debate acerca da redução da maioridade penal.
Expliquemos inicialmente a questão sob o aspecto jurídico. Dispõe o artigo 26 do nosso Código Penal que: É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Nesse dispositivo a Lei estabelece duas situações nas quais não pode ser imposta a pena: (1) se, por possuir um desenvolvimento mental incompleto ou retardado, a pessoa é incapaz de entender que uma determinada conduta é errada (ilícita, contrária às regras etc.) ou; (2) mesmo que saiba que essa conduta é contra a Lei, não consegue se comportar de acordo com a norma.
Na sequência, o nosso Código Penal, no seu artigo 27, estabelece que “Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis”. No mesmo sentido está o artigo 228 da Constituição Federal. Com isso, há uma presunção absoluta de que quem ainda não atingiu essa idade não consegue entender que aquelas condutas tidas como crimes (matar, roubar, traficar substâncias entorpecentes etc.) são contrárias à Lei, ou ao menos não consegue se comportar de acordo com esse entendimento.
É evidente que tal presunção é absurda. Aos dezesseis anos (ou mesmo antes disso) os jovens já possuem uma noção clara de certo e errado e, com mais ou menos esforço, também conseguem agir de acordo com esse entendimento.
Mas a questão não pode ser enfrentada com argumentos simplistas. Considerar o jovem de 16 anos como penalmente imputável significa que poderá, em última análise, cumprir penas privativas de liberdade em presídios, que muito bem poderiam servir para eles como autênticas escolas para a criminalidade.
Por outro lado, também é certo que o crime organizado cada vez mais tem se valido de menores para atuar na linha de frente. Assim é que os pontos de distribuições de drogas contam com adolescentes que, em caso de virem a ser flagrados, podem confessar o delito sem delatar os demais integrantes, posto que em breve haverão de ser liberados pelo Juízo da Infância e Juventude.
Há quem sustente que as chamadas medidas socioeducativas podem perdurar por tempo superior às penas impostas por muitos crimes. No entanto, nem sempre é assim. Tomemos o exemplo do latrocínio, em que a pena mínima é 20 anos. Se for praticado por um adolescente de 17 anos, inclusive com requintes de crueldade a ponto de atear fogo na vítima, estará sujeito à medida de internação, que não poderá exceder a três anos e jamais o infrator poderá permanecer nos estabelecimentos em que se cumprem essas medidas após completar 21 anos de idade!
É inegável que os presídios e os estabelecimentos destinados à internação de adolescentes não recuperam ninguém. No entanto, a sensação crônica de impunidade que nos aflige causa um mal enorme a todos, em especial às novas gerações. Por isso, penso que a redução da maioridade penal deveria ser considerada seriamente, ainda que esses jovens devessem cumprir penas em estabelecimentos adequados a sua idade e condição.
No entanto, seria uma terrível ingenuidade supor que isso resolveria o problema da delinquência juvenil. O crescente número de infrações cometidas por adolescentes é apenas um reflexo de uma sociedade cada vez mais desumana.
Cada mulher e cada homem que povoa o planeta somente encontra um sentido para sua vida se souber que é fruto do amor. Temos a necessidade vital de saber que nascemos como o transbordamento do amor entre um homem e uma mulher. Mais ainda, que o próprio Deus manifestou o seu Amor através daquele casal no ato de nos chamar à existência.

O nosso grande desafio, portanto, é fazer com que a família venha a ser aquilo que na sua essência é: berço da vida e escola de amor e para o amor. Do contrário, ficaremos apenas discutindo, em vão, a partir de quando podemos segregar os nossos semelhantes que não souberam ou não puderam receber o amor que tanto anseiam difundir neste mundo, ainda que não o saibam.