sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Feliz Natal !


Ouvi certa vez que o Natal é um acontecimento alegre para as crianças. Para os adultos, porém, somente aumenta a tristeza por fazê-los lembrar dos tempos felizes da infância. Além disso, aquilo que para os menores era motivo de alegria, como a presença dos primos, dos tios, a ceia e os presentes, para os maiores, não raras vezes, acaba ensejando tensões e dissabores.
Indagando o motivo disso, vem-me à memória a célebre frase de Caetano Veloso, em sua composição Sampa: “É que Narciso acha feio o que não é espelho”. Talvez seja isso o que acontece. As crianças observam o presépio e veem ali refletido claramente o que se passa em seu interior. Os adultos, porém, não mais se espelham naquele acontecimento que, com o passar dos anos, a eles se tornou incompreensível. Com efeito, a cena reflete simplicidade, solidariedade, paz, anseio de vida, tudo facilmente encontradiço nas crianças. Quase tudo, ao contrário, acaba ofuscado nos homens e mulheres que deixaram de ser como as crianças.
Simplicidade. Aquela gruta é magnificamente simples. Falta-lhe tudo, mas, se considerarmos bem, há uma alegria tão intensa que se pode pensar que não falta nada.
Solidariedade. Os personagens que contemplamos são solícitos uns com os outros. O esposo ocupa-se da esposa e ela, dele e do menino que nasceu em um estábulo, junto com os animais. E desse desvelo de uns para com os outros brota um ambiente de terna serenidade.
Conta-se que a madre Tereza de Calcutá, uma eterna criança, uma vez foi observada por uma pessoa (um adulto, por certo), que contemplou o beijo e afago que fazia em um doente de aspecto repugnante. Diante disso, esse homem comentou que “nem por todo dinheiro do mundo faria isso”. E a bondosa religiosa respondeu: “nem eu”. Por dinheiro, tampouco ela o faria.
As crianças veem no presépio três personagens extremamente solidários uns com os outros, e se alegram porque isso reflete o que elas são. Os que deixaram de ser crianças, porém, imersos em seu egoísmo, em um afã desordenado de riqueza, de “status”, de fama, de poder, não conseguem enxergar isso.
Paz. As crianças não se preocupam se haverá peru, se o vinho será suficiente, se a cunhada chegará direto para a ceia e não ajudará na preparação... Nada disso lhes preocupa. Afina, é Natal! Talvez se preocupem um pouco em como quebrar as castanhas, mas não hesitarão em deixar as cascas atrás da porta, agora usada como quebra-nozes.
Anseio de vida. O Menino que se contempla no presépio nasceu para viver. Elas, as crianças, também. Não se sabe se por uns instantes, ou por cem anos. Não importa, todos vêm com uma missão e querem alcançá-la.
Se olhássemos para aquele menino na manjedoura, sabendo de antemão o seu destino, qual seja, uma vida de renúncias, sacrifícios e incompreensões e, ao final, a morte brutal numa Cruz, talvez ocorresse pensar: não vale a pena nascer e viver para isso...
As crianças, porém, não pensam assim. Elas dão a cada minuto um sabor de eternidade. Sabem que o que vale é o instante presente, sem se importar com o anterior, que já passou, nem com o seguinte, que não sabemos se chegará para qualquer um de nós.
A todos aqueles que descobriram a maravilha de ser uma eterna criança, um Feliz Natal!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

As palmadas na educação


Um tema sempre candente entre os profissionais da educação, com reflexo direto na atuação dos pais e na vida familiar, está no uso dos castigos físicos como técnica pedagógica.
Quando me perguntam se é possível ou aconselhável a palmada na criança em algumas situações, costumo responder, em especial às mães: “Sim, pode dar umas palmadas...”. Depois, diante da perplexidade que a resposta causa, acrescento: “porém, antes de bater, pare, reflita, faça um tempo de meditação, espere um dia ou dois, se for necessário e, quando estiver totalmente calma, quando estiver ‘zen’, mesmo, então volte e dê a palmada”.
Diante dessa resposta ,a reação é quase unânime: “ah, se eu fizer isso, então não vou bater nunca!...”. Pois é. Essa é a questão de fundo. Na imensa maioria das situações, o castigo físico não é fruto da reflexão, ou de uma atitude pensada em que se chaga a conclusão de que aquilo é necessário para educar. Na imensa maioria das vezes, é fruto da irritação e do nervosismo dos pais.
A autoridade só é legítima se busca o bem daqueles que lhe estão sujeitos. E isso não somente na família, mas em toda organização em que haja uma relação de poder. Por exemplo, um governante possui autoridade, mas somente será legítimo o seu exercício se a utiliza para promover o bem comum dos cidadãos. Com maior razão, os pais detêm autoridade em relação aos filhos, mas com o objetivo de educá-los, formá-los e orientá-los.
Assim, é fundamental para o bom exercício da autoridade o prestígio dos pais. Todos já tivemos oportunidade de conviver com uma pessoa sábia e ponderada. Quando ela se manifesta sobre um determinado assunto, sua opinião tem um peso enorme. Quando faz um pedido, ainda que de forma muito sutil, esse soa como uma ordem. Assim são as pessoas que possuem prestígio. Ora, é precisamente disso que necessitam os pais para exercer a autoridade.
E não é com violência que os pais adquirem o prestígio com os filhos. Adquirem-no com o espírito de serviço. Adquirem, também, na firmeza das convicções e na constância com que atuam para formar os seus filhos. As saudáveis rebeldias dos adolescentes não podem ser algo que abale as convicções mais profundas dos pais. Ao contrário, põem-nas a prova precisamente porque eles também querem tê-las, mas, antes de abraçá-las, precisam testar a sua consistência e profundidade.
A amizade com os filhos não retira a autoridade, antes a reforça. Coisa muito diferente disso, porém, é querer colocar-se no mesmo nível, como um “amiguinho” a mais. Não! Podemos e devemos ser amigos, sem jamais deixar de ser pai ou mãe, que sabem corrigir, inclusive energicamente, se necessário.
O uso da violência na educação dos filhos, em grande parte dos casos, é demonstração da fraqueza dos pais. Com efeito, é mais fácil dar uns gritos do que explicar uma vez e outra por que se deve agir de uma determinada maneira. É, também, menos incômodo dar uma palmada do que repetir uma ordem, com energia se necessário, buscando o bem dos nossos filhos.
Além disso, muitas vezes não se tem outro recurso para fazer com que as filhas e os filhos obedeçam. Isso porque, quando se está em casa e no convívio com eles(as) são mães e pais ausentes, ainda que presentes fisicamente. Fica-se mexendo no celular, computador, TV etc. e, enquanto não é incomodado(a) por algo dos(as) filhos(as), esses(as) não existem. Ora, nessa situação, quando as crianças fazem algo errado, não há outro meio para que façam obedecer que não a ameaça, o castigo ou a agressão mesmo.
Um grande desafio, portanto, é que as nossas ordens sejam um “por favor”, e que as crianças obedeçam. Isso é possível, conquanto que sejamos mães e pais que sabem construir a autoridade com espírito de serviço, procurando com fortaleza e a cada instante o bem das nossas filhas e dos nossos filhos.