segunda-feira, 29 de junho de 2015

Segregar ou segregar-se é a solução?

Conforme Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen),
divulgado no dia 23 de junho pelo Ministério da Justiça, o Brasil aumentou a sua população carcerária em 33% entre 2008 e 2014. Ocupamos o 4º lugar no mundo, com
607.731 pessoas em situação de privação de liberdade em junho de 2014. E, o que talvez seja mais alarmante, Estados Unidos, China e Rússia apresentaram redução no mesmo período, o que nos coloca na contramão do que vem ocorrendo entre os países com as maiores populações prisionais.
Esses dados revelam uma tendência que está se instalando entre nós de resolver os problemas de segurança quase que exclusivamente com a segregação de pessoas, pouco se fazendo para atacar a raiz do problema. Ou seja, como há indivíduos que perturbam a paz dos demais com os seus delitos, a solução superficial encontrada é simplesmente afastar tais indivíduos do convívio social, de modo que, ao menos enquanto estiverem presas, não voltarão a incomodar.
No lado oposto disso, também podemos observar a enorme proliferação de condomínios de casas e apartamentos cercados por muros, cerca elétrica, câmeras de segurança, portarias com um rigor quase militar no controle de acesso etc., tudo para vender uma sensação de estar seguro e que, naquele reduto, todos podem ficar tranquilos. Embora de modo bem diverso, impera aqui a mesma lógica segregacionista, que leva a se fechar e viver isolado como instrumento de defesa.
E isso não é mais privilégio das pessoas e famílias mais abastadas. Há um crescente número condomínios de casas que disputam um espaço diminuto entre si, de modo a permitir que os custos dessa parafernália de segurança possam caber no bolso de cada um. E como é quase apenas isso que os une, a paz tão almejada não tardará em ser perturbada por brigas enormes e constantes, muitas delas motivadas por ninharias, que marcam as pautas das intermináveis e enfadonhas reuniões de condomínio...
O problema está em que cada vez mais se vê no outro, no vizinho, por exemplo, alguém que devemos no máximo suportar. Já que não nos é possível comprar sozinhos todo um aparato de conforto e segurança, esse sujeito que mora ao lado é apenas alguém com quem divido as contas dessa comodidade.
Tratam-se, porém, de soluções que buscam mitigar os efeitos, mas não atacam a causa do problema. E a sua raiz mais profunda está no individualismo exacerbado que nos move a procurar no outro apenas a satisfação de interesses, no mais das vezes egoístas.
Nesse contexto está a desagregação da família. É que um relacionamento autenticamente conjugal pressupõe o sacrifício para fazer o outro feliz, construindo no amor e no compromisso a vida familiar. Se, porém, cada um busca no outro apenas uma fonte de satisfação sexual, afetiva etc., quando não mais se consegue sugar nela (ou nele) tais utilidades, simplesmente se parte para outros relacionamentos, deixando famílias esfaceladas e, não raras vezes, filhos desorientados e perdidos.
Solução? “A educação” – talvez muitos dirão. E penso que é isso mesmo. Não basta, porém, ensinar matemática, língua portuguesa ou história para curar essa doença social, até porque muitos individualistas que perambulam entre nós são eruditos e doutores nessas e noutras disciplinas acadêmicas. É necessário formar, a partir da família e também na escola, essa como um prolongamento daquela, pessoas peritas em humanidade, que conheçam a fundo o coração da mulher e do homem, suas carências, seus valores, seus anseios, enfim, que encontrem um sentido profundo para as suas vidas.

Esses “doutores”, pós-graduados no amor vivenciado por seus pais no seio de uma família, saberão encontrar e atacar as raízes da criminalidade, quase sempre relacionadas com carências, não apenas econômicas, mas, sobretudo, afetivas e espirituais. E também não precisarão “comprar” a um elevado custo uma sensação de segurança. Simplesmente saberão encontrá-la na verdade, por saberem de onde vieram e para onde irão pelos atribulados caminhos desta vida.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Ideologia de gênero: apoiar ou discriminar?

       Minha sogra costuma contar que quando era criança não entendia por
que se aguardava tão ansiosamente para saber o sexo de um bebê. Dizia ela: “Ora, se quer que seja menino, ao nascer, coloque nome de menino; se quer uma menina, dê a ela um nome de menina e coloque nela roupinhas cor-de-rosa”.

       Parece que essa história pueril e divertida de uma menina inocente foi apropriada por uma concepção do ser humano cujos fundamentos estão muito longe da inocência e da pureza de uma criança. A ideologia do gênero, em suma, propõe precisamente isso: não há diferenças naturais entre homem e mulher; são os adultos e a sociedade que impõem padrões de comportamento.
É preciso reconhecer que muito do modo de ser masculino e feminino é ditado por puras convenções sociais. Por exemplo, trata-se de um costume, ainda que construído há séculos no ocidente, que as mulheres usem saia ou vestido, ao passo que somente o homem vista terno e gravata em ocasiões mais solenes. O mesmo se diga da cor azul ou rosa que predominam no enxoval de meninos e meninas. Tudo isso é mesmo acidental e mutável de acordo com a cultura e o contexto histórico e social.


       No entanto, nem tudo o que marca um ser humano como homem ou mulher é definido pelo contexto social. Há fatores inatos, dados pela própria natureza, que a sociedade simplesmente reconhece. Essas diferenças entre homem e mulher não estão só no aspecto físico ou biológico. Esse é o mais evidente. Estudos apontam, porém, que o próprio funcionamento cerebral é diferente no homem e na mulher. A dimensão afetiva apresenta também notórias diferenças conforme o sexo da pessoa. Em suma, homem e mulher são fundamentalmente diferentes em todas as suas dimensões. E isso não é o produto de uma construção social, mas algo que decorre da própria natureza.


       Isso não implica uma hierarquia que permita afirmar ser um mais que o outro, mas simplesmente diferentes. Todos os seres humanos são absolutamente iguais em dignidade, o que se manifesta, porém, em cada existência concreta apenas de dois modos bem distintos: homem ou mulher. Não há um terceiro, quarto, ou infinitos gêneros, mas simplesmente dois sexos.

       Como consequência disso, o amor genuinamente conjugal é somente aquele que se estabelece entre um homem e uma mulher, ainda que possa haver outras formas de amor entre pessoas do mesmo sexo (entre amigos, pais e filhos, irmãos etc.). Isso porque o amor conjugal é vivo e fonte de vida, de modo que aponta para uma natural fecundidade. Além disso, pressupõe uma natural diferença entre os cônjuges, posto que somente realidades diferentes se complementam num todo harmônico, cada um dando ao outro precisamente o que esse não tem. E esse amor não é só sentimento, mas exige o compromisso de se querer amar o outro cada dia.

       É necessário reconhecer, porém, que há certo número de indivíduos, homens ou mulheres, que apresentam atração erótica por pessoas de mesmo sexo. E esses sempre foram alvo de discriminação, ainda que atualmente isso tenha mudado.

       Eis o cenário em que aflora a ideologia do gênero. O homossexual é discriminado e humilhado pelos seus semelhantes. Solução: pregar uma concepção assexuada de ser humano; homem e mulher serão, então, considerados meras construções sociais que precisam ser abolidas.
Acontece que isso não encontra nenhum fundamento na natureza humana. Trata-se de um engenhoso raciocínio que, a pretexto de eliminar a discriminação contra os homossexuais, se levado à prática, acabará por matar em cada pessoa a sua própria identidade, inexoravelmente marcada e definida pelo sexo.


       Não é necessário – nem possível – modificar a natureza humana para não discriminar o homossexual. Ao contrário, é preciso atacar toda forma de discriminação em sua causa mais profunda, que é o desrespeito à infinita dignidade de cada indivíduo. Devemos ter olhos que saibam enxergar em cada semelhante simplesmente um ser humano. Trata-se de saber se colocar no lugar do outro e então valorizar e afirmar a vida. Mas isso se faz promovendo cada pessoa tal como ela é, não com uma vã e artificial tentativa de arrancar-lhe a sua identidade sexual, que outra coisa não é que aniquilar a sua própria dignidade.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Um Grande Homem

Há aproximadamente um ano, em 2 de junho de 2.014, faleceu o nosso queridíssimo Dr. José Geraldo Barreto Fonseca.
Quando penso em como homenagear uma pessoa cuja vida marcou o seu tempo e tocou profundamente aquelas e aqueles com quem conviveu, vem-me à memória um conselho que um dia recebi do meu avô. Estávamos numa festa de formatura e, num dado momento, diante de um pequeno incidente que vivenciamos, ele me disse, com aquele semblante bem conhecido que fazia falava algo à sério: “Filho, um grande homem se faz nos pequenos gestos”.