sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Podemos fazer um 2020 melhor?!


Você já reparou como corremos de um lado a outro nesses dias que antecedem o Natal e a chegada do Ano Novo? Qual será o motivo de tanto ativismo nesse tempo?
Penso que um dos motivos é a falsa esperança que temos de que até o último dia do ano iremos resolver todos os nossos problemas. É evidente que isso é uma ilusão. No entanto, muitas vezes agimos como se não o fosse. Com efeito, nos propomos metas no trabalho que precisam ser atingidas, um conserto no carro ou na casa, que têm de ser feitos ainda neste ano. Por vezes será um problema familiar, o direito de visitas a uma filha ou a um filho, negligenciados por vários meses, mas que precisamente agora queremos retomar...
É momento de colocarmos uma dose de realismo nos nossos projetos. Não estraga esses momentos festivos considerar que, no primeiro dia do novo ano, os nossos problemas continuarão lá, tal como os deixamos no ano que findou. Aliás, poderão estar ainda piores, se agravados pela ressaca ou, se nesse tempo de festas, procuramos pensar apenas em nós mesmos e na nossa diversão, esquecendo-nos dos demais. Nesse caso, o primeiro de janeiro nos surpreenderá com a amarga tristeza que marca a vida dos egoístas.
A propósito, poderíamos fazer um exercício mental de considerar o que aconteceria se, como num passe de mágica, todos os nossos problemas simplesmente desaparecessem. O que faríamos então? Talvez num primeiro momento nos ocorra pensar que seria uma maravilha, uma espécie de paraíso aqui na terra. Mas sabemos também que isso é uma ilusão, por vezes, muito perigosa.
E isso nunca acontecerá porque não é bom para nós. É que os problemas e as dificuldades são oportunidades que a cada minuto nos são concedidas para sermos melhores como pessoas, enfim, para adquirir virtudes. Por exemplo, se tivermos dificuldade no relacionamento conjugal, talvez seja o caso de nos propormos a sermos mais pacientes, mais generosos, a pensar mais na esposa (ou no marido) e menos em nós mesmos. Se passamos por alguma dificuldade econômica, isso também pode ser ocasião para sermos mais desprendidos dos bens materiais, quiçá considerando que “tem mais, quem precisa de menos”.
Muito ouvimos falar em “ano novo, vida nova”. De fato, esse propósito de virar uma página e começar novamente com ânimo renovado é algo bom. Porém, isso não acontecerá naturalmente e sem esforço da nossa parte. Por isso, é preferível o realismo que poderíamos definir como “ano novo, luta nova”.
Certa vez ouvi de uma pessoa essa afirmação cheia de vibração e de entusiasmo: “eu quero mudar o mundo; nós vamos mudar o mundo!”. E isso, se bem entendido, não é ilusório. É, ao contrário, um propósito cheio de realismo. Não se pode deixar de considerar, porém, os meios que se hão de empregar para atingir esse resultado. E, de certo modo, tudo o que podemos fazer para construir um mundo melhor é mudarmos a nós mesmos, é sermos pessoas mais generosas, mais dedicadas aos demais, em suma, mais virtuosas.
Gosto de recordar aquela imagem – que já compartilhei outras vezes aqui – da pedra atirada num lago sereno ao entardecer. Dessa ação surge uma onda, depois outra, até que todo o lago é atingido pelas ondas. Assim são as nossas boas ações. Alegram aqueles que nos estão próximos que, por seu turno, sentem as boas disposições para replicar essa atitude benfazeja com aquelas e aqueles com quem convivem. E, com isso, constrói-se um mundo melhor ao nosso redor, nos ambientes em que convivemos.
Portanto, que o Novo Ano não chegue com a ilusão de uma tranquilidade fundada na ausência de problemas e na prosperidade, mas com a felicidade e a paz que brotam nos corações daquelas e daqueles que batalham, dia após dia, para construir um mundo melhor!