“Tudo é só comércio!”, exclamam os tristes
pessimistas sempre que se aproximam as grandes datas festivas. “Dia das mães!”,
dirão em seu insuportável tom lamuriento, “é apenas ocasião de o comércio
incrementar suas vendas!”. Mas será que o dia das mães é apenas isso?
Penso que o verdadeiro significado das comemorações
há de ser encontrado, sobretudo, em nosso interior. Será apenas comércio para
aqueles que já se esqueceram (ou nunca aprenderam) o valor que pode haver no
doar-se aos demais. Com efeito, podemos nos dirigir aos shoppings, lotados nessa época, resmungando por ter de encontrar um
presente sem ter dinheiro suficiente e, o que é pior, sem a menor idéia do que
comprar. Mas podemos, ao contrário, esforçarmo-nos por ser observadores e assim
buscarmos algo que as agrade, mais que isso, que as surpreenda. É que o amor é
inventivo, tanto que sabe sacar uma surpresa de qualquer carteira. Aliás,
quanto menos se tem, mais se pode inventar e, com isso, demonstrar a elas que
as amamos. E isso não é só comércio.
E se o dia das mães não pode ser para nós apenas
comércio, a mulher, a mãe não pode jamais ser assim tratada. E digo isso porque
há uma terrível tendência, ainda que muito sutil, de a transformar em mero
objeto de satisfação. Nos anúncios de casas e apartamentos, destinados a
consumidores masculinos, é freqüente aliar a maquete do imóvel com um carro do
ano e uma mulher bonita... Ou seja, tudo o que ele precisa para ser feliz: um
carro, uma casa e uma mulher bonita, todos harmonicamente dispostos como meros objetos
de sua satisfação. E os exemplos nas campanhas publicitárias são imensos.
Inúmeros são os produtos sutilmente aliados a mulheres bonitas, ambos
destinados apenas a proporcionar uma satisfação.
Penso que se faz necessária uma saudável rebeldia
contra isso. Uma espécie de novo feminismo. É que a mulher trilhou um longo
percurso para ter a nível institucional reconhecida a sua igualdade jurídica,
porém, por vias escusas, querem confiná-la novamente na mais torpe escravidão,
de mero objeto de satisfação. Sinal mais grotesco disso está no fato de o
Ministério do Trabalho ter catalogado dentre as ocupações do mercado de
trabalho “profissional do sexo”, nisso explicitamente incluídas garota de programa, meretriz, messalina, michê,
mulher da vida, prostituta, dentre outras atividades do gênero.
A mulher não quer ser apenas objeto de uma satisfação
fisiológica. Expressa muito bem isso uma lista de “reivindicações” que uma esposa
faz ao seu marido:
“– Seria tão bom que
você não me falasse nesse tom de voz tão ríspido;
“– que elogiasse o
vestido novo que comprei ou a forma diferente com que preparei o risoto... E
que alguma vez me dissesse que continua a gostar de mim e que me acha bonita;
“– que não tivesse
detalhes de carinho comigo apenas quando deseja ter uma relação mais íntima;
“– que se ocupasse um
pouco mais dos filhos quando volta do trabalho ou nos fins de semana;
“– que colaborasse um pouco mais na ordem
material da casa e nos consertos...”. O livro AS CRISES CONJUGAIS, de Rafael
Llano Cifuentes, do qual extraí esse texto, também traz uma lista de
reivindicações dos maridos. Mas essas eu tratarei em outro artigo. Afinal, é
dia das mães.
Mais que desejada, a mulher quer ser amada. Não que
seja ruim que, nós, homens, sintamos atração por ela. Além de natural, esse
atrativo é bom e saudável, especialmente se se orienta para uma relação em que
reina a lealdade e a responsabilidade, com todas as conseqüências e
compromissos que isso implica. Porém, a imensa dignidade da mulher se encontra
no amor. Amor que, de tão profundo, se faz fecundo e então desemboca naquilo
que a faz mais sublime em toda a criação: ser mãe. Isso não é, não pode ser, só
comércio. É que ser mãe é doação, é vida. E vida ... não tem preço.
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