segunda-feira, 9 de maio de 2011

O essencial no relacionamento conjugal


Certa vez ouvi uma crítica feita por um colega à Lei que então fixava um tempo mínimo de casamento para que pudesse ocorrer o divórcio ou a separação. Dizia ele: “trinta dias de convivência com uma pessoa são suficientes para saber se dá ou não para levar o relacionamento adiante”. Em outra oportunidade, uma pessoa afirmava que o seu casamento havia naufragado, dizia: “não dá para explicar, a minha química não bate com a dela, entende?”. Mas qual será o conceito que se tem do amor conjugal ao se fazer tais afirmações?
Penso que o amor matrimonial possui algumas fases ou etapas que necessitam ser percorridas até que se atinja a sua essência.
A primeira consiste na atração física. Ocorre quando contemplamos alguém que simplesmente nos é atraente. Não se trata propriamente de um sentimento, que é um pouco mais profundo, mas de uma mera sensação. Tanto é assim que podemos ter essa atração por uma pessoa cuja imagem vimos numa revista ou por uma atriz (ou ator) a quem somente conhecemos através dos papéis desempenhados num filme ou numa telenovela.
Talvez seja a essa sensação que se referia como “química” do relacionamento. E muitos relacionamentos limitam-se a isso. Assim, mantém-se a disposição de estar com ela apenas enquanto for capaz de despertar a mesma atração que a Julia Roberts, ou até que ele não seja menos charmoso que o Bruce Willis. Com isso, não será muito duro de matar esse “amor”.
O relacionamento conjugal que leva duas pessoas a se unirem não se pode limitar a essa mera sensação. Num segundo momento surge o enamoramento. Nessa fase se poder exclamar: “Que bom é estar com ela (ele)!”. Trata-se de uma fase mais afetiva e elevada que a anterior. Nela se vai descobrindo a pessoa do outro, a sua verdade, a sua personalidade, seus gostos etc. É essa etapa infinitamente mais rica e prazerosa, pois a satisfação que proporciona é também afetiva e não apenas física. E isso porque toca numa dimensão superior do ser humano que é a do sentimento.
No entanto, essa dimensão também não atinge a essência do amor conjugal. Aliás, penso que o insucesso de muitos relacionamentos se deve ao fato de buscarem apoio exclusivamente no seu aspecto sensível. Chamam de amor a esse sentimento de modo que, quando acaba, no mais das vezes porque não foi alimentado, diz-se que acabou o amor.
A atração física é importante, como também é fundamental que se saiba fazer crescer cada vez mais o enamoramento entre o casal. No entanto, nem um nem outro se mantêm se o homem e a mulher não souberem aprofundar ainda mais. A terceira dimensão é precisamente a vontade que os move não apenas a se quererem mutuamente, mas principalmente a querer querer-se cada vez mais.
Não se trata, porém, de uma vontade fria, calculista, como algo que possa ser programado. Mas porque é bom sentir atração e estar enamorado por alguém é que se deve buscar cada vez mais alimentar essa relação com pequenos gestos concretos. Trata-se, por exemplo, de o marido procurar ser atencioso e delicado quando ela o chamar ao telefone ou ao chegar a casa no final do dia. Ela, por seu turno, pode-se esforçar para pôr-se bem arrumada em casa (e não apenas quando vão sair), para dizer coisas amáveis, para manter o local onde vivem com cor e sabor de lar, onde seja agradável estar.
Esses pequenos gestos exigem um esforço perseverante, fruto de uma vontade decidida de querer amar cada vez mais, a tal ponto que não se possa mais dizer você e eu, mas simplesmente nós.

Ao mencionarmos essas três etapas ou fases do amor conjugal, corre-se o risco de pensar que se sucedem, uma após outra. De fato, primeiro vem a atração, depois o sentimento e por fim a vontade decidida de manter o relacionamento. Mas essa não suprime nem anula aquelas. Ao contrário, precisamente quando se quer amar cada vez mais é que o sentimento e atração vão assumindo contornos também mais elevados, mais nobres. Mas isso não é só química, nem se constrói apenas em trinta dias...

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