segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Recuperando o apreço

Na semana passada falamos sobre como superar as crises conjugais. E o fizemos propondo uma nova perspectiva para o relacionamento. Ou seja, é necessário mudar o foco, deixar de ver apenas os defeitos e limitações do outro para olharmos para nós mesmos e meditarmos em que medida temos de lutar para mudarmos e, a partir dessas mudanças, edificarmos o casamento sobre bases mais sólidas. E concluímos que o segredo da felicidade no matrimônio é buscar fazer o outro feliz. Hoje, podemos acrescentar um ingrediente: como recuperar o apreço pelo cônjuge?
É certo que o compromisso assumido voluntariamente pelos cônjuges, no chamado pacto conjugal, é o que dá sustentação ao matrimônio. Ao dizerem sim reciprocamente um ao outro ambos assumiram o compromisso de querer quererem cada vez mais o outro. Ou seja, não se comprometem a manter incólume o sentimento, mas a buscar alimentar, dia após dia, o amor que os uniu.
No entanto, esse compromisso assumido num determinado momento não terá a devida força se não se traduzir em atos e decisões concretas em suas vidas, todos os dias. Daí surge a importância das pequenas coisas na vida do casal. É uma delicadeza que o marido faça ao chegar a casa, trazendo umas flores, por exemplo, ainda que não haja um motivo especial para isso. É, também, o empenho da mulher em estar atraente e bem-humorada para receber o marido. Assim, o que verdadeiramente dá sustentação ao casamento é a qualidade dos momentos que o marido e a mulher passaram juntos.
É importante notar que a qualidade do tempo compartilhado não depende essencialmente de serem eles em si tristes, alegres ou indiferentes, mas da maneira edificante ou destrutiva com que foram vividos. Assim, por exemplo, uma tragédia familiar em que o marido esteve do lado da esposa, apoiando-o, compreendendo-a e amparando-a poderá vir a reforçar os laços entre eles. E, por outro lado, uma viagem de férias em que cada qual esteja com o pensamento centrado em si, nos próprios gostos e caprichos e se esqueça por completo do outro, poderá vir a ser ocasião de afastar ainda mais o casal.
Numa crise conjugal é provável que cada qual olhe para a vida passada e veja apenas maus momentos, ou ao menos que os veja mais acentuadamente nos últimos anos, talvez trazendo saudades de outros tempos em que se vivia em harmonia. Além disso, com os anos vem o peso das expectativas frustradas: “Em pensava que, com os anos, ele...”; ou: “eu não esperava que ela se tornasse uma...”. Nesse contexto, é comum que se perca o apreço pelo outro, que vejamos nele apenas os defeitos, ou, pior ainda, como o responsável pela própria infelicidade.
É fundamental, portanto, que haja um esforço por recuperar o apreço pelo nosso cônjuge. Não se trata de encobrir os defeitos, quiçá patentes e inegáveis dele ou dela. Contudo, é muito comum que coloquemos uma lente potentíssima de aumento os seus defeitos e, por outro lado, desenvolvamos uma terrível miopia para enxergar as suas qualidades. E, nesses momentos, o nosso esforço deve ser na direção contrária, ou seja, procurar ver e valorizar o que há de bom no nosso marido ou na nossa esposa.
É bem verdade que muito contribuirá para recuperarmos o apreço quando notarmos uma sincera vontade de melhora no outro. Contudo, mesmo sem isso, toda pessoa possui virtudes a serem admiradas e valorizadas. Basta que se tenha bons olhos para enxergar.
Nesse intento, convém travar uma verdadeira batalha contra os pensamentos distorcidos, que muitas vezes aparecem numa espécie de murmuração interior que nos leva a formar juízos críticos e negativos, no mais das vezes irreais e injustos. Por exemplo, ao notar um objeto fora do lugar, talvez nos surpreendamos em elucubrações mentais do tipo: “é um desordeiro mesmo, já deixou isso jogado de novo”. E os exemplos disso são inúmeros.

É conhecida a diferente forma de enxergar uma mesma realidade entre um pessimista e um otimista. O primeiro, vendo um copo com água até a metade, dirá: “está quase vazio”, ao passo que o otimista dirá que “está quase cheio”. Ao analisarmos o nosso cônjuge é fundamental essa visão otimista, que saiba colocar uma lente de aumento em suas virtudes, ao mesmo tempo em que lembra dos defeitos apenas para ajuda-lo no momento oportuno e da maneira adequada, ou seja, por amor. 

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