segunda-feira, 23 de abril de 2012

O que falar e como falar?

Certa vez um amigo me relatou os problemas com um antigo sócio num escritório de advocacia. Dizia ele que o colega o irritava profundamente quando, ao final do expediente, saía apressadamente para a academia e deixava por conta dele os assuntos pendentes, inclusive a tarefa de fechar o escritório. Com isso, ao aproximar-se o fim do dia era uma tortura imaginar o amigo se espreguiçando na poltrona enquanto dizia: “bem, agora vou pra ginástica”. Depois de muito tempo, num dia em que as coisas não haviam transcorrido muito bem, ao notar que o colega se preparava para sair, não se conteve e explodiu, dando causa a uma discussão que redundou numa inimizade difícil de ser resolvida.
Inúmeros exemplos semelhantes a esse poderíamos encontrar no relacionamento em família. Isso nos chama a atenção para um dado relevante na comunicação: precisamos dizer as coisas, porém, devemos fazê-lo no momento certo e da maneira adequada.
Por vezes, há defeitos reais na esposa, no marido ou nos filhos que causam incômodos. No entanto, não se fala oportunamente e, com isso, vai se avolumando certo rancor até que, em determinado momento, explode-se. E, quando isso acontece, na discussão, muitas vezes se dizem palavras injustas, exageradas ou ditadas pela imaginação, que não têm nenhuma eficácia no sentido de motivar o outro a vencer o defeito. Ao contrário, no calor da discussão, frequentemente dizem-se palavras que não se queria e não se deveria dizer, que magoam, deixando feridas difíceis de serem curadas.
Conheço um casal que desenvolveu o hábito de, nos momentos de descontração, talvez quando saem para jantar a sós, fazer com sinceridade a seguinte pergunta: “Nos últimos dias, algo que eu tenha feito que lhe desagrada?”. É necessária muita humildade para ouvir a resposta. Mas é apenas questão de treino. Com o tempo, vai-se adquirindo o hábito de dizer as coisas com naturalidade, num tom ameno e positivo.
É muito importante dar um sentido positivo ao que se fala, sobretudo com os filhos. Frequentemente nos surpreendemos com frases do tipo: “eu já lhe falei mil vezes...”, “não aguento mais essa bagunça...”, “você sempre faz isso”, “você nunca se preocupa comigo”. Penso que as palavras “sempre” e “nunca” jamais deveriam ser utilizadas ao se apontar um defeito no comportamento do outro. É que elas não estimulam a melhorar e, além disso, quase sempre são injustas. Por exemplo, se a esposa se atrasa a nove dos dez compromissos que tiveram já seria injusto dizer que ela sempre chega atrasada. Talvez fosse o caso de se dizer, depois, com os ânimos serenos: “o que posso fazer para lhe ajudar a chegarmos no horário?”.
Um grande desafio é saber se colocar no lugar do outro. É que há defeitos que não temos e, quando os vemos na esposa, no marido ou nos filhos, isso no incomoda e até se chega a pensar que se faz de propósito. Por exemplo, uma esposa que é naturalmente ordenada com a casa costuma se aborrecer quando o marido deixa os objetos jogados. Após dizer uma vez e outra, ela chega a pensar que ele faz de propósito: “não é possível! Só pode ser pra me irritar que você deixar a sua carteira jogada!”. Devemos considerar, porém, que as pessoas são diferentes. Algo que nos é fácil realizar talvez seja difícil para os demais. Isso nos deve fomentar a compreensão. Não se trata de ignorar os defeitos, nem que não se deva corrigi-los, conforme o caso, mas sem asperezas, com a suavidade de quem busca, acima de tudo, o bem do próximo.

Deveríamos considerar, com frequência, que o que sai da nossa boca, os nossos gestos, o nosso modo de olhar, o tom e a intensidade da nossa voz, enfim, a maneira como nos comunicamos pode ser um fardo que imobiliza e desestimula as pessoas com quem convivemos. Ou, bem ao contrário, pode ser um alento, algo que move os demais a serem melhores. Eis aqui um grande desafio da comunicação: por meio dela podemos ser verdadeiros semeadores de paz e alegria nos nossos lares, no nosso trabalho e em todos os ambientes em que nos movemos.

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