segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O Namoro em Nosso Tempo

Outro dia um amigo me contou que participou, após muitos anos, de uma festa universitária. Ficou
estarrecido, principalmente com a intensidade com que se consome bebida alcoólica e com a rapidez que se passa de um encontro casual para os beijos e abraços. “Acho que o namoro não é mais, nem de longe, uma preparação para o casamento”, concluiu ele com uma forte dose de saudosismo.


Talvez um primeiro ponto a considerar sobre a reação desse amigo, que é também muito bom pai, é que não deveríamos assumir ares de tragédia ou de amargo pesar diante das transformações por que passam o mundo, os costumes, as pessoas e a sociedade em nosso tempo. De fato, pode haver – e certamente há – aspectos dessas mudanças que não contribuem para um verdadeiro progresso, de modo que mais propriamente poderiam ser qualificados como autênticos retrocessos. Nesse caso, poderemos expressar a nossa indignação, mas sem negativismos exacerbados e muito menos com uma postura moralista. Afinal, a novidade não é em si boa ou má, devendo ser analisada em todos os seus aspectos para se aferir se contribuem ou não para a promoção da pessoa humana.

Quanto a esse relacionamento que antecede uma união conjugal, que é o tema que nos cabe, a análise de como se é ou se deveria ser vivido deve ocorrer sob a mesma perspectiva: como pode o namoro contribuir ou prejudicar a felicidade no futuro casamento?

A sociedade de consumo ensinou-nos a ser bons consumidores, ou seja, exigentes quanto aos produtos e serviços que adquirimos. E uma maneira muito difundida de se aferir previamente a qualidade deles é prová-los e, também, a possibilidade de devolvê-los posteriormente quando não atendam às expectativas. Com efeito, não se compra jamais um veículo sem um test drive.

Acontece que muitas pessoas do nosso tempo, imperceptivelmente, passaram a enxergar os relacionamentos (conjugal, de amizade, profissional) como “bens” de consumo. Se perguntássemos a alguém que está namorando o motivo disso, muito provavelmente obteríamos respostas do tipo: “porque ela me atrai e me completa”, “porque eu gosto de estar com ele”, “porque ela me satisfaz” ou “porque ele me dá segurança”. Ou seja: eu, eu, eu, para mim, para mim, para mim... E, para aferir se esse “produto” atenderá a todas as expectativas é necessária uma experimentação já num primeiro momento.

Como dizíamos, a mudança não é em si boa ou ruim. Nesse caso, porém, em que pese ser novidade, não é difícil concluir o quão degradante é considerar o outro como um mero objeto de satisfação de necessidades fisiológicas, afetivas etc. Até porque, se se encara dessa forma o relacionamento conjugal, deve-se advertir que esse “produto” é altamente perecível. Afinal, ela não permanecerá por muitos anos com aquelas silhuetas e meiguice que tanto “me atraem”, como também ele logo abandonará aquela delicadeza e desejo de agradá-la que foram estratégias tão habilmente utilizadas na fase da conquista.

Aquele meu amigo levou a sua indignação a uma senhora muito entendida de amor conjugal. Vela a pena transcrever suas observações: “Um equívoco muito frequente em muitos jovens – e não tão jovens – que se preparam para um relacionamento conjugal é ficar buscando no outro alguma fonte de satisfação pessoal. É claro que a atração e o sentimento são bons e merecem ser cultivados. Mas a pergunta que todos deveríamos fazer antes de nos decidirmos a unir nossas vidas com outra pessoa é: ele (ou ela) merece que eu me entregue totalmente? Mais ainda, vale a pena assumir como objetivo de vida de primordial importância fazê-lo(la) feliz, custe o que custar?”.

Confesso que ao ouvi-lo pela primeira vez, esse conselho me pareceu exagerado. Porém, se considerarmos a fundo, veremos que os grandes empreendimentos humanos, aqueles que trazem realizações e cujos benefícios se prolongam no tempo, exigiram esforço, constância e determinação. Talvez seja mesmo o caso, então, de se encarar com maior seriedade a preparação para o casamento. Afinal, está em jogo a felicidade do casal, o bem dos filhos que poderão vir desse relacionamento e o destino da própria sociedade.

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