segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Preconceito e Discriminação

Após a divulgação do resultado das últimas eleições, acendeu-se um grande debate em 

nosso País e a discussão se alastrou rapidamente pelas redes sociais. Analisando posteriormente os fatos, muitas dessas postagens foram taxadas de preconceituosas ou discriminatórias. Mas será que o eram mesmo? O que é preconceito? O que é discriminação? Até onde se pode expor as próprias ideias sem discriminar injustamente nem expor conceitos preconcebidos em relação a pessoas ou grupos? 





O dicionário Michaelis traz a seguinte definição de preconceito: “1 Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados. 2 Opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão (...) 4 Atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos”.



Tomemos agora um exemplo de uma atitude claramente preconceituosa: Numa determinada região do País, composta por um número maior de pessoas pobres e de menor escolaridade, venceu determinado candidato. Noutra região, onde outro saiu vencedor. Diante desse fato, lança-se a seguinte afirmação: “os ... (habitantes daquela região) são todos ignorantes e preguiçosos”. Nesse caso, temos evidente o preconceito: faz-se uma generalização injusta, atribuindo conceitos pejorativos indistintamente a todos os habitantes de uma região.




Alguma confusão se dá, também, no uso da palavra discriminação. Discriminar se relaciona com distinguir, diferenciar, tratar de modo diferente. A discriminação em si não é errada, mas muitas vezes justa e necessária. Por exemplo, demarcar vagas de estacionamento para deficientes ou idosos é uma discriminação, posto que se concede a essas pessoas privilégios que outras não têm. Mas essa discriminação é justa e necessária, pois trata de maneira diferente pessoas em situações diferentes. Há, por outro lado, diferenciações injustas, como ocorria no passado em alguns países em que negros não poderiam ter acesso a determinados lugares públicos ou vice-versa. Ora, nesse caso não há absolutamente razão nenhuma para o tratamento diferente. A cor da pele não pode ser um elemento que autorize o tratamento diferenciado. 




Há situações que podem ser ao mesmo tempo injustamente discriminatórias e preconceituosas. Imaginemos alguém encarregado de um processo seletivo para determinado cargo ou emprego assuma a seguinte postura: “eu não contrato homossexual porque eles só causam problemas”. É injusta discriminação porque a orientação sexual, salvo raríssimas exceções, não pode ser um fator de diferenciação legítimo para exercer ou não um trabalho. E é preconceituosa porque atribui a todos homossexuais uma qualidade negativa a partir de uma visão preconcebida, parcial e sem qualquer fundamento racional.




Por outro lado, porém, se alguém manifesta a sua opinião sobre um tema, por exemplo, sustentando que a relação homossexual não possui natureza conjugal e que somente pode ser chamado de casamento a união entre pessoas de sexos diferentes. Isso não é nem preconceito nem injusta discriminação. Não se ataca o homossexual em particular nem aos homossexuais em geral, mas simplesmente expõe um pensamento (uma concepção) sobre determinado assunto.




Penso que o critério seguro para se estabelecer essa linha divisória está no próprio coração humano. Se estamos diante de um determinado fato, comportamento ou concepção com os quais não concordamos, quiçá por atentar contra a própria dignidade da pessoa, devemos apontar o erro, chamando-o pelo nome, mas ressalvando sempre a pessoa que o comente ou defende.




Esse elemento de distinção entre o que é livre manifestação do pensamento e o que é injusta discriminação ou preconceito está no coração porque é fruto do amor ao próximo. Com efeito, é o amor que nos move a denunciar o mal, que trará infelicidade e amargura aos nossos semelhantes. E é o mesmo amor que nos move a acolher com carinho e compreensão os que pensam radicalmente diferente de nós.


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