No
dia 26 de junho a Igreja Católica celebra a festa de São Josemaria Escrivá,
fundador do Opus Dei. O centro de sua
mensagem é que o trabalho profissional e os demais afazeres cotidianos são
caminho de santidade para o homem e a mulher. Ele mesmo o resumiu numa homilia,
conhecida como Amar o Mundo
Apaixonadamente, proferida durante a celebração da Missa no campus da Universidade de Navarra, em
8.10.1967. Um livro com essa homilia, comentada pelo Prof. Pedro Rodríguez,
está sendo lançado no Brasil. Penso que vivendo seus ensinamentos podemos
construir um mundo melhor, mais humano, independentemente da fé e da religião
de quem os segue.
São
Josemaria sustentava que todos nós estamos chamados a ser santos. Essa frase
choca enormemente com o que se pensa e cultua no mundo moderno. Talvez o espanto
inicial decorra do que entendemos como santidade. Santo é, essencialmente,
aquele que está junto de Deus. Isso se alcança em plenitude na outra vida,
porém, começa desde já numa luta por estar próximo dEle, luta que se trava nos
acontecimentos mais concretos de nosso dia-a-dia.
Ao
se propor esse ideal de vida, os que anelam por uma felicidade intensa e
duradoura talvez façam, bem intencionados, algumas indagações: mas não seria
isso utópico? Se não é, concretamente onde e como há de se travar essa luta
pela santidade?
“É
no meio das coisas mais materiais da terra que nós devemos santificar-nos,
servindo a Deus e a todos os homens”, prega São Josemaria. Um primeiro equívoco
que temos de nos desvencilhar é considerar a Deus como um Ser longínquo e
caprichoso, que nos criou com um desejo de felicidade, mas nos relega à própria
sorte, quiçá observando-nos, com um ar indiferente e irônico, enquanto subimos uma
íngreme encosta. A filiação divina é a forma cristã de encarar as relações de
Deus com o homem e o mundo. Deus é Pai e quer ser Pai para cada um de nós. Com
amor de Pai e de Mãe interessa-se por seus filhos e anseia intensamente que encontremos
a felicidade. Mais ainda, dispõe tudo para que a encontremos, mas mantém um
inabalável respeito pela liberdade de cada um.
O
mundo todo é o lugar e a ocasião desta santidade. Trata-se de um erro
recorrente na história humana, que hoje assume feições bem características,
pensar que o encontro com Deus se dá em locais especiais e em raros momentos,
quando se participa do culto ou se comparece perante uma assembléia de fiéis,
por exemplo. E tudo o mais na vida: trabalho, vida familiar, relações de
amizade e mesmo atuação na vida pública não teria espaço para Deus e para o
diálogo com Ele. Porém, não há de ser assim. Onde quer que nos movamos podemos encontrá-Lo,
se em tudo o que fazemos buscamos agradá-Lo por amor.
E
como o conseguiremos? Penso que a resposta vem clara nos Evangelhos: “Se alguém
diz que ama a Deus, a quem não vê e não ama ao próximo a quem vê é um
mentiroso”. Com isso, o ideal de santidade deixa de ser remoto para assumir
contornos bem reais e concretos. Trata-se de buscar fazer bem tudo, e nos
deveres, nos compromissos diários, em cada pequena ação, fazer o bem aos outros,
servindo-o por amor a Deus. Tudo o que fazemos transforma-se assim em oração,
diálogo com Deus, vale dizer, é caminho de santidade.
Essa
consideração nos remete para outra, a unidade de vida. Não podemos ter uma
máscara que colocamos quando chegamos ao local de trabalho, outra para usar no
culto religioso e outra para vestir com os amigos. Respeitando a forma peculiar
de se portar exigida em cada ambiente, em todos eles somos nós mesmos, sempre com
as mesmas convicções, que nos levam a agir segundo o que acreditamos. “Não,
meus filhos! Não pode haver uma vida dupla, não podemos ser como
esquizofrênicos, se queremos ser cristãos. Há uma única vida, feita de carne e
espírito, e essa é a que tem de ser – na alma e no corpo – santa e plena de
Deus. Esse Deus invisível, nós O encontramos nas coisas mais visíveis e
materiais”, diz S. Josemaria.
Conceber
a vida como uma luta por alcançar a santidade pode dar a impressão que requer renúncia
a todas as coisas boas deste mundo e faz da vida um árduo e infeliz caminhar,
suportando tudo apenas em função de uma felicidade longínqua e incerta numa
outra vida. Para quem experimenta trilhar esse caminho, porém, acontece exatamente
o contrário. A felicidade a que tanto ansiamos inunda o caminhar, de tal forma
que já a alcançamos por antecipação. Numa palavra, o caminho do céu é um céu.
“Na
linha do horizonte, meus filhos, parecem unir-se o céu e a terra. Mas não: onde
de verdade se juntam é no coração, quando se vive santamente a vida diária”, diz
poeticamente São Josemaria.