segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Mundo Virtual X Mundo Real

Uma pesquisa realizada pelo Ibope/Nielsen, divulgada pelo Correio Popular na última sexta-feira, aponta o Brasil como o primeiro país do mundo no ranking de horas gastas em navegação na internet. O estudo revela que os 67,7 milhões de internautas brasileiros ficam em média 45 horas por mês na web, ou seja, cerca de uma hora e meia por dia. Ainda que a metodologia da pesquisa seja passível de questionamentos, é inegável – e podemos constatar no nosso dia-a-dia – que cada vez mais passamos parte considerável de nossas vidas no mundo virtual. Esse dado é algo a ser comemorado, ou, ao contrário, deve causar-nos preocupação?
É inquestionável que a internet nos proporciona recursos fantásticos que facilitam muito a vida de todos. A informação é transmitida em frações de segundos a qualquer parte do mundo. Não fosse a agilidade do correio eletrônico, esse artigo não chegaria na redação do jornal até o horário limite do fechamento, por exemplo.
Com a facilidade no envio da informação, as pessoas deveriam dispor de mais tempo. Anos atrás, a mensagem escrita deveria ser impressa, postada e teria de se aguardar dias ou semanas até que chegasse ao destinatário. Com as ferramentas da internet a transmissão dos dados passou a ser instantânea. No entanto, ao contrário do que se poderia supor, as pessoas hoje em dia dispõem de tempo muitíssimo mais escasso que antes.
A agilidade da informação não é o único ponto positivo da internet, mas também a sua acessibilidade. Sou da época em que os trabalhos escolares tinham como fonte quase que exclusiva as enciclopédias, caras e de acesso não muito simples. Hoje a informação buscada jorra fartamente na tela do computador, com gráficos, imagens e sons que facilitam o entendimento.
Mas penso que há, também, pontos negativos no excessivo apego ao mundo virtual: é que ele, mal utilizado, pode fomentar o individualismo. As ferramentas estão sempre ao nosso dispor, de modo que as podemos utilizar para a satisfação puramente pessoal. E mesmo nos chamados chats de relacionamento, aqueles com quem conversamos a distância são, frequentemente, pessoas em quem buscamos o mero entretenimento, mas pouco preocupados com o que sentem, pensam ou sofrem. São diálogos superficiais e pouco interessados nos sentimentos do outro. Além disso, são sempre passíveis de serem bloqueados ou deletados quando não atende a nossos anseios, frequentemente egoístas.
E também o excessivo tempo que se passa diante da internet pode ter consequências ruins, sobretudo para os jovens. E quem pensa assim é nada menos que o fundador da Microsoft. Em pronunciamento feito no Canadá, em 2007, Bill Gates confessou que controla o tempo de acesso dos filhos ao computador e à internet. Ele e sua esposa Melinda definiram um limite de 45 minutos por dia para jogos em dias úteis, e uma hora nos finais de semana, fora o tempo necessário para as tarefas de casa.
E não é muito difícil entender a razão disso. Todos nós, mas especialmente os jovens, necessitamos de conviver com os demais também no mundo real. Por muito úteis que sejam as ferramentas do mundo virtual, não podem elas roubar o saudável convívio familiar. Que triste é observar num restaurante uma mesa com o pai, a mãe e um único filho, cada um ligado no seu smatphone, como que hipnotizado e totalmente alheio ao que se passa com o outro que está diante de si.

Uma das mais gratas lembranças que trago na memória foi a alegria que pude observar num grande amigo, então gravemente enfermo, que ele experimentou por lhe ter enviado uma mensagem de estímulo pelo celular. Ela lhe serviu de grande alento para enfrentar a doença cruel que o afligia. É certo que veio a falecer pouco tempo depois, mas trago gravado na memória o abraço caloroso que me deu, no mundo bem real, em agradecimento àquele pequeno gesto, que no fundo não me custou nada. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário