Uma
pesquisa realizada pelo Ibope/Nielsen, divulgada pelo Correio Popular na última
sexta-feira, aponta o Brasil como o primeiro país do mundo no ranking de horas
gastas em navegação na internet. O
estudo revela que os 67,7 milhões de internautas brasileiros ficam em média 45
horas por mês na web, ou seja, cerca
de uma hora e meia por dia. Ainda que a metodologia da pesquisa seja passível
de questionamentos, é inegável – e podemos constatar no nosso dia-a-dia – que cada
vez mais passamos parte considerável de nossas vidas no mundo virtual. Esse
dado é algo a ser comemorado, ou, ao contrário, deve causar-nos preocupação?
É
inquestionável que a internet nos
proporciona recursos fantásticos que facilitam muito a vida de todos. A informação
é transmitida em frações de segundos a qualquer parte do mundo. Não fosse a
agilidade do correio eletrônico, esse artigo não chegaria na redação do jornal
até o horário limite do fechamento, por exemplo.
Com
a facilidade no envio da informação, as pessoas deveriam dispor de mais tempo.
Anos atrás, a mensagem escrita deveria ser impressa, postada e teria de se aguardar
dias ou semanas até que chegasse ao destinatário. Com as ferramentas da internet a transmissão dos dados passou
a ser instantânea. No entanto, ao contrário do que se poderia supor, as pessoas
hoje em dia dispõem de tempo muitíssimo mais escasso que antes.
A
agilidade da informação não é o único ponto positivo da internet, mas também a sua acessibilidade. Sou da época em que os
trabalhos escolares tinham como fonte quase que exclusiva as enciclopédias,
caras e de acesso não muito simples. Hoje a informação buscada jorra fartamente
na tela do computador, com gráficos, imagens e sons que facilitam o
entendimento.
Mas
penso que há, também, pontos negativos no excessivo apego ao mundo virtual: é
que ele, mal utilizado, pode fomentar o individualismo. As ferramentas estão
sempre ao nosso dispor, de modo que as podemos utilizar para a satisfação
puramente pessoal. E mesmo nos chamados chats
de relacionamento, aqueles com quem conversamos a distância são,
frequentemente, pessoas em quem buscamos o mero entretenimento, mas pouco
preocupados com o que sentem, pensam ou sofrem. São diálogos superficiais e
pouco interessados nos sentimentos do outro. Além disso, são sempre passíveis
de serem bloqueados ou deletados quando não atende a nossos anseios,
frequentemente egoístas.
E
também o excessivo tempo que se passa diante da internet pode ter consequências ruins, sobretudo para os jovens. E
quem pensa assim é nada menos que o fundador da Microsoft. Em pronunciamento
feito no Canadá, em 2007, Bill Gates confessou que controla o tempo de acesso
dos filhos ao computador e à internet.
Ele e sua esposa Melinda definiram um limite de 45 minutos por dia para jogos
em dias úteis, e uma hora nos finais de semana, fora o tempo necessário para as
tarefas de casa.
E
não é muito difícil entender a razão disso. Todos nós, mas especialmente os
jovens, necessitamos de conviver com os demais também no mundo real. Por muito
úteis que sejam as ferramentas do mundo virtual, não podem elas roubar o
saudável convívio familiar. Que triste é observar num restaurante uma mesa com
o pai, a mãe e um único filho, cada um ligado no seu smatphone, como que hipnotizado e totalmente alheio ao que se passa
com o outro que está diante de si.
Uma
das mais gratas lembranças que trago na memória foi a alegria que pude observar
num grande amigo, então gravemente enfermo, que ele experimentou por lhe ter
enviado uma mensagem de estímulo pelo celular. Ela lhe serviu de grande alento
para enfrentar a doença cruel que o afligia. É certo que veio a falecer pouco
tempo depois, mas trago gravado na memória o abraço caloroso que me deu, no
mundo bem real, em agradecimento àquele pequeno gesto, que no fundo não me
custou nada.
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