Ontem
foi dia dos pais. Boa oportunidade para meditarmos no que é ser pai em nosso tempo. Nossos
filhos dominam o mundo da informática com uma facilidade impressionante.
Ficamos atônitos com a rapidez com que aprendem a lidar com um novo celular, iPod Touch, iPad etc. E, se os deixarmos,
passam horas se relacionando com várias pessoas ao mesmo tempo na internet.
Tudo é novidade para nós, de tal modo que ficamos com a impressão de não
conseguir acompanhar tão intensas e bruscas mudanças.
Mas
o mais impressionante nisso tudo talvez sejam os novos valores que se cultuam
no mundo virtual. Num chat de
relacionamento vale mudar o nome, o sexo, a idade e até a própria identidade
para fingir ser o que não é. Será que a revolução da informática está a exigir
uma nova ética a orientar o comportamento humano totalmente diferente do que
conhecíamos até então?
Ser
pai, hoje como sempre, implica muitos desafios. A nossa dificuldade, porém,
está no ritmo frenético que as coisas mudam e acontecem. É que, ao vermo-nos
incapazes de acompanhar tais transformações corremos o risco de ficar alheios
às vidas dos nossos filhos, sentindo-nos impotentes para lhes transmitir os
valores que aprendemos. Pior ainda, duvidando mesmo que tais valores resistirão
a tudo isso.
Penso
que agora, mais que nunca, nós, pais, devemos aprender e ensinar o que é
essencial e o que é acidental no ser humano. Ao vermos como mudam a forma de
comunicação, os meios de transporte, os recursos da medicina, dentre outros, corremos
o risco de pensar que tudo é mutável, num mundo em constante evolução, mas
esquecermos que há algo de imutável no homem, na mulher, na família e na
sociedade.
Aquele
bebê que um dia contemplamos emocionados na maternidade não é uma espécie de
computador totalmente desprovido de sistema operacional a ser “autoformatado”.
Traz gravado na alma um forte anseio de amor, de justiça, de vida. Quer viver
num lar. Nasce com o direito de ter um pai e uma mãe que o amem e que se amem,
com isso demonstrando que foi concebido e veio ao mundo como fruto desse amor
puro e nobre, terno e sincero de um homem por uma mulher que se doaram um ao
outro incondicionalmente.
Não
temos o direito de chegar a casa, ao final de um dia, por mais estressante que
tenha sido, e nos esparramarmos no sofá, totalmente alheios ao que se passa com
nossos filhos. Também não podemos carregar o ambiente com uma nuvem cinzenta de
mau humor e cara amarrada. Nem muito menos distribuir frases azedas que no
fundo são consequência do próprio egoísmo que nos leva a pensar somente em nós
mesmos, em nossos problemas, esquecendo que não há alegria verdadeira sem
sacrifício pelos demais, especialmente por nossos filhos.
Conheço
um pai que, preocupado em dar uma boa formação aos filhos, percebeu que somente
conseguiria isso se estivesse alegre e de bom humor. Fez, então, o propósito de
depositar, simbolicamente, todos os problemas numa pequena árvore que tinha na
porta de entrada da casa, para somente pegá-los no dia seguinte e, assim, estar
todo atento à esposa e aos filhos. Além disso, antes de entrar, esboçava um
sorriso diante do retrovisor do carro. Após isso se sentia preparado para
aquele que seria o trabalho mais importante do seu dia. Acredito que em
propósitos bem simples e concretos como esse se encerra o segredo do sucesso na
paternidade em nosso tempo.
Ser
pai hoje é estar “estar por dentro do que rola no mundo da informática”. “Tipo
assim, sabe?” é entender de Twitter, msn,
blog, YouTube, mas ver em tudo isso mecanismos a serviço do ser humano. É
saber que hoje, como há dois mil anos atrás, o homem e a mulher são
essencialmente seres que buscam a felicidade e que essa brota num coração de
carne. Não é vendida em pen-drive nem
se pode fazer um download dela. Ao
contrário, conquistam-na numa vida bem vivida por amor ao próximo. E isso, hoje
como sempre, nossos filhos têm direito a aprender de nós, pais.
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