O incidente envolvendo o jovem jogador do Santos, Neymar, e o técnico do
clube tem ocupado lugar de destaque na mídia. A cena é lamentável: o rapaz quer
porque quer cobrar o pênalti e, diante da negativa, revolta-se, protesta,
xinga, chegando a voltar-se desrespeitosamente contra o próprio treinador. Mas
o que nos parece ainda pior é que ao se propor uma punição exemplar, é a cabeça
do próprio técnico que rola.
O que representa, para esse jogador, os outros dez companheiros que
vestem a mesma camisa? São amigos de uma mesma equipe, unidos por um objetivo
comum? Ou os outros jogadores são apenas personagens necessários – afinal um
time tem de ter 11 atletas em campo – para que se possa individualmente
brilhar? Em suma, busca-se o bem comum, sabe-se doar aos outros, ou o que
importa é apenas eu, eu, eu?...
Quando nos fazemos essas indagações, é possível que uma primeira
conclusão a que chegamos, talvez precipitadamente, é que os bastidores do mundo
do futebol, regados de milhares de milhões de dólares, são muito corrompidos.
Mas será que esse comportamento individualista é exclusivo dos meios
futebolísticos? Ou seria apenas como que uma ponta do iceberg de um problema crônico que assola a nossa sociedade?
Voltemo-nos agora para o que ocorre no dia-a-dia de uma empresa. Como são
as relações entre as pessoas? São, em geral, marcadas pela confiança, gentileza
e camaradagem? Sabe-se ensinar, ajudar e servir aos colegas? Ou, ao contrário,
há um constante receio de que o outro pode, a qualquer tempo, puxar o tapete e,
se os ensinamos a trabalhar bem, poderá galgar postos mais rápido que nós?
E outras tantas indagações semelhantes poderiam ser feitas quanto às
relações entre os funcionários públicos de uma repartição, na política...
Acontece que quando enxergamos naqueles com quem convivemos no trabalho,
na família e nas relações sociais não seres humanos, mas degraus a serem
escalados, fazemos muito mal a essas pessoas, disseminamos insegurança na
sociedade e encontramos apenas frustração e desolação.
Ninguém gosta de ser usado. E se é esse o nosso comportamento habitual em
relação aos demais, cedo ou tarde nos encontraremos imersos numa profunda
solidão. E o que é mais trágico é que muitas vezes não se enxerga esse
isolamento. É que, não raras vezes, se fica rodeado de falsos amigos, também
eles movidos exclusivamente por interesses, que fogem ao primeiro sinal de que
não mais se poderá tirar proveito daquela relação.
O individualismo causa uma terrível insegurança na sociedade. O egoísta
crônico, por pensar que todos também o são, não confia em ninguém. Sempre que
alguém se aproxima, logo se põe a elucubrar sobre quais seriam os interesses
que os move: será que quer o meu cargo? Quer o meu dinheiro? Com isso,
abandona-se a sinceridade e a pureza de coração, tal como as têm as crianças,
que são requisitos imprescindíveis para se encontrar, em qualquer ambiente, a
paz e a serenidade.
Por isso, o maior mal que o egoísta causa é a si próprio, pois não
consegue alcançar a tão sonhada felicidade.
Falando a milhares de estudantes do Reino Unido, o Papa Bento XVI os
motiva a pensar sobre como encontrar a felicidade: “Vivemos em uma cultura da
celebridade, e os jovens, muitas vezes, são incentivados a ter como modelo
figuras do mundo do esporte ou do espetáculo. Desejo fazer-vos esta pergunta:
Quais são as qualidades que vedes nos outros e que vós mesmos mais desejaríeis
possuir? Qual tipo de pessoa desejaríeis ser de verdade?”.
E depois expõe a eles, com toda clareza, o verdadeiro caminho: “A felicidade
é algo que todos desejamos, mas uma das grandes tragédias deste mundo é que
muitas pessoas nunca conseguem encontrá-la, porque a procuram nos lugares
errados. A solução é muito simples: a verdadeira felicidade é encontrada em
Deus. Precisamos ter a coragem de colocar as nossas esperanças mais profundas
somente em Deus: não no dinheiro, numa carreira, no sucesso mundano, ou nas
nossas relações com os outros, mas em Deus. Somente Ele pode satisfazer as
necessidades mais profundas do nosso coração.”