segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Usando bem o dinheiro

As pesquisas revelam que o brasileiro enfrenta o maior nível de endividamento da história. Não bastasse esse fenômeno, é frequente que as famílias experimentem o peso de um revés econômico, seja pela perda de um emprego, seja por um gasto extraordinário que se teve de fazer, seja mesmo por desordem de se gastar mais que se ganha. Nessas situações, muitos pais se vêem diante de um verdadeiro drama: como reduzir o padrão de vida? Devemos relatar essas dificuldades aos filhos? Como eles reagirão?
A educação é dinâmica como a vida é dinâmica. Todos os acontecimentos são oportunidades educativas imperdíveis. É um grande erro esconder a realidade dos filhos para poupar-lhes o sofrimento. É certo que as coisas devem ser ditas com prudência e de acordo com a capacidade de entendimento de cada idade. Soube de uma família que, diante de uma dificuldade, resolveu contar aos filhos que teriam de vender o carro e não mais seria possível ir semanalmente ao Mac Donald’s. Tomavam juntos o transporte público pela manhã e, aos finais de semana, a mãe preparava um delicioso piquenique com os parcos recursos de que dispunham. Passado o aperto, os filhos se recordam com saudade aqueles lanches que tomavam sentados na grama de um parque público.
Nesses momentos, é fundamental que os pais tenham a fortaleza de realizarem as ações necessárias. Há pouco um colega me contava o que lhe ocorreu numa audiência. Tratava-se de uma ação de cobrança de mensalidades escolares. Em meio às tentativas de um acordo, o pai admitiu que matriculou os filhos em determinada instituição particular sabendo que não conseguiria honrar os pagamentos, pois a sua empresa ia de mal a pior. E, indagado o motivo pelo qual fez isso, respondeu: “é que meus filhos estão tão acostumados com essa escola que não tive coragem de tirá-los...”. É inegável que se trata de uma decisão dolorosa. No entanto, a saída mais honrosa, ainda que custe muito e cause sofrimento aos filhos, são oportunidades que lhes proporcionamos para eles próprios adquirirem virtudes que lhes serão fundamentais, em especial para alcançarem a tão sonhada felicidade.
Um grande sábio costumava dar três conselhos preciosos quanto ao uso do dinheiro e dos bens materiais: não ter nada de supérfluo; não ter nada como próprio; não se queixar quando falta o necessário. E isso serve tanto para os que têm muito como para os que têm pouco.
Se ponderarmos bem, veremos como esses conselhos poderiam nos ajudar a descomplicar a vida. Quanta bugiganga “made in China” adquirimos para usarmos uma única vez e depois entulharmos em uma “gaveta da bagunça”! Talvez nos ajude fazermos a seguinte indagação antes de comprar qualquer coisa, de pequeno ou grande valor: será que isso é mesmo necessário? E, por vezes, saber aguardar um dia ou dois para avaliar melhor a real necessidade.
Não estamos nesta vida por acaso. Temos uma missão a desempenhar. Nesse sentido, os bens são simples meios – ainda que imprescindíveis – para atingirmos esse fim que nos cabe. Não são, portanto, algo a serviço do nosso capricho, mas instrumentos para levarmos a cabo a nossa missão, da qual dependem a felicidade própria e dos que nos cercam.
E o terceiro conselho é ainda mais sábio. Muitas pessoas parecem adiar os seus planos de vida e a própria felicidade para um futuro muito distante: “quando eu tiver uma casa...”, “quando eu for promovido...”, “quando ganhar um milhão de dólares, então...”. E enquanto não atingem tais metas, queixam-se dia e noite de que não se tem isso ou aquilo. Talvez se esqueçam, porém, que a felicidade pode ser encontrada em coisas bem mais simples e que não custam nada, como um passeio com uma criança no parque, ou passando meia hora a divertir um idoso ou um doente.

Conta-se que a madre Tereza de Calcutá uma vez foi observada por uma pessoa, que contemplou o beijo e afago que fazia em um doente de aspecto repugnante. Diante disso, esse homem comentou: “nem por todo dinheiro do mundo eu faria isso”. E a bondosa religiosa respondeu: “nem eu”. Por dinheiro, tampouco ela o faria.

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