As pesquisas revelam que o brasileiro enfrenta o
maior nível de endividamento da história. Não bastasse esse fenômeno, é
frequente que as famílias experimentem o peso de um revés econômico, seja pela
perda de um emprego, seja por um gasto extraordinário que se teve de fazer,
seja mesmo por desordem de se gastar mais que se ganha. Nessas situações,
muitos pais se vêem diante de um verdadeiro drama: como reduzir o padrão de
vida? Devemos relatar essas dificuldades aos filhos? Como eles reagirão?
A educação é dinâmica como a vida é dinâmica. Todos
os acontecimentos são oportunidades educativas imperdíveis. É um grande erro esconder
a realidade dos filhos para poupar-lhes o sofrimento. É certo que as coisas
devem ser ditas com prudência e de acordo com a capacidade de entendimento de
cada idade. Soube de uma família que, diante de uma dificuldade, resolveu
contar aos filhos que teriam de vender o carro e não mais seria possível ir
semanalmente ao Mac Donald’s. Tomavam juntos o transporte público pela manhã e,
aos finais de semana, a mãe preparava um delicioso piquenique com os parcos
recursos de que dispunham. Passado o aperto, os filhos se recordam com saudade
aqueles lanches que tomavam sentados na grama de um parque público.
Nesses momentos, é fundamental que os pais tenham a
fortaleza de realizarem as ações necessárias. Há pouco um colega me contava o
que lhe ocorreu numa audiência. Tratava-se de uma ação de cobrança de
mensalidades escolares. Em meio às tentativas de um acordo, o pai admitiu que
matriculou os filhos em determinada instituição particular sabendo que não
conseguiria honrar os pagamentos, pois a sua empresa ia de mal a pior. E,
indagado o motivo pelo qual fez isso, respondeu: “é que meus filhos estão tão
acostumados com essa escola que não tive coragem de tirá-los...”. É inegável
que se trata de uma decisão dolorosa. No entanto, a saída mais honrosa, ainda
que custe muito e cause sofrimento aos filhos, são oportunidades que lhes
proporcionamos para eles próprios adquirirem virtudes que lhes serão
fundamentais, em especial para alcançarem a tão sonhada felicidade.
Um grande sábio costumava dar três conselhos
preciosos quanto ao uso do dinheiro e dos bens materiais: não ter nada de supérfluo; não ter nada como próprio; não se queixar
quando falta o necessário. E isso serve tanto para os que têm muito como
para os que têm pouco.
Se ponderarmos bem, veremos como esses conselhos
poderiam nos ajudar a descomplicar a vida. Quanta bugiganga “made in China”
adquirimos para usarmos uma única vez e depois entulharmos em uma “gaveta da
bagunça”! Talvez nos ajude fazermos a seguinte indagação antes de comprar
qualquer coisa, de pequeno ou grande valor: será que isso é mesmo necessário?
E, por vezes, saber aguardar um dia ou dois para avaliar melhor a real
necessidade.
Não estamos nesta vida por acaso. Temos uma missão a
desempenhar. Nesse sentido, os bens são simples meios – ainda que
imprescindíveis – para atingirmos esse fim que nos cabe. Não são, portanto,
algo a serviço do nosso capricho, mas instrumentos para levarmos a cabo a nossa
missão, da qual dependem a felicidade própria e dos que nos cercam.
E o terceiro conselho é ainda mais sábio. Muitas
pessoas parecem adiar os seus planos de vida e a própria felicidade para um
futuro muito distante: “quando eu tiver uma casa...”, “quando eu for
promovido...”, “quando ganhar um milhão de dólares, então...”. E enquanto não
atingem tais metas, queixam-se dia e noite de que não se tem isso ou aquilo.
Talvez se esqueçam, porém, que a felicidade pode ser encontrada em coisas bem
mais simples e que não custam nada, como um passeio com uma criança no parque,
ou passando meia hora a divertir um idoso ou um doente.
Conta-se que a madre Tereza de Calcutá uma vez foi
observada por uma pessoa, que contemplou o beijo e afago que fazia em um doente
de aspecto repugnante. Diante disso, esse homem comentou: “nem por todo
dinheiro do mundo eu faria isso”. E a bondosa religiosa respondeu: “nem eu”.
Por dinheiro, tampouco ela o faria.
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